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Papa Francisco, o diplomata

Ciente de seu poder e influência como líder global, o pontífice destacou-se como figura central na restauração das relações entre EUA e Cuba

Por Diego Braga Norte 20 dez 2014, 16h45

A atuação da Igreja em debates internacionais não é novidade e historicamente os papas têm agido para influenciar determinados temas e situações globais. João Paulo II, por exemplo, era uma voz poderosa a clamar por liberdade e ajudou a acelerar a derrota do comunismo soviético. No caso do papa Francisco, porém, chama a atenção a velocidade com que suas iniciativas têm alcançado sucesso. Ocupando o Trono de São Pedro há menos de dois anos, Francisco já mostrou que sabe muito bem utilizar sua autoridade moral para colocar em pauta vários temas. E, nesta semana, suas ações alcançaram um patamar histórico com a revelação de que ele intermediou o processo que culminou na histórica reaproximação entre Estados Unidos e Cuba.

Para a professora Shireen Hunter, especialista em política e religião da Universidade de Georgetown, “os papas gozam de uma credibilidade espiritual e algumas vezes seus esforços podem ser mais eficazes do que os de políticos seculares”. Para ela, Francisco tem plena consciência de seu poder como líder religioso de um rebanho de mais de 1,2 bilhão de pessoas e usa sua autoridade na diplomacia com “delicadeza e muita perspicácia”. No caso específico de Cuba – explica a professora -, o papa foi sábio ao porta-se “não como um negociador no mesmo patamar que os demais atores envolvidos, mas simplesmente usando a sua influência, especialmente com os cubanos, para facilitar os diálogos”.

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Cartas do papa Francisco abriram caminho para acordo entre EUA e Cuba

O ‘papa diplomata’ enviou cartas pessoais para Barack Obama e para o ditador cubano Raúl Castro oferecendo o Vaticano como um território neutro para negociações. As reuniões, algumas públicas e outras em sigilo absoluto, prosperaram. Na última quarta-feira, o presidente americano Barack Obama e ditador cubano Raúl Castro agradeceram publicamente os esforços de Francisco para a restauração das relações diplomáticas.

No dia seguinte ao anúncio da mudança nas relações entre Cuba e Estados Unidos, o sumo pontífice falou para um grupo de novos embaixadores para a Santa Sé, destacando que a diplomacia é um trabalho desenvolvido “em pequenos passos”. “O trabalho de um embaixador é uma tarefa de pequenos passos, pequenas coisas, mas elas sempre terminam trazendo paz, aproximando dos corações das pessoas, semeando a fraternidade entre os povos”, disse. “Seu trabalho é nobre, muito nobre”.

“Há elementos de Francisco que são semelhantes aos de João Paulo II”, disse ao jornal The New York Times Francis Campbell, ex-embaixador britânico para a Santa Sé, acrescentando que Francisco abraçou a autoridade do papado. “O papado é um dos maiores formadores de opinião do mundo. Se as pessoas concordam ou não com o que é dito, não deixa de ser uma grande voz”.

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Se João Paulo II, o primeiro papa polonês, teve credibilidade única como voz contrária ao comunismo no Leste Europeu, Francisco, o primeiro papa de origem latino-americana, agora se beneficia de sua credibilidade única na região. Reforçando essa característica, o pontífice cercou-se de especialistas na região. O secretário de Estado Pietro Parolin foi núncio na Venezuela, enquanto dois facilitadores das conversas entre EUA e Cuba também já haviam sido representantes diplomáticos em Havana: o vice-secretário de Estado, arcebispo Giovanni Angelo Becciu, e o subsecretário de Relações Exteriores, monsenhor Antoine Camillieri.

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Mas a agenda diplomática comum do Vaticano e dos Estados Unidos vai além de Cuba. O pontífice e o presidente Obama também já conversaram sobre o futuro da prisão de Guantánamo, a crise no leste da Ucrânia, a situação política na Venezuela e na Turquia, e os trágicos conflitos no Oriente Médio. Alinhados com os dois chefes de Estado, os respectivos responsáveis pela diplomacia dos EUA e do Vaticano, o americano John Kerry e o italiano Pietro Parolin, também mantêm conversas periódicas e trabalham em conjunto em situações mais urgentes.

E o sumo pontífice já tinha dado mostras de sua habilidade diplomática em situações como o encontro reunindo o presidente israelense Shimon Peres e o presidente da Autoridade Nacional Palestina Mahmoud Abbas, ou em sua viagem à Ásia – que foi precedida de uma carta ao governo da China, país que estava fora do roteiro, estendendo a mão para a construção de um diálogo. Com tantos conflitos e desentendimentos espalhados pelo mundo, a diplomacia papal terá muito trabalho pela frente.

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