Hospital da USP suspende atendimento de emergência
Falta de profissionais devido à greve por reajuste salarial coloca os pacientes em risco, afirma o diretor médico do hospital público, José Pinhata Otoch
O Hospital Universitário da Universidade de São Paulo (USP) informou neste sábado que não receberá mais pacientes levados pelo Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu), pelo Corpo de Bombeiros e pela polícia para atendimento de urgência e emergência. O motivo é a greve de funcionários da instituição pela falta de reajuste salarial. Desde a última semana, quando a direção promoveu descontos nos salários dos grevistas, o hospital passou a operar abaixo de sua capacidade mínima. Segundo o hospital, a continuidade dos serviços sem a quantidade necessária de profissionais coloca os pacientes “em risco”.
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De acordo com José Pinhata Otoch, diretor médico do hospital, os profissionais atenderão somente os pacientes que chegarem na porta do local. As consultas agendadas e cirurgias já estavam sendo canceladas. O HU já informou as autoridades de saúde municipais e estaduais para que novos pacientes em estado de urgência e emergência não sejam encaminhados para a unidade. “A greve começou há 60 dias e desde então os funcionários fazem uma escala mínima. Desde que a universidade tomou a decisão de descontar salários, o equilíbrio instável se tornou falta de equilíbrio. Não há mais segurança para atendimento”, disse Otoch.
Segundo o diretor médico, essa é a primeira paralisação do hospital em 30 anos de operação. Segundo informações divulgadas pelo HU neste sábado, 80% das 8.000 consultas agendadas para julho não foram realizadas e 320 cirurgias foram suspensas por conta da greve. A média de atendimento para o hospital é de 900 pessoas por dia. No período de pico dos casos de dengue na cidade, o número de paciente chegou a 1.500 pessoas por dia.
Escala – A escala mínima foi definida pelos próprios funcionários, segundo Otoch, o que impede o hospital de informar a média de profissionais que mantiveram o atendimento. “Não dá para saber, porque temos funcionários que batem o ponto e vão embora”, disse o diretor. Por outro lado, Claudionor Brandão, diretor do Sindicato dos trabalhadores da USP, afirma que a superintendência do hospital se negou a participar do planejamento, o que levou os funcionários a estabelecerem sua própria escala.
“É uma escala flexível, que depende da demanda de atendimento. Os funcionários vão até o hospital e ficam paralisados na porta. Se a demanda aumenta e são necessários mais profissionais, eles entram no prédio para fazer o atendimento.” Para Brandão, o atendimento de emergência poderia continuar, se a direção remanejasse os funcionários. “Há setores em que só uma pessoa aderiu à greve, então dá para deslocar os funcionários para os setores que mais precisam. Eles se recusam a fazer esse remanejamento.”
Desconto no salário – Segundo o diretor do sindicato, houve cortes de 50% a 100% nos salários de funcionários de diversos setores do hospital. Ele afirma que folhas de frequência foram “fraudadas por chefias”. Na próxima quarta-feira, funcionários e professores têm uma reunião para negociar com a reitoria da USP. Segundo o sindicato da categoria, os funcionários do hospital podem manter a escala mínima, caso os valores descontados dos salários não sejam pagos.
Professores e funcionários das Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), Universidade Estadual Paulista (Unesp) e USP entraram em greve em 27 de maio em protesto contra a decisão dos reitores de não reajustar os salários. Os trabalhadores solicitam reajuste de 9,78%. No início de agosto, os professores da Unicamp decidiram suspender a greve e vão voltar a discutir o reajuste salarial dos funcionários em setembro.
(Com Estadão Conteúdo)