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Corrida por seguidores no Twitter inclui robôs e má-fé

Programadores inflam contas, prática que fere as normas do microblog

Por Rafael Sbarai
Atualizado em 5 jun 2024, 18h30 - Publicado em 6 fev 2011, 09h22

Uma das faces mais barulhentas do Twitter é o número de seguidores acumulados por um perfil. O dado se tornou um indicador de popularidade de uma conta e, por tabela, sugere sua influência no microblog. Não por acaso, a rede vem assistindo, há alguns anos, a disputas acirradas entre perfis que lutam para ultrapassar em primeiro lugar determinadas marcas. Foi o caso da disputa entre a CNN e Ashton Kutcher, em 2009, pelo primeiro milhão de fãs: o ator bateu a rede de notícias. Recentemente, o jogador Kaká superou Luciano Huck, como o brasileiro com mais seguidores – os números rondavam os 2,6 milhões. As disputas, contudo, nem sempre são sadias. No ímpeto de mostrar os números mais impressionantes, alguns usuários (há famosos suspeitos) caem na tentação de burlar as regras do jogo, recorrendo a “robôs”, códigos de programação que inflam artificialmente o número de seguidores. Tem gente que já foi banida por isso.

Um episódio recente envolveu uma campanha da montadora japonesa Nissan. A empresa lançara um concurso no Twitter que prometia entregar um automóvel ao primeiro usuário que conseguisse fazer com que o tweet (mensagem) a seguir fosse replicado por seus seguidores um determinado número de vezes: “Se eu conseguir 44.500 retweets com esse tweet ganho um carrão. https://www.nissan.com.br/queromeucarrao #queromeucarrão”. Aos desavisados pode parecer barbada. Quem acompanha o Twitter, contudo, sabe que arrancar quase 45.000 retweets de seus seguidores é um feito. Nem Lady Gaga, campeã na corrida de seguidores com mais de 7,6 milhões de fãs, é capaz disso. Em mensagens típicas, a cantora americana obtém em média 10.000 reenvios.

No caso da promoção do carro, porém, alguém conseguiu isso – e em uma única madrugada: o perfil @tca_oficial. Indignados, os demais participantes protestaram, alegando que o vencedor usara um software que invadia perfis de milhares de usuários do microblog, produzindo tweets sem a permissão deles. De fato, a análise da evolução do número de seguidores revela uma crescimento bastante incomum. Em um dia, foram arrebanhados 40.000 novos fãs. A situação fica ainda mais curiosa quando se compara o crescimento do perfil suspeito com o de uma conta típica, que ganha muitos seguidores ao dia mas cresce naturalmente. É o caso da conta mantida pelo piloto brasileiro Rubens Barrichello, uma das 35 mais populares do país, que angaria em torno de 1.000 novos seguidores ao dia. Confira a seguir: em cima, a evolução do perfil ganhador da promoção; embaixo, a conta de Barrichello.

Curva de seguidores no Twitter
Curva de seguidores no Twitter (VEJA)

Apesar das reclamações, a Nissan entendeu que a concorrência fora legal e manteve o resultado. “Analisamos cuidadosamente o regulamento e percebemos que não houve nenhuma violação ao concurso”, diz Carlos Murilo Moreno, diretor de marketing da empresa. O Twitter, contudo, não entendeu assim. Logo após a gritaria na rede, o perfil vencedor foi suspenso pela administração do microblog por violar regras do serviço, que não permite o uso de “seguidores agressivos”. A Nissan, por sua vez, criou nova promoção, em que um comitê acompanha a disputa. “Sete jurados avaliam a veracidade do perfil que alcançar o maior número de retweets”, diz Moreno.

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Programadores consultados pelo site de VEJA revelaram que a estratégia de multiplicar seguidores com a ajuda de “robôs” não é nova. No passado, correram pela rede boatos de que alguns perfis famosos teriam lançado mão de tal tática, caso do mantido pelo técnico da seleção brasileira, Mano Menezes. Ele nega. “Nunca utilizamos nenhum tipo de serviço com esse objetivo. O grande número de seguidores do perfil do Mano é consequência de um trabalho sério, aliado à paixão do povo brasileiro pelo futebol”, diz Camilla Menezes, filha do treinador e responsável pelo perfil no microblog.

Quem, por outro lado, se interessa pela estratégia nada ética pode se beneficiar dela com facilidade. No Brasil, ao menos cinco sites oferecem o serviço. Por cerca 10.000 reais, é possível adicionar 100.000 seguidores a uma conta em poucos dias. É o que promete, por exemplo, o Maisfollowers: “Caso queira ganhar entre 10.000 e 15.000 seguidores, o valor gira em torno de 1.500 reais.”

O serviço funciona da seguinte forma: o usuário fornece o login e senha de seu perfil para o programador, o que, na prática, significa transferir ao terceiro total controle sobre sua conta. A partir de códigos de programação, o programador faz com que o perfil se comporte de forma a atrair um número incomum de seguidores, o que pode incluir duplicar atualizações, enviar mensagens indesejadas e seguir novos perfis. O trabalho também inclui criar perfis falsos. “O usuário que contrata um serviço como este muitas vezes não sabe que está infringindo normas do microblog”, diz Alexandre Inagaki, consultor de mídias sociais.

A dificuldade em combater tais práticas está, muitas vezes, em comprovar que um perfil se beneficiou delas. Contudo, usuários e profissionais que utilizam a rede estão cada vez mais precavidos contra o expediente. Por exemplo: exibir um grande número de seguidores não é mais o único critério a ser considerado na hora de determinar quem é relevante na rede. “Hoje, é necessário levar em conta também o nível de engajamento, confiabilidade e interatividade do perfil”, afirma Inagaki. Isso pode ser feito por meio de serviços gratuitos como o TweetLevel e o Klout, sites que avaliam a atuação de uma conta no microblog. A ideia é dificultar a vida de quem usa a rede com má-fé.

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