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Testes de alergia podem produzir resultados enganosos

Por The New York Times
13 Maio 2010, 10h41

Muitas pessoas passam a vida se privando de comer iguarias à base de determinados alimentos por acreditarem que são alérgicas a eles. Um estudo encomendado pelo governo americano, porém, mostra que o número de pessoas realmente alérgicas é bem menor do que se pensa. Nos Estados Unidos, por exemplo, esse total chega a 8% nas crianças e a apenas 5% entre adultos � enquanto 30% da população do país diz sofrer de alergias alimentares.

Segundo um dos autores do estudo, o alergista e imunologista Marc Riedl, da Universidade da Califórnia, quase a metade dos pacientes que chegam ao seu consultório afirmando sofrer de alguma alergia alimentar não têm o problema. O alergista não descarta a gravidade de algumas respostas das pessoas aos alimentos. Mas diz:”Isso representa uma pequena porcentagem do que as pessoas chamam de ‘alergia a alimentos'”. Pessoas que tinham alergias alimentares na infância podem não tê-las na vida adulta. Ninguém sabe a origem do distúrbio. Nem por que às vezes as pessoas desenvolvem alergias alimentares quando adultos.

O novo estudo encontrou um campo cheio de pesquisas mal feitas, diagnósticos errados e testes que podem oferecer resultados enganosos. No relatório, Riedl e seus colegas analisaram todos os trabalhos que encontraram sobre alergia alimentar publicados entre janeiro de 1988 e setembro de 2009, mais de 12.000 artigos. No final, apenas 72 observaram critérios que incluíam dados suficientes para análise e utilização de testes mais rigorosos para as respostas alérgicas.

“Todo mundo tem uma definição diferente de uma alergia alimentar”, disse Jennifer J. Schneider Chafen, da Universidade Stanford, coordenadora do novo relatório. Por exemplo: as pessoas que recebem um diagnóstico depois de um dos dois testes mais comuns para detectar alergias – injetar uma minúscula quantidade do alimento que se pretende investigar após furar a pele com uma agulha – têm menos de 50% de chance de realmente serem alérgicas.

Uma maneira de se verificar a reação alérgica é com o chamado “desafio alimentar”, em que se oferece comida suspeita, disfarçada para que não se saiba se está ingerindo o alimento ou um placebo. Se houver reação a pessoa tem alergia. Na prática, a maioria dos médicos é relutante em usar os desafios alimentares, disse Riedl. Eles acreditam que o teste seja demorado e se preocupam ao pedir às pessoas para consumir um alimento, como o amendoim, que pode provocar uma resposta assustadora.

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O estudo, publicado Journal of American Medical Association, é parte de um grande projeto organizado pelo Instituto Nacional de Alergia e Doenças Infecciosas dos Estados Unidos para tentar impor ordem sobre o caos dos testes de alergia alimentar. Um painel de peritos irá fornecer orientações que definam as alergias alimentares e dar critérios para diagnosticar e tratar pacientes. Esperam ter uma primeira versão até o fim de junho.

“Fomos procurados, de certa maneira, como um intermediário honesto que poderia levar as partes a analisar esta questão,” disse o médico Matthew J. Fenton, que supervisiona o projeto de diretrizes para o Instituto de Alergia.

Os autores do novo relatório dizem que alguns conceitos antigos, como a ideia de que bebês amamentados têm menos alergias, ou que não devem comer determinados alimentos, como ovos, durante o primeiro ano de vida, têm poucas evidências que os comprovem. Parte da confusão é sobre o que é uma alergia alimentar e o que é uma intolerância alimentar, disse Fenton. Alergias envolvem o sistema imunológico, enquanto as intolerâncias geralmente não. Uma dor de cabeça por causa dos sulfitos no vinho, por exemplo, não é uma alergia alimentar. É uma intolerância. O mesmo vale para a intolerância à lactose, causada pela falta de uma enzima necessária para digerir o açúcar do leite.

Outras condições médicas podem fazer as pessoas pensarem que têm alergias a alimentos, segundo Fenton. Por exemplo, as pessoas às vezes interpretam os sintomas do refluxo gástrico após comerem um determinado alimento como alergia. O chefe do projeto de diretrizes, Joshua Boyce, professor de medicina em Harvard e alergista e pneumologista pediátrico, disse que um dos maiores equívocos de alguns médicos e pacientes é que um teste positivo de anticorpos IgE – o tipo associado a alergias – para um alimento significa necessariamente que a pessoa é alérgica. Não é sempre assim, disse ele.

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Durante o desenvolvimento, o sistema imunológico tende a reagir às proteínas de certos alimentos, produzindo anticorpos IgE. “Mas esses anticorpos podem ser transitórios e até mesmo sem consequências”, afirmou Boyce. “Há uma abundância de indivíduos com anticorpos IgE que não reagem a esses alimentos de maneira alguma.”

Quanto maior o nível de anticorpos IgE a um determinado alimento, maior a probabilidade de reação alérgica. Mesmo assim, os anticorpos não são certeza de uma reação grave, segundo Boyce. Anticorpos para alguns alimentos, como amendoim, são muito mais propensos a produzir reação do que os anticorpos para trigo, milho ou arroz. Ninguém sabe a razão.

O painel espera que seu relatório leve a novas pesquisas, além de esclarecer a definição e os testes para alergias alimentares. Mas, por ora, segundo Fenton, os médicos não devem usar o teste da picada na pele ou o teste de anticorpos como a única razão para diagnosticar seus pacientes com uma alergia alimentar. “Por si só não são suficientes,” disse.

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