Zezé: a líder das empreguetes
Após brilhar como a copeira destrambelhada de ‘Avenida Brasil’, a atriz Cacau Protásio interpreta uma doméstica no teatro e se firma como voz da classe
Entre tantas brigas e tensões, é incrível que a novela Avenida Brasil tenha conseguido arrancar risadas do público. O feito é mérito, principalmente, da personagem que roubou muitas cenas na trama de João Emanuel Carneiro. Além de respiro cômico na cabeluda história das nove, a Zezé de Cacau Protásio tornou-se representante da tão comentada classe C no horário nobre. “Essas pessoas sempre existiram e eram mal retratadas nas novelas, como gente muito pobre. Elas vivem no mesmo mundo que os ricos, mas eram excluídas. Por isso, Avenida Brasil faz tanto sucesso, mostramos um mundo real e o público se identifica. Ser empregada doméstica está na moda”, diz a atriz.
Diante de tanto sucesso, Cacau não pretende tirar o uniforme de doméstica tão cedo. Neste sábado, ela estreia no Rio de Janeiro a peça Domésticas (Teatro Sesi – av. Graça Aranha, 1, Centro, ingressos a 30 reais) para a qual foi escalada justamente por causa da personagem na Globo. “É um trabalho totalmente diferente da novela, justamente para mostrar que esse tipo de personagem não precisa ser igual sempre.”
Sob direção de Bianca Byington, o espetáculo é um documentário cênico em que os atores relatam histórias reais de empregadas domésticas. Serão encenados cerca de 30 depoimentos, que juntos formarão um painel da realidade dessas profissionais.
Mas a TV não ficará órfã da intérprete de Zezé. Em breve, Cacau volta para as novelas, mas ainda não conta para qual foi convidada. “Estou em negociação, só conto quando tiver assinado o contrato. Fiz assim com o papel em Avenida Brasil e deu certo, só descobriram que eu estava na novela quando me viram no ar.”
Leia a seguir a entrevista concedida por Cacau Protásio ao site de VEJA.
Você é tratada como uma representante das empregadas domésticas? Sim, elas vêm falar comigo na rua e acham que eu sou a personagem. Uma delas se aproximou de mim, me abraçou e começou a chorar, disse que também era maltratada pela patroa. Eu tentei argumentar que a Zezé só existe na novela, mas não adiantou, tive que entrar na onda dela. Não sabia o que fazer, então, disse: “Fé em Deus”. Pessoas próximas precisaram ajudar a me desvencilhar dela.
Você acredita que o sucesso da Zezé reafirma a atual badalação em torno da classe C? Sem dúvida, e isso é muito bom. Essas pessoas sempre existiram e eram mal retratadas nas novelas, como gente muito pobre. Elas vivem no mesmo mundo que os ricos, mas eram excluídas. Por isso, Avenida Brasil faz tanto sucesso, mostramos um mundo real e o público se identifica. Ser empregada doméstica está na moda.
De que forma Zezé se insere numa discussão social? Se a vida na mansão não tomasse tanto tempo, ela seria uma líder das domésticas no Divino, iria reunir todas para lutar por seus direitos. É uma pena que a personagem não tenha tido a oportunidade de conhecer outras domésticas e fazer amizade. Ela iria agitar o bairro.
Como se dá a identificação do público com a Zezé? A Zezé é do povão, ela existe de fato, apesar da maioria não se identificar com seu lado fofoqueiro. Tenho uma família grande tanto do lado materno quanto paterno, então, minha inspiração para criar a Zezé veio principalmente de avós e tias, de um mundo real. Graças a Deus, não convivo com ninguém fofoqueiro como ela, pelo menos até onde eu sei.
Quando percebeu que a Zezé tinha estourado? Ela cresceu muito ao longo da novela. Foi uma surpresa para mim esse sucesso todo, uma espécie de transformação. A personagem é cômica, mas está inserida num núcleo muito tenso, pesado, por isso fiz questão de carregar na pimenta da comédia.
De onda tira os bordões que fazem tanto sucesso? Faço homenagens a familiares e amigos através dos bordões. O “tiro, porrada e bomba”, dito por Zezé quando fala sobre a expulsão da Carminha da mansão, é uma homenagem ao meu primo, o coreógrafo Marcelo Chocolate. Ele sempre fala isso para animar as aulas de dança. Pretendo citar outras duas frases ditas por pessoas próximas a mim, vamos ver se consigo.
Como encara esse assédio todo? Todo dia realizo um sonho. Sempre quis fazer novela e ter meu trabalho reconhecido.
Como surgiu o convite para atuar na peça? Foi por causa da Zezé, mas vou fazer um trabalho totalmente diferente da novela para mostrar que esse tipo de personagem não precisa ser igual sempre. A experiência é inédita na minha carreira. Por ser um documentário cênico, vou contar histórias reais de empregadas domésticas. Como eu sempre fiz comédia, é mais fácil ir para esse lado.
A Zezé gosta mesmo da Carminha? Mais do que gostar, ela quer estar no lugar dela. Acho que ainda não caiu a ficha para a Zezé do quanto a patroa é ruim. Ela não liga para o que acontece ao seu redor, se ganha seu salário no fim do mês, já está bom. Ela quer viver e ser feliz. A Zezé é fofoqueira, mas também é justa.
Qual vai ser o fim de Zezé? Acho que vai ser algo bem água com açúcar, ela descobre a verdade sobre Carminha e continua a vidinha dela, trabalhando na mansão.
O que vai fazer após a novela? Estou em negociação para fazer outra novela, mas só conto quando tiver assinado o contrato. Fiz assim com o papel em Avenida Brasil e deu certo, só descobriram que eu estava na novela quando me viram no ar.
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Me chama de amendoim
A dança improvisada em cena ultrapassou os limites da novela e virou hit na internet. O refrão “Eu quero ver você me chamar de amendoim”, inventado por Cacau Protásio em cima da música Correndo atrás de Mim, da banda Aviões do Forró, virou clipe no Youtube, onde acumula mais de 300 000 visualizações.