No Brasileirão dos superastros, revelações são escassas
Com mais dinheiro em caixa, clubes repatriaram ídolos e seguraram jogadores cobiçados pela Europa. Sem espaço, poucos jovens se destacaram no torneio
Alguns dos principais times envolvidos na briga pelo título simplesmente deixaram de lado as categorias de base
Em 2009, a volta do atacante Fred ao Brasil – ele trocou o futebol europeu pelo Fluminense – deu início a um processo que empolgou a torcida: a contratação de jogadores consagrados para reforçar um futebol que estava carente de grandes ídolos. Os astros da bola dividiriam espaço com as revelações que sempre apareciam no Campeonato Brasileiro – e, assim, ajudariam a formar novos craques, transferindo sua experiência aos atletas mais promissores. Nos anos que se seguiram, outros jogadores de peso, como Ronaldo, Vagner Love e Robinho, decidiram voltar ao país. Nesta edição do Brasileirão, foi a vez de Luís Fabiano, Ronaldinho e Adriano. A poucos dias do fim do campeonato, porém, é possível dizer que a presença dos velhos ídolos coincidiu com um problema: a escassez de revelações.
Ainda que muitos dos jogadores consagrados passem mais tempo no banco ou no departamento médico – como nos casos de Adriano ou Luís Fabiano -, a tendência de buscar nomes já estabelecidos no mercado teve um efeito colateral indesejado. Junto com os grandes ídolos desembarcou no país uma legião de atletas experientes e bastante conhecidos – como Liédson e Danilo, no líder Corinthians. A concorrência acirrada entre os clubes para fortalecer seus elencos motivou ainda a permanência de muitos jogadores que teriam mercado no futebol europeu, como Dagoberto, do São Paulo, Réver, do Atlético-MG, Ralf, do Corinthians, e Diego Souza, do Vasco. O resultado: os mais jovens perderam espaço no gramado e pouco se destacaram na edição 2011 do Campeonato Brasileiro. Alguns dos principais times envolvidos na briga pelo título simplesmente deixaram de lado as categorias de base.
O Corinthians não revelou nenhuma promessa nesta temporada – emprestou alguns jogadores novos, como Boquita e Dodô, e recheou o time de atletas mais rodados. O Vasco misturou atletas menos conhecidos com outros que já tinham grande bagagem, como Alecsandro e Juninho Pernambucano. A equipe acabou destacando uma das poucas revelações do campeonato, o zagueiro Dedé, que concorre até ao prêmio de Craque do Brasileirão. Mas Dedé tem 23 anos e chegou ao clube em 2009 – perfil bem diferente das revelações do passado, atletas com menos de 20 anos formados em casa. Se antes a preocupação era explorar as categorias de base para lucrar com a venda dos jogadores para a Europa, agora, com os cofres mais recheados e uma crise financeira fora do Brasil, as equipes estão oferecendo salários similares aos dos clubes estrangeiros. Nesse contexto, garimpar novos craques não é mais a prioridade.