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Imagens do Afeganistão em guerra – hoje e no século XIX

Um fotógrafo britânico recupera as primeiras fotos feitas em solo afegão e refaz os passos do pioneiro John Burke, retratando a guerra e a vida nas ruas do país

Por Giancarlo Lepiani, de Londres
18 jun 2011, 00h00

“A tentativa de seguir os passos de John Burke era como procurar um homem entre as sombras”, afirma Norfolk, seu parceiro involuntário

Nos últimos dez anos, o Afeganistão foi o cenário e o protagonista de dezenas de milhares de imagens que contam a história de uma terra banhada em sangue e retalhada pela violência. E os fotógrafos que cobrem a campanha militar ocidental contra o Talibã desde o fim de 2001 não foram os primeiros a capturar essas cenas funestas. As primeiras fotos feitas no país já eram de tempos de conflito – o que, num lugar onde a guerra é a rotina, não é de se estranhar. O pioneiro nesses registros foi um irlandês, John Burke (1843-1900), que deixou como herança um fantástico arquivo da Segunda Guerra Anglo-Afegã (1878-1880). Quase desconhecido até pouco tempo atrás, ele agora tem seu trabalho recuperado. Mais de um século depois de morto, Burke estrela uma exposição conjunta com outro fotógrafo que retratou o Afeganistão – também em guerra e também em ruínas, mas 140 anos depois.

As imagens deixadas por Burke e as cenas registradas por seu colaborador involuntário, o britânico Simon Norfolk, no ano passado, numa expedição ao país, se juntam na mostra Burke + Norfolk: Fotografias da Guerra no Afeganistão, em cartaz no museu Tate Modern, em Londres. Além de resgatar a obra de John Burke, Norfolk repete a jornada do antecessor pelo território afegão. O pano de fundo mudou, os personagens também. Mas as narrativas que as imagens dos dois fotógrafos compõem é a mesma: uma interminável cronologia de confronto, destruição e desolação. Norfolk chegou a ensaiar uma tentativa de refazer as imagens de Burke, fotografando os mesmos lugares que o irlandês retratou. Não conseguiu: o relevo do país foi tão transformado pela chuva de bombas que isso seria praticamente impossível, mesmo com o uso da tecnologia (assista às cenas no vídeo abaixo).

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Ao invés de insistir em fotografar os mesmos lugares que Burke, Norfolk decidiu buscar imagens equivalentes no Afeganistão contemporâneo. Clicou personagens locais, diplomatas britânicos, paisagens e sítios arqueológicos – assim como o fotógrafo que o inspirou a embarcar na missão já tinha feito quase um século e meio antes. Apesar da discurseira chata que adotou para justificar a decisão de levar adiante o projeto – fala repetidamente no “imperialismo” de que os afegãos são vítimas e não para de repetir frases feitas sobre a estupidez da guerra e a necessidade de denunciá-la -, Norfolk, de 48 anos, trouxe da viagem um material precioso, que inclui desde imagens impressionantes da máquina militar montada em Camp Leatherneck (a base expedicionária americana instalada na província de Helmand) até retratos melancólicos do cotidiano da capital Cabul.

Para conseguir registrar essas cenas, o fotógrafo britânico dispensou o aparato de segurança que costuma ser usado por correspondentes estrangeiros que vão ao Afeganistão. Saiu perambulando por Cabul acompanhado apenas por um motorista, que servia também de tradutor e assistente. A parte mais desafiadora de seu trabalho, contudo, foi mesmo a tentativa de reeditar a viagem de Burke pelo inóspito território afegão. “Quanto mais eu pesquisava, mais dúvidas surgiam. A tentativa de seguir seus passos era como procurar um homem entre as sombras”, compara. “Burke não deixou anotações ou diários. Não há nenhum retrato conhecido dele. E tudo o que sobrou foram seus maravilhosos álbuns de fotos.” Acompanhadas das imagens feitas pelo próprio Norfolk em 2010, elas desenham um quadro quase surreal do país – um lamaçal coberto por destroços, sem ilusões nem futuro.

Burke + Norfolk: Fotografias da Guerra no Afeganistão. Tate Modern. Bankside, SE1, Londres. Entrada gratuita. Das 10 horas às 18 horas (domingos às quintas) e das 10 horas às 22 horas (sextas e sábados). Em cartaz até 10 de julho. www.tate.org.uk/modern/.

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