Veneza se abre para série da HBO, que brilha no evento

‘Olive Kitteridge’, minissérie sobre uma professora de matemática de temperamento difícil, traz atuação brilhante de Frances McDormand (‘Fargo’)

Por Mariane Morisawa, de Veneza
1 set 2014, 16h21

‘Olive Kitteridge’, minissérie da HBO (Divulgação/VEJA)

Quem ainda acha que o cinema e a televisão são coisas separadas? O 71º Festival de Veneza é que não. Uma das provas é a presença de Olive Kitteridge, minissérie da HBO exibida fora de competição para engrossar a homenagem feita à atriz Frances McDormand, sua estrela e produtora, agraciada em Veneza com o prêmio Persol de Talento Visionário. Frances, famosa pelo Oscar conquistado com Fargo, dirigido por seu marido Joel Coen em parceria com o irmão Ethan, adorou o romance de Elizabeth Strout e comprou os direitos para o cinema antes de o livro ganhar o Pulitzer de melhor ficção em 2009. Ela interpreta a personagem-título, uma professora de matemática impaciente e bocuda casada com o pacato e otimista Henry (Richard Jenkins, que concorreu ao Oscar por O Visitante). Em um período de duas décadas, os quatro capítulos mostram personagens a entrar e sair da vida de Olive, que por vezes ocupa um papel coadjuvante na narrativa.

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O roteiro de Jane Anderson (Emmy de roteiro de minissérie ou especial por The Positively True Adventures of the Alleged Texas Cheerleader-Murdering Mom) foca, na verdade, mais no casamento e em suas dificuldades do que especificamente na personagem. Por exemplo, no primeiro episódio, quando o filho Christopher é um adolescente, Olive e Henry estão em crise – há alguma coisa no ar entre ela e seu colega de escola Jim (Peter Mullan, indicado ao Emmy por Top of the Lake), e ele se encanta pela jovem e frágil Denise (Zoe Kazan), nova funcionária de sua farmácia.

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Frances e Anderson, que desenvolveram o projeto juntas, escolheram como diretora Lisa Cholodenko (concorrente ao Oscar na categoria roteiro original por Minhas Mães e Meu Pai, escrito em parceria por Stuart Blumberg). É uma direção discreta, sem firulas, que deixa o texto e os atores respirarem. E aí o elenco brilha, em especial Frances McDormand, que pode desenvolver uma personagem fascinante, mesmo que pouco agradável – Olive nunca pensa duas vezes em deixar claros os seus julgamentos sobre os outros, e eles são muitos. É uma personagem feminina rara, com seus momentos feios e bonitos. Jenkins também instila seu personagem, muitas vezes irritantemente feliz, de humanidade em pequenas nuances.

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Como The Leftovers, também da HBO, a série fala de morte – e também sobre depressão e suicídio. O pai da personagem principal se matou, assim como Rachel Coulson (Rosemarie DeWitt), mãe de Kevin (Cory Michael Smith), que está pensando em fazer a mesma coisa até Olive interferir, no segundo episódio. A diferença está no tom: The Leftovers raramente abre espaço para o humor, enquanto Olive Kitteridge insere o ridículo e o engraçado da vida aqui e ali.