Assine VEJA por R$2,00/semana
Continua após publicidade

A primeira vez de Michael Bloomberg na favela

Prefeito de Nova York descobre no Chapéu Mangueira a novidade: estrangeiros e gente famosa não causam mais euforia no morro

Por Cecília Ritto Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO 19 jun 2012, 20h03

Madonna, Barack Obama, o príncipe Harry e artistas de cinema têm, nas favelas cariocas, atualmente, um programa quase tão obrigatório quanto a visita à praia. E os moradores sabem que, até o fim da Rio+20, serão mais algumas dezenas de visitas

Vieram dos prefeitos, até agora, as maiores surpresas da Rio+20. Se falta ousadia ao documento da conferência da ONU, sobrou coragem para o grupo presidido por Michael Bloomberg, de Nova York, o C40, assumir o compromisso de reduzir em um bilhão de toneladas as emissões de carbono em 59 das maiores cidades do mundo. Bloomberg, de 70 anos, fez uma visita rápida, porém intensa, à cidade-sede da Rio+20: tomou café-da-manhã às 7h com o colega Eduardo Paes, apresentou o desafio do C40 e, às 14h, já estava subindo o Chapéu Mangueira – morro que, da última vez em que o americano esteve na cidade, era controlado pelo tráfico de drogas.

A visita de Bloomberg incluiu ainda o Centro de Operações da Prefeitura, instalação que integra o projeto dos jogos de 2016 e tem clara inspiração nova-iorquina – cidade referência em monitoramento por câmeras e controle integrado de equipes de segurança e emergência. Apesar de unidos pelo desafio comum – de usar decisões locais, em grandes centros urbanos, para atingir um resultado global – as distâncias entre o Rio e Nova York são imensas, como ficou claro no tour carioca de Bloomberg.

Se nos Estados Unidos o desemprego e a crise financeira desafiam os governantes, no território de Eduardo Paes o problema é recuperar o tempo perdido em áreas onde o poder público estava ausente, ao mesmo tempo em que se administra uma classe emergente que começa a ter acesso a bens de consumo e quer comprar de tudo: automóveis, eletrodomésticos, expansão dos imóveis, mais consumo de energia, água…

Ciceroneado por Paes, o alcaide nova-iorquino não demonstrou grandes alterações de humor. Nem quando teve que usar os sapatos pouco adequados para caminhada no terreno íngreme da favela. O objetivo, ali, foi visitar o projeto Morar Carioca Verde, do executivo municipal. A ideia é urbanizar o morro de forma sustentável através da instalação de lâmpadas de led nas ruas, asfalto com adição de pneu triturado, coleta seletiva, aproveitamento da energia solar, reuso de água de chuva e a construção de prédios com a estrutura metálica reciclada. Antes da chegada de Bloomberg- o número 20 da lista de bilionários da Forbes, com fortuna calculada em 22 bilhões de dólares-, a favela, que recebe uma série de obras no valor de 43,4 milhões reais, ganhou uma guaribada especial.

Continua após a publicidade

Estupefação, mesmo, só quando viu, do alto do Chapéu Mangueira, a paisagem da Praia de Copacabana e do Leme – programa que ainda é novidade também para a maior parte dos cariocas.

Até a chegada da ocupação policial, a favela era o ponto problemático do Rio. A partir da mudança no cenário da segurança nas favelas da zona sul – a exceção, por enquanto, é a Rocinha, que apesar de ocupada continua enfrentando ataques de criminosos – deu-se o contrário. Pelo menos naquelas ocupadas com Unidades de Polícia Pacificadora (UPP). Há outras tantas onde a lei ainda é a do tráfico, como mostrou reportagem de VEJA sobre a região do Rio que foi ocupada pelos bandidos que fugiram do Complexo do Alemão.

O prefeito seguiu com Paes a um prédio que está sendo construído no Chapéu Mangueira. Dentro das estruturas que estão sendo erguidas, Bloomberg tentou ser simpático: deu um tchau para os moradores que o observavam. Sem qualquer resposta dos moradores, Paes tentou quebrar o gelo: “Dá um tchauzinho para ele. O que houve, estão tímidos?”, perguntou o prefeito do Rio, sem ter resposta para o aceno. A falta de empolgação, nesse caso, é que o morro ainda é novidade para o estrangeiro, mas gente famosa nem sempre é atração na favela. Madonna, Barack Obama, o príncipe Harry e artistas de cinema têm, nas favelas cariocas, atualmente, um programa quase tão obrigatório quanto a visita à praia. E os moradores sabem que, até o fim da Rio+20, serão mais algumas dezenas de visitas.

Bloomberg, apesar da sisudez, foi simpático ao final da visita à cidade. “Provavelmente tenho de 15 a 20 camisas de times brasileiros”, disse, tentando esboçar um sorriso, já no Centro de Operações, no centro da cidade. O interesse que o Rio tem na relação com Nova York, no momento, é mais de seriedade que de simpatia.

Continua após a publicidade

LEIA TAMBÉM:

Grupo C-40, composto por 59 grandes cidades, firma compromisso para adotar medidas locais de redução de emissões

Publicidade

Matéria exclusiva para assinantes. Faça seu login

Este usuário não possui direito de acesso neste conteúdo. Para mudar de conta, faça seu login

Domine o fato. Confie na fonte.

10 grandes marcas em uma única assinatura digital

MELHOR
OFERTA

Digital Completo
Digital Completo

Acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

a partir de R$ 2,00/semana*

ou
Impressa + Digital
Impressa + Digital

Receba Veja impressa e tenha acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

a partir de R$ 39,90/mês

*Acesso ilimitado ao site e edições digitais de todos os títulos Abril, ao acervo completo de Veja e Quatro Rodas e todas as edições dos últimos 7 anos de Claudia, Superinteressante, VC S/A, Você RH e Veja Saúde, incluindo edições especiais e históricas no app.
*Pagamento único anual de R$96, equivalente a R$2 por semana.

PARABÉNS! Você já pode ler essa matéria grátis.
Fechar

Não vá embora sem ler essa matéria!
Assista um anúncio e leia grátis
CLIQUE AQUI.