Para Israel, ataque a Gaza foi teste para confronto com Irã
Sistema ‘Iron Dome’ teria sido usado para treinar a interceptação de projéteis, conhecer melhor os tipos de armamentos dos inimigos e intimidar terroristas
Durante o conflito entre Israel e o grupo Hamas na Faixa de Gaza – que durou oito dias, antes do cessar-fogo acordado entre as partes na última quarta-feira -, o Exército israelense pode ter alcançado um outro objetivo, além de revidar os ataques terroristas vindos do território palestino. Segundo uma reportagem publicada pelo jornal The New York Times, autoridades americanas e israelenses também viram na ofensiva contra Gaza uma espécie de treino para um eventual futuro confronto armado com o Irã.
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A preocupação maior do premiê Benjamin Netanyahu e do presidente americano, Barack Obama, seria o Irã. Mesmo discordando em relação a tática, ambos consideram que não há muito tempo para resolver o impasse sobre o programa nuclear iraniano. Um ponto que exige atenção é combater a possibilidade de o Irã enviar uma próxima geração de mísseis para a Faixa de Gaza ou o Líbano, de onde poderiam ser lançados contra Israel pelo Hamas, Hezbollah ou pela Jihad Islâmica. Leia a íntegra em inglês.
Michael Oren, embaixador israelense para os Estados Unidos e historiador militar, chegou a comparar a inserção de mísseis iranianos em Gaza com a crise dos mísseis cubanos. “Durante a crise dos mísseis em Cuba, os EUA na verdade não estavam enfrentando Cuba em si, mas a União Soviética”, diz Oren. “E, na operação ‘Pilar de Defesa’, Israel não estava confrontando Gaza, mas o Irã.”
O New York Times considera a analogia um tanto imprecisa, pois o que a União Soviética posicionou em Cuba há 50 anos era um arsenal nuclear. Em Gaza, os foguetes e armas que vêm do Irã são convencionais e, como os israelenses puderam comprovar, ainda têm problemas significativos de precisão. Mas, por outro lado, a comparação é válida, já que Israel também usou a disputa em Gaza para saber mais sobre as capacidades do Hamas e da Jihad Islâmica – grupos que têm laços fortes com o Irã -, além de tentar interromper as ligações entre eles.
A defesa aérea dos EUA chegou a afirmar que os militares americanos e israelenses estavam “aprendendo muito” ao longo da campanha de Israel em Gaza, e que ela pode contribuir para a eficácia dos sistemas de defesa. A reportagem do New York Times pondera, no entanto, que um conflito com o Irã – no caso de um último esforço diplomático para reiniciar as negociações com o país de fato falhar – seria um tanto diferente do que o que acaba de ocorrer em Gaza. Especialmente porque o Irã poderia utilizar mísseis de maior alcance, inclusive o Shahab-3, que as inteligências de Israel e EUA acreditam que um dia poderá ser equipado com uma arma nuclear, caso o Irã consiga desenvolver uma e reduzi-la a um tamanho que possa ser encaixado ao projétil.
No momento, o objetivo – e o desafio – de Israel é associar os sistemas de radar e interceptação de mísseis de curto, médio e longo alcance, a fim de atuar contra os mais diferentes tipos de ameaças que poderão surgir num próximo conflito. Atualmente, o “Iron Dome” ainda tem alguns limites técnicos. O sistema possui cinco baterias de interceptação de foguetes – cada uma custou cerca de 50 milhões de dólares -, e o país quer dobrar esse número. Nos últimos dois anos fiscais, os Estados Unidos doaram cerca de 275 milhões de dólares para o “Iron Dome”.