A modelo britânica Naomi Campbell confirmou nesta quinta-feira, em depoimento no Tribunal Especial de Haia para a Serra Leoa, ter recebido diamantes que supôs terem sido um presente do ex-presidente da Libéria, Charles Taylor, acusado na corte de Haia por crimes de guerra.
Naomi disse em seu depoimento que os diamantes foram entregues a ela em 1997, após um jantar na casa do então presidente da África do Sul, Nelson Mandela. Segundo a modelo, ela dormia quando dois homens bateram à porta de seu quarto. Ela atendeu e eles entregaram a ela uma bolsinha, dizendo que se tratava de um presente – nenhum dos dois se identificou ou disse em nome de quem estavam lá.
Na manhã seguinte, contou a modelo, ela abriu o saquinho e encontrou “pedrinhas muito pequenas e sujas”. Quando, no café da manhã, Naomi contou o que havia acontecido a Carole White, sua agente à época, e a atriz Mia Farrow, uma delas disse que “aquilo obviamente era um presente de Charles Taylor”. Naomi afirmou que não se lembrava qual das duas havia dito a frase.
Ainda segundo a modelo, o jantar na casa de Mandela foi a primeira e única vez em que viu Taylor pessoalmente. Ela afirmou que, antes disso, nunca ouvira falar nem no presidente nem mesmo na Libéria.
O caso – Em maio passado, a promotoria pediu que Naomi fosse intimada a depor porque é considerada uma testemunha-chave no processo – ela, afinal, poderia ligar Taylor aos chamados “diamantes de sangue”, extraídos de zonas de guerra. O pedido foi feito após a atriz Mia Farrow escrever ao tribunal de Haia para contar a conversa que teve com Naomi no café da manhã.
Segundo a promotoria, Taylor viajou em setembro daquele ano à África do Sul para vender ou trocar por armas diamantes recebidos de rebeldes de Serra Leoa.
Taylor é suspeito de ter liderado os rebeldes da Frente Revolucionária Unida (RUF) de Serra Leoa, abastecendo-os com armas e munições em troca de diamantes, durante a guerra civil naquele país, de 1991 a 2001.
A acusação acredita que as evidências de Naomi, que em outras oportunidades se negou a falar com a promotoria sobre o suposto presente, darão suporte à alegação de que Taylor tem acesso a diamantes brutos, uma alegação que ele tem negado.
O réu – O ex-presidente da Libéria, de 62 anos, é acusado de 11 crimes de guerra e crimes contra a humanidade. Ele alega inocência das acusações de assassinato, estupro, recrutamento de meninos soldados, escravidão e saques.
A Frente Revolucionária Unida é acusada de mutilar centenas de civis, que tiveram suas mãos e braços decepados em uma das guerras mais brutais da história moderna, que matou cerca de 120.000 pessoas.