O caminhoneiro José Machado teve antecipada na quinta-feira uma consulta com oftalmologista agendada anteriormente para o dia 26 de dezembro. Ele e a mulher, Natalice Aleixo Santos, não enfrentaram fila. Exames foram feitos e o diagnóstico saiu em 2h30. “O médico disse que detectaram pterígio e catarata”, disse ela.
Machado protagonizou um quadro do programa de TV da campanha do candidato do PT à Prefeitura, Fernando Haddad, no qual dizia estar esperando por uma cirurgia de catarata por dois anos. Para contradizer o petista, a prefeitura levantou dados do prontuário médico de Machado e, após questionada, revelou datas de atendimento na rede e disse que ele, na verdade, sofria de pterígio – crescimento de tecido sobre a córnea.
A divulgação dos dados pela prefeitura pode caracterizar quebra de sigilo médico. Na quarta-feira, o PT protocolou notícia crime na Justiça Eleitoral para apurar o caso, além da acusação de uso da máquina pública na eleição. Foi pedido também a abertura de um inquérito civil ao Ministério Público Estadual (MPE) para investigação.
Na a quinta, participaram do atendimento o diretor técnico do hospital, Pedro Cardoso, o gerente administrativo do Instituto Cema (braço do hospital que atende pelo SUS), Edgar Escobar, e assessores de imprensa do Cema. O vereador Carlos Neder (PT), coordenador de planejamento de saúde de Haddad, também esteve lá, a convite da mulher de Machado.
Na quarta-feira, o prefeito Gilberto Kassab (PSD) questionou o depoimento de Machado e citou o fato de Natalice ser membro do conselho gestor da UBS Guaianases 1, unidade em que o caminhoneiro foi atendido. “Ela representa os trabalhadores lá; deveria ter boa orientação.”
Investigação – O Conselho Regional de Medicina do Estado de São Paulo (Cremesp) abriu uma sindicância para apurar o caso da abertura do sigilo médico do caminhoneiro José Machado pela prefeitura. Segundo o Cremesp, a instituição abre todos os dias entre dez e doze procedimentos para apurar casos em que pode ter havido uma infração ao código de ética médico.
Não há prazo para que as averiguações necessárias ocorram. As investigações se restringem a possíveis violações da ética médica, não dizem respeito à infração administrativa.
(Com Agência Estado)