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Helio Castroneves, o rei das 500 Milhas de Indianápolis

Por Silvio Nascimento Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO 23 Maio 2012, 07h49

“Não existe segredo para vencer em Indianápolis. É preciso muito trabalho, disposição total para discutir e verificar cada detalhe, uma equipe que funcione como um relógio, sintonia perfeita entre o piloto, engenheiro e estrategistas, além de velocidade, economia de pneus e combustível, trabalho de vácuo e eficiência nas paradas.”

Helio Castroneves

Aos 37 anos, 15 deles na Fórmula Indy, o paulista Hélio Castroneves, piloto da Penske, já venceu as 500 Milhas de Indianápolis, umas das provas mais difíceis da categoria, três vezes (2001, 2002 e 2009). No domingo, tentará sua quarta vitória. Ele é o brasileiro que mais aparece nas estatísticas da prova e é candidato a ser o bicho-papão do troféu que vale, em dinheiro, 1 milhão de dólares e pode ser depositado no dia seguinte à prova. Se vencer no domingo, ele empata com os maiores ganhadores da prova, com 4 vitórias cada. Nesta conversa, Castroneves conta um pouco sobre a prova, que dura mais de três horas, com velocidade média perto dos 300 km/h. Ele larga na sexta posição neste ano – fez média de 362,301 km/h, enquanto o pole position, seu companheiro de equipe na Penske, Ryan Briscoe, alcançou média de 364,412 km/h.

Como foi a primeira vitória em Indianápolis? Vencer ali é especial. Minhas 26 vitórias são especiais, mas Indianápolis tem uma magia, uma coisa diferente, algo difícil de explicar. Em 2001, existiam duas categorias, Cart e IRL, e a Penske corria na Cart. Mas o dono da equipe, Roger Penske, optou por correr essa prova novamente. Estava em fase de treino para as 500 Milhas ao mesmo tempo em que participava das corridas da Cart. Nunca vou esquecer a emoção de subir na grade com a torcida vibrando. Só de falar fico emocionado de novo, afinal era a primeira vez que eu disputava aquela prova.

Helio Castroneves tentará a quarta vitória em Indianápolis
Helio Castroneves tentará a quarta vitória em Indianápolis (VEJA)
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E a segunda vitória? Essa teve um lado engraçado e outro tenso. Durante a preparação, fiz uma aposta com o Roger Penske: se vencesse ele subiria na grade comigo. Na corrida houve um acidente no final da prova e o Paul Tracy, que vinha em segundo, me passou em bandeira amarela. Recebi a bandeirada, fizemos festa e o Roger foi para o alambrado comigo, mas ele foi só até a metade da grade. Depois, a equipe do Tracy recorreu e vivemos sob tensão durante algumas horas, até minha vitória ser confirmada – provada pelas imagens. E a terceira? Cada vitória em Indianápolis vale um anel. Esse terceiro representou um final feliz num momento em que poderia ter acabado com a minha carreira. Naquele início de 2009, minha irmã e eu fomos julgados sob a acusação de sonegação de impostos. Se em português eu não entendo nada de impostos, imagine em inglês. Sempre contratei especialistas para cuidar disso. Provamos a nossa inocência nos tribunais – sim, provamos, porque falaram que a absolvição foi por falta de provas. Negativo. Conseguimos provar, item a item, que éramos inocentes. Foi tudo muito traumático e ficaram marcas. Pude conhecer os verdadeiros amigos e valorizar ainda mais minha família. Chegar a Indianápolis com essa carga emocional, receber o carinho dos fãs, fazer a pole e vencer parece coisa de filme. Não tenho palavras para definir o quanto foi intenso. Qual a fórmula para ganhar as 500 milhas? Não tem segredo. É preciso muito trabalho, disposição total para discutir e verificar cada detalhe, uma equipe que funcione como um relógio, sintonia perfeita entre o piloto, engenheiro e estrategistas, além de velocidade, economia de pneus e combustível, trabalho de vácuo e eficiência nas paradas de box. A preparação física muda para esta corrida? O preparo não para nunca. Sou adepto das corridas e ginástica. Não há preparação específica para o oval porque você tem de estar preparado, sempre, para todo tipo de pista. Então, o condicionamento físico tem de privilegiar os dois tipos de pista. E a preparação psicológica? Por causa da velocidade e do tráfego constante, uma prova como essa exige mais do psicológico. São 500 milhas (800 quilômetros), mais de três horas de corrida, que exige concentração total. Faço o de sempre, tento me concentrar ao máximo, faço minhas orações e sigo em frente. Como é a pressão sobre alguém que já ganhou? A maior pressão é imposta por mim mesmo. Sou eu mesmo quem mais me cobra.

Helio Castroneves, piloto da Fórmula Indy
Helio Castroneves, piloto da Fórmula Indy (VEJA)

Dá para traçar uma estratégia para a prova? A estratégia não é algo que se resolve na hora. Você tem de trabalhar, ficar debruçado sobre diversos mapas, trocar todas as informações possíveis com o engenheiro e estrategista para criar uma base de corrida. Essa fase é técnica, baseada na performance daquele momento. Há um plano de trabalho para a classificação e outro a partir da posição de largada. O grupo todo precisa ser ágil e eficiente para fazer as adaptações necessárias durante a prova, principalmente longa como essa. Em St Petersburg (Flórida), onde venci, formos para a pista pensando em fazer três paradas, mas durante a corrida mudamos para duas. Erro e acerto fazem parte desse jogo, e as decisões têm de ser tomadas ora de forma agressiva, ora de forma conservadora. O que é diferente nesta corrida? Além da programação de pista, cujos treinos são longos e por vários dias, o grande barato das 500 Milhas é o entusiasmo do público e a possibilidade de manter um contato mais estreito com os fãs. Os treinos começaram dia 12, a corrida será dia 27 e tem o banquete de premiação na segunda, 28. Enquanto em uma prova como a de São Paulo se resume a dois dias, aqui são 17 – e até algum tempo era o mês todo. As paradas exigem alguma atenção diferente dos outros circuitos? As paradas são iguais em todos os lugares, qualquer erro é fatal. Em Indianápolis é preciso 100% de eficiência, afinal, são cerca de oito paradas, diferente de uma corrida ‘comum’, em que fazemos normalmente três. O grupo de mecânicos precisa estar bem preparado técnica, física e psicologicamente. Dentro da pista dá para ver reação e público? Dá para sentir a reação o tempo todo, é uma loucura e uma delícia. Só que, na corrida, é preciso atenção total na pista. Se ficar com a atenção no público, fica vulnerável. Depois de três vitórias nas 500 Milhas, ainda tem algum sonho no automobilismo? Está me chamando de velho? (risos) Quero vencer pela quarta vez e igualar o recorde histórico dos ídolos Rick Mears, que hoje é meu spotter (observador no ponto mais alto do circuito, principalmente ovais, com visão total da pista, que passa orientações ao piloto em relação aos adversários), AJ Foyt e o Al Unser – todos com quatro anéis das 500 Milhas. Além disso, estou focado para conquistar o campeonato. Fui vice duas vezes (2002 e 2008) e estou trabalhando para não deixar a oportunidade escapar. Quero ficar velhinho e ainda estar aqui pilotando carros de corrida, que é o meu oxigênio, o que sei e amo fazer.

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