Japão: premiê forma governo com aliados e ataca deflação
Shinzo Abe, sétimo no cargo em seis anos, promete um país mais próspero
Poucas horas após sua nomeação no Parlamento, o novo primeiro-ministro japonês, Shinzo Abe, anunciou um gabinete com aliados próximos, dando início à sua segunda administração com o compromisso de combater a deflação e lidar com o desafio de uma China em ascensão. Abe prometeu um afrouxamento monetário agressivo pelo Banco do Japão e uma despesa fiscal grande pelo governo endividado, a fim de atacar a queda de preços e enfraquecer o iene, tornando as exportações japonesas mais competitivas. O premiê ainda deve ser confirmado formalmente no cargo pelo imperador Akihito.
Abe, o sétimo primeiro-ministro do Japão em seis anos, organizou um retorno impressionante, cinco anos depois de ele próprio renunciar ao cargo, de forma abrupta, em um ano conturbado – em parte por escândalos em seu gabinete. “Quero aprender com a experiência do meu governo anterior, incluindo os contratempos, e buscar um governo estável”, disse Abe antes de ser oficialmente eleito. A votação foi uma formalidade após o Partido Liberal Democrático (PLD) voltar ao poder, três anos depois de uma derrota esmagadora para o Partido Democrático do Japão.
Para seu gabinete, Abe indicou vários aliados próximos – e apenas alguns rivais, para se defender de críticas de favoritismo que persistiam em sua primeira administração. Ele apontou o ex-primeiro-ministro Taro Aso, de 72 anos, ministro das Finanças, que também recebeu o portfólio de serviços financeiros. O ex-ministro de Comércio e Indústria Akira Amari agora é ministro da Recuperação Econômica, enquanto o veterano político Toshimitsu Motegi assume como ministro do Comércio. Motegi também deve receber a tarefa de formular políticas energéticas, após as consequências do desastre nuclear de Fukushima, no ano passado.
O leal apoiador Yoshihide Suga foi indicado secretário-chefe do gabinete, um cargo essencial que engloba o papel de porta-voz do governo com a responsabilidade de coordenação entre os ministérios. Outros que compartilham da agenda de Abe para revisar a Constituição pacifista e reescrever o histórico de guerras do Japão com um tom menos apologético também receberam cargos, incluindo o senador conservador Hakubun Shimomura, como ministro da Educação. “Estas são pessoas realmente da ala direita do PLD e amigos próximos de Abe”, afirmou o professor da Sophia University, Koichi Nakano.
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Promessas – Shinzo Abe se apresenta como a mão providencial capaz de tirar o arquipélago de sua recessão econômica e de lhe dar vigor no cenário internacional. Aos 58 anos, o homem que já foi chefe de governo entre 2006 e 2007 recupera o comando do país depois de uma passagem pela oposição e com um novo credo: “Construir um Japão forte, próspero, onde as pessoas possam se sentir felizes por serem japonesas”. Ele resume assim sua fórmula: “Reconstrução + reativação econômica + reforma da educação + recuperação da diplomacia + retorno da segurança = um novo Japão.”
Neto de um primeiro-ministro e filho de um ministro das Relações Exteriores, Abe retorna quando o país atravessa uma recessão econômica e uma fase de tensão com seus vizinhos chineses, coreanos e russos. No setor econômico, o novo chefe do Executivo quer fazer com que o Banco Central promova a desvalorização do iene, cuja força nos últimos anos castigou as exportações, e combata a deflação, um fenômeno de queda prolongada dos preços que inibe o consumo e o investimento. Nos círculos empresariais, Abe é visto como um líder que defenderá a autonomia energética do Japão, embora isso o leve a tomar decisões impopulares, como a reativação de reatores nucleares.
Na diplomacia, o político, que ganhou sua reputação pela firmeza em relação à Coreia do Norte, afirma agora que não cederá um milímetro na questão das ilhas do mar da China Oriental, administradas pelo Japão sob o nome de Senkaku, mas reivindicadas por Pequim, que as chama de Diaoyu. Há seis anos, quando sucedeu à frente do governo o extrovertido Junichiro Koizumi (2001-2006), se tornou o primeiro-ministro mais jovem desde a II Guerra Mundial e o primeiro nascido depois da disputa, que terminou com a derrota do Japão. Apesar disso, seu primeiro mandato foi manchado por uma série de escândalos e por seus problemas de saúde.
Depois de três anos na oposição, Abe, que afirma estar revigorado, diz que corrigirá os erros do Partido Democrático do Japão, a quem acusa de ter minado a confiança do povo no poder político. Uma das obsessões desse político – considerado muito à direita – é revisar a Constituição pacifista redigida e imposta em 1947 pelos Estados Unidos, ao considerar que não está mais adaptada à situação mundial atual. O novo primeiro-ministro prometeu nesse sentido mudar o nome das “Forças de Autodefesa” para “Exército de Defesa Nacional”.
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(Com agências Reuters e France-Presse)