Polícia do Rio encontra indício de prática danosa ao consumidor na venda de ingressos para o UFC Rio
Operação da Delegacia do Consumidor na empresa que tem exclusividade para venda de entradas para o evento resulta em apreensão de material suspeito
A Polícia Civil do Rio descobriu indícios de prática abusiva na venda de ingressos para o UFC, no Rio de Janeiro. Na manhã desta quinta-feira, policiais da Delegacia do Consumidor (Decon) cumpriram mandados de busca e apreensão no escritório da agência de viagens esportivas 4BTS, que possui exclusividade na venda de pacotes turísticos com ingressos para o evento de MMA (Artes Marciais Mistas, na sigla em inglês), que acontece no próximo dia 27.
Os agentes apreenderam no estabelecimento, na Barra da Tijuca, quatro PCs, um notebook e mais de 1.000 envelopes de ingresso. O material foi apresentado nesta tarde, na sede da Decon, na Gávea, zona sul do Rio. A diligência foi fruto de uma requisição da promotora Claudia Canto Condack, do Ministério Público do Estado do Rio de Janeiro (MPRJ), que pediu a abertura de um inquérito policial para apurar supostas irregularidades na venda de ingressos para o evento. A acusação é de que a agência pratica venda casada, ao não permitir que os clientes adquiram o ingresso sem comprar o restante do pacote, que ainda inclui hospedagem, transporte e até, em alguns casos, sessões de bate-papo com atletas.
“O crime de venda casada se configura porque não havia a possibilidade de comprar apenas o ingresso. Também era preciso adquirir a hospedagem, por exemplo. Também será averiguado se houve formação de cartel e aumento artificial do preço, já que com os pacotes o valor até triplicava”, afirmou a delegada Patrícia de Paiva Aguiar, titular da Decon. “O ideal é que esses ingressos sejam recolocados à venda para o público”, concluiu.
Os organizadores podem responder por venda casada e crime contra a economia popular, cujas as penas, em ambos os casos, variam de dois a cinco anos ou pagamento de multa.
Segundo a delegada, a empresa Ticket Fest Show também será convocada a dar explicações por vender ingressos para o evento num site na internet.
Histórico – Os ingressos para o UFC Rio foram postos à venda em julho, através do site Ingresso.com, e esgotaram em menos de duas horas, o que deixou milhares de fãs frustrados. Em sua defesa, a organização do evento alega que já havia assinado um Termo de Ajustamento de Conduta (TAC) com o MPRJ, onde estariam previstas cotas de ingresso para patrocinadores, agência de viagem e o público em geral.
Defesa da empresa – Já a 4BTS, agência responsável pela venda dos pacotes, divulgou um comunicado no qual se diz surpresa com a visita do polícia e argumenta que a prática é corriqueira em outros países:
“A 4BTS preparou pacotes turísticos para clientes de todo o Brasil e do mundo para receber turistas com toda a qualidade e excelência, colocando a cidade do Rio de Janeiro nos mesmos patamares de infra-estrutura de cidades que recebem estes eventos pelo mundo. Foi com surpresa e indignação que recebemos a visita da Polícia Civil hoje em nossa sede (…). A 4BTS segue todos os procedimentos técnicos e legais praticados pelas empresas de turismo de todo o mundo, qual seja, a de que é necessário oferecer aos turistas pacotes de serviços de hotéis e transportes com o oferecimento de ingressos. É importante esclarecer que do montante geral dos ingressos colocados à venda pelos organizadores, menos de 10% foram destinados aos turistas que adquiriram os pacotes de nossa empresa”, diz um trecho da nota.
O texto prossegue argumentando que a prática encontra respaldo legal e chama a atenção para a crição de um ambiente de incerteza jurídica às vésperas dos grandes eventos esportivos que o Rio de Janeiro receberá nos próximos anos.
“Existe jurisprudência que demonstra claramente que a comercialização de pacotes turísticos esportivos para aqueles que desejam vir assistir a tais eventos não é ‘venda casada’. Se não houvesse este tipo de serviço para turistas, poderia haver o estímulo ao câmbio negro de ingressos, desacreditando tais eventos e oficializando esta prática absurda, além de contribuir para uma péssima publicidade da cidade ao mundo, que agora nos observa com toda a atenção e critério. A 4BTS atribui este tipo de desconhecimento a quem não sabe como funciona a indústria de turismo esportivo ou àqueles que desejam chamar a atenção por meio de atos sensacionalistas, que acabam, no entanto, prejudicando o nome da cidade, além de criar uma situação de incerteza jurídica em um momento em que o Rio de Janeiro se prepara para receber grandes eventos esportivos, de visibilidade mundial”, afirma o comunicado.
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