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Etiqueta digital: como falar com o robô do seu celular?

Junto com assistentes pessoais como o Siri, do iPhone 4S, surge um novo comportamento: a conversa em tom cibernético com o telefone. Há quem se incomode ao presenciar isso

Por Nick Wingfield, do The New York Times
11 dez 2011, 14h51

O som de alguém tagarelando num celular faz parte da trilha sonora da vida diária, e a maioria de nós aprendeu quando fazer silêncio. Porém, a etiqueta sobre falar com um celular – mais precisamente, com um “assistente virtual” como o Siri, da Apple, do novo iPhone 4S – ainda não evoluiu. Em parte, porque as conversas com máquinas têm um quê robótico e perturbador. Depois vem a questão da pontuação. Se você a quiser, é preciso dizê-la. “Como ele está ponto de interrogação como vai você ponto de interrogação”, Jeremy Littau, de Bethlehem, Pensilvânia, se viu falando recentemente com o novo iPhone enquanto caminhava na rua, ditando uma mensagem de texto para a esposa, que estava em casa com o filho recém-nascido. A máquina falava com ele com a voz feminina sintetizada do Siri. Os transeuntes faziam cara de besta.

A tecnologia por trás dos celulares ativados por voz existe há alguns anos, permitindo que as pessoas deem ordens ao telefone como se este fosse um faz-tudo digital, que escreve mensagens de texto, anota compromissos na agenda e busca um restaurante japonês nas redondezas. Com o Siri, porém, a Apple deu um passo além. “Feliz aniversário cara sorridente” foi o que Dani Klein escutou um homem falar ao seu telefone na ferrovia Long Island, usando o comando para inserir um emoticon de sorriso numa mensagem. “Pareceu ridículo”, disse Klein, 28 anos, que trabalha com marketing de mídia social.

Falar com o telefone é algo tão novo que ainda não existem regras oficiais de uso, por exemplo, nos sistemas de transporte público. Cliff Cole, porta-voz da Amtrak (estatal responsável pelo transporte ferroviário de passageiros nos Estados Unidos), afirmou que a política de vagão silencioso se aplicava ao uso da voz com celulares, embora somente proíba explicitamente “telefonemas”, não gracejos com um assistente virtual. “Talvez tenhamos de ajustar a linguagem se isso se transformar em problema.”

A tecnologia ativada por voz em smartphones surgiu há alguns anos, quando celulares rodando o sistema operacional Android, do Google, e outros programas começaram a oferecer comandos básicos de voz para pesquisar na internet e executar outras tarefas. O Siri, lançado pela Apple em outubro, é uma versão mais sofisticada dessa tecnologia. Ele responde a comandos e perguntas naturais do gênero “Como está o tempo?” e “Acorde-me às 8h00.” A Apple também deu ao Siri um toque de personalidade, reforçando a impressão de que os usuários do iPhone estavam mesmo conversando com alguém. Se perguntar ao Siri qual é o sentido da vida, ele responde: “Acho estranho você perguntar isso a um objeto inanimado”

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Outra coisa irritante ao ouvir pessoas conversando com os telefones é a consciência de que quase tudo que se pode fazer com comandos vocais também pode ser executado em silêncio. Billy Brooks, 43 anos, estava esperando na fila do departamento de serviços de uma revenda de automóveis em Los Angeles quando uma mulher quebrou o silêncio do recinto ditando uma mensagem de texto no iPhone. “Você aborrece os outros desnecessariamente nessa hora por não digitar seu torpedo”, declarou Brooks, artista de efeitos visuais da indústria cinematográfica, acrescentando que o comportamento da mulher era “completamente ridículo e meio triste”.

James E. Katz, diretor de Centro de Estudos de Comunicação Móvel da Universidade Rutgers, afirmou que as pessoas que empregam a voz para controlar os celulares criam um incômodo para os outros — o barulho — em vez de se livrarem de um incômodo pessoal — o desconforto de ter de digitar lentamente no teclado apertado de um celular. Katz comparou esse comportamento ao de alguém que deixa o motor do carro ligado enquanto está estacionado, produzindo ruído e fumaça para quem está ao redor.

Embora a Apple tenha tentado possibilitar conversas que soem naturais com o Siri, muitas vezes elas passam longe disso. Recentemente, Nirav Tolia, empreendedor da internet, estava descendo num elevador lotado no prédio onde trabalha em São Francisco quando um homem tentou usar o Siri para encontrar a nova localização de um café, o Coffee Bar. O telefone deu a ele listas de outras cafeterias – erradas – forçando-o a repetir a busca várias vezes. “Diga logo Starbucks, mano”, outro passageiro falou, deixando para trás a pessoa que procurava o Coffee Bar quando o elevador chegou ao térreo.

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Quando conversam com os celulares, muitas vezes as pessoas começam a soar como máquinas. Jimmy Wong, 24 anos, estava jantando após o expediente com amigos em Los Angeles quando se viram ao lado de um homem mandando o Siri escrever memorandos e ditando e-mails. Eles acharam “arrepiante” a voz do homem ao conversar com o telefone, sem qualquer uma das pausas naturais e inflexões de voz que ocorrem numa conversa entre duas pessoas. “Foi muito robótico.” Mesmo assim, o grupo não conseguia parar de bisbilhotar.

Os executivos do setor sustentam que as tecnologias de voz somente chegaram para ficar porque podem ajudam os usuários de celular a ser mais produtivos. “Não acho que o teclado vá sumir, mas será menos usado”, disse Martin Cooper, que desenvolveu o primeiro celular portátil enquanto trabalhava na Motorola na década de 1970.

Estudiosos do comportamento de usuários de celular acreditam que o constrangimento por escutar pessoas em hotéis, aeroportos e cafés tratando os telefones como assistentes vai passar com o tempo. “Veremos uma evolução da irritação inicial com isso para uma charge da New Yorker tirando sarro do comportamento e, depois de um tempo, o fato será aceito pela maioria das pessoas”, diz James Katz, da Rutgers. Todavia, ele fez uma previsão: “Haverá uma pequena minoria de tradicionalistas ansiando pelos bons e velhos tempos quando as pessoas apenas mandavam torpedos em público.”

Veja abaixo análise do editor de tecnologia do jornal The New York Times sobre o Siri, do iPhone 4S:

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