O presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP-AL), vem dando sinais trocados sobre a relação do governo com o Congresso. Enquanto deixa claro que não há uma base garantida para a votação de projetos prioritários e trava uma batalha sobre o rito da tramitação das medidas provisórias, o deputado alagoano se tornou um dos principais aliados do ministro da Fazenda, Fernando Haddad.
Partiu de Lira, por exemplo, a sugestão de que Haddad se reunisse com deputados antes de tornar públicas as diretrizes do novo arcabouço fiscal. O ministro esteve com parlamentares aliados e da oposição no final de março. Na sequência, reuniu-se com senadores e somente depois apresentou à imprensa a proposta que substituirá o teto de gastos.
Na avaliação de Lira, a medida seria um gesto ao Congresso e também a oportunidade de os congressistas “sabatinarem” o ministro da Fazenda, tirando as principais dúvidas sobre o texto. A medida, dizem, evitaria críticas antecipadas e feitas sem um profundo conhecimento da matéria. “Depois que um parlamentar fala mal sobre uma proposta, é difícil recuar”, explica um deputado que acompanha de perto as tratativas em torno do novo marco fiscal. Haddad ficou reunido com os parlamentares por cerca de quatro horas.
A aliados, Lira afirma ser grato ao apoio que o PT deu à sua reeleição no comando da Câmara e diz que tem a obrigação de apoiar medidas de equilíbrio das contas públicas. “O Arthur Lira quer ajudar”, resume um braço direito dele no Congresso. Outro fator pesa na parceria: Haddad vem sendo fustigado dentro do próprio partido por adotar uma posição mais equilibrada, enquanto medalhões da legenda, como a presidente Gleisi Hoffmann, defendem uma política fiscal mais expansionista.
A boa vontade também é revertida em benefícios ao próprio Lira. A matéria, que envolve diversos interesses e lobbies ao projetar uma economia de até 150 bilhões de reais, aproxima ainda mais o presidente da Câmara de setores influentes do mercado – nos últimos dias, empresários graúdos buscaram deputados em busca de entender o texto e defender as suas próprias causas.
Além disso, caberá ao presidente da Câmara indicar o relator da matéria, e Lira já acenou que será um deputado do seu partido e da sua mais estreita confiança – ou seja, absolutamente nada sairá sem o consentimento dele.