Em toda campanha eleitoral o candidato a presidente da República tem de mostrar virtudes capazes de convencer o eleitor, mas também se preparar para os inevitáveis contra-ataques dos adversários. Com o ex-ministro da Justiça e ex-juiz da Lava-Jato não será diferente. Sergio Moro, que vai se filiar ao Podemos na próxima quarta-feira 10, e anunciar no evento sua pré-candidatura ao Palácio do Planalto, já começou a ser orientado sobre como responder ao mais espinhoso dos temas que o atingem: o fato de o Supremo Tribunal Federal (STF) ter anulado sua sentença em que condenou o ex-presidente Lula por corrupção e lavagem de dinheiro.
O veredicto da Segunda Turma do STF, que em março declarou o ex-juiz suspeito e depois anulou os demais processos a que o petista respondia na Lava-Jato, permitiu que o ex-presidente recuperasse os direitos políticos e pudesse se candidatar em 2022. Para responder ao principal revés de sua carreira como magistrado, Moro tem ouvido de dirigentes do Podemos que a saída mais eficaz é explorar a alta rejeição que o brasileiro tem do Supremo e atribuir à Corte a responsabilidade por livrar da cadeia políticos condenados no petrolão, como o ex-presidente petista.
Às vésperas do ato de filiação do ex-magistrado, o staff dele contabilizava, como discurso político, quase noventa decisões judiciais em que diversos tribunais rejeitaram pedidos de Lula relacionados ao ex-juiz.
Pesquisas qualitativas do Podemos mostram que o ex-juiz não precisa explorar largamente os resultados da Lava-Jato como dividendo eleitoral, e sim se afastar da imagem de homem de uma nota só e tornar públicas propostas econômicas, políticas para minimizar gargalos sociais e críticas sobre o governo de que fez parte, incluindo a sucessão de erros de Bolsonaro no enfrentamento da pandemia. Não é tarefa fácil.
A sisudez de Moro, a inexperiência política e a aversão que desperta em todos aqueles que tiveram aliados dragados pelo petrolão são entraves para a formação inicial de alianças e palanques de apoio nos estados. Para driblar os primeiros obstáculos, políticos experientes, como o ex-governador do Espírito Santo Paulo Hartung e o senador Alvaro Dias, têm sido consultados para detectar e desarmar as armadilhas políticas contra o ex-juiz.