O presidente do Supremo Tribunal Federal, Dias Toffoli, afirmou nesta quarta-feira, 30, que um Poder não pode retaliar o outro. “Jair Bolsonaro, Rodrigo Maia, David Alcolumbre, Dias Toffoli, Raquel Dodge, hoje Augusto Aras (…), são pessoas que têm que sentar juntas para enfrentar e, com o apoio das instituições e compreensão da sociedade, temos que avançar as pautas de desenvolvimento do país, sem retaliar um ao outro”, disse o ministro em palestra em evento do jornal O Estado de S. Paulo no Parque do Ibirapuera, na Zona Sul de São Paulo.
Enquanto discursava para uma plateia de empresários e agentes do mercado, Toffoli assistiu a um grupo de manifestantes que seguravam uma faixa com os dizeres “Hienas do STF”, do lado de fora do evento. A frase é uma referência ao vídeo publicado — e depois apagado — no Twitter oficial do presidente, que o compara a um leão acuado por hienas, que representavam o STF, a OAB, a ONU, o PSL, veículos de imprensa, entre outros.
Os manifestantes, em torno de trinta pessoas vestidas de verde e amarelo, ostentavam cartazes em defesa do ministro Sergio Moro e a favor da prisão a partir da segunda instância. Também gritavam palavras de ordem contra o Supremo e a mídia.
Apesar de os manifestantes estarem do lado de fora, era possível ouvir os gritos abafados de dentro da sala. Num dado momento, Toffoli chegou a dizer: “Se não gostou, pode criticar”. No momento em que o ministro deixou o local, uma parte do grupo bateu nos vidros do seu carro com cartazes. Uma outra parte do grupo hostilizou uma equipe da Rede Globo que cobria o evento.
Apesar de ter sido retirado da página do presidente, o vídeo provocou uma forte reação negativa, principalmente entre os ministros do Supremo. Celso de Mello escreveu que o “atrevimento presidencial parece não ter limites”, e Marco Aurélio sugeriu que o vídeo foi publicado como forma de desviar o foco das investigações contra o ex-assessor Fabricio Queiroz.
Cármen Lúcia, que também estava presente no evento de hoje, disse que não iria comentar o caso. Em sua palestra, a ministra lembrou que na sua gestão à frente do STF a questão da prisão antes do trânsito em julgado não foi pautada. Em seu discurso, Toffoli culpou a “cultura da litigância” como um problema do Judiciário, em que advogados ganham mais dinheiro à medida que conseguem arrastar os processos.