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‘Não tenho inimigas. Nem amigas’

Funkeira supera marca de 4 milhões de exibições de ‘Beijinho no Ombro’ no Youtube e lembra quando viu um show de Beyoncé pela primeira vez, nos Estados Unidos: ‘Subi na cadeira, muito favelada. Levei bronca na hora’

Por Alvaro Leme
3 fev 2014, 06h40

Um mês depois de seu lançamento no Youtube, Beijinho no Ombro superou a marca de 4 milhões de exibições. Os exageros estéticos do vídeo e a batida dançante promoveram – talvez à força – o encontro de Valesca Popozuda com a classe média. E a expressão que dá título à obra, antes restrita ao mundo gay, foi definitivamente colada ao vocabulário informal dos adolescentes. A primeira produção original da curvilínea funkeira, egressa do grupo Gaiola das Popozudas, é a realização de um sonho. A cantora do subúrbio que já foi frentista e levou bronca num show da diva pop Beyoncé, nos Estados Unidos, hoje atende filas de fãs, mora na Barra da Tijuca, investe em imóveis e chega a comprar, por orientação de sua personal stylist, uma bolsa de 14.000 reais. Em um café no bairro carioca do Leblon, Valesca recebeu o site de VEJA para a seguinte entrevista:

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Há quem considere seu clipe muito cafona. O que acha disso? Se eu não quisesse ouvir coisa ruim, não poderia ser artista. Claro que sempre vai ter gente dizendo todo tipo de coisa, mas tenho certeza que quem está metralhando não passa de 20% das pessoas. O resto ama o clipe, ama o meu trabalho. Sei o reconhecimento que tenho entre os meus fãs.

E você, o que acha do clipe? Menino, se eu já chorei com o teaser, imagina com o clipe! É um sonho realizado, sabe? Tenho uma década de estrada com a Gaiola (das Popozudas), mas nunca gravamos um vídeo de música nossa. Esse, além de ser meu primeiro, foi a minha estreia na carreira solo. Acho tudo lindo, é como se fosse um filho.

Muita coisa no seu clipe foi permuta, não? O vídeo tem oito minutos de duração, dos quais mais da metade são agradecimentos. Nada disso. Não ganhei nada de graça, não. Pagamos tudo: 473.000 reais. Mas não é porque paguei que não posso ser grata, ué. Era gente que viveu aquele momento ali comigo. Agora, a gente solta o agradecimento e depois vê se corre atrás de um descontinho. Quer dizer, quem pagou foi meu empresário, porque ainda eu não estou rica.

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No clipe você contracena com um tigre e uma águia. Como foi na hora de filmar? Essa parte foi feita no sítio de um adestrador, no interior de São Paulo. Levamos a equipe toda. Que na verdade, só era eu mesmo, maquiador e o câmera. Na hora de rodar as cenas, ficamos apenas eu, o dono dos bichos e a câmera dentro de uma jaula.

Não ficou com medo? Não. O animal só faz mal se a gente ameaçar. Tenho mais medo das pessoas que dos bichos. As pessoas fazem mal pra você mesmo quando você faz o bem. Passei a mão na Princesa – era uma tigresa, na verdade – e, se pudesse pegava no colo. Mas sempre dávamos carne pra ela nos intervalos. Ficou o máximo, né? Ela rugindo daquele jeito. O resto do clipe fizemos no Castelo de Itaipava, no Rio. Levamos um dia e uma madrugada, num trabalho que envolveu uma equipe de cinquenta pessoas.

De onde vem o tal beijinho no ombro? É um bordão já bem antigo, mas antes era mais dos gays. Os compositores procuraram um amigo com quem trabalho, disseram que a música era a minha cara. Meu empresário ouviu primeiro, depois me encaminhou. Quando ouvi o começo – caraca! – já fui me empolgando. Quando chegou no refrão – caraca! – nem acreditei. Tenho um amigo, o Rubinho, que é gay. Chamo ele de Jurema. A gente sempre mandou beijinho no ombro. Há nove anos já falávamos isso.

Espera aí, mas por que Jurema? Então, cara… Isso aconteceu no decorrer dos trabalhos, dentro de uma van. Indo para os shows. Falei que a gente tinha que ter apelido, que ninguém tinha. Daí batizei ele assim, achei que ele tinha cara de Jurema. E ele falou que eu ia ser a Alzira, que era a Flávia Alessandra numa novela em que ela dançava no pole dance. Ele trabalha comigo no escritório, fechando alguns shows, mas mora no Espírito Santo.

Trabalha remotamente, então? Não, pela internet, entendeu? Hoje em dia tudo é e-mail, internet.

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Por que optou pela carreira solo? Percebi que, nos shows, não anunciavam mais a Gaiola das Popozudas, mas sim Valesca e a Gaiola. Achei que era hora de tentar.

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Você se espelha em alguma artista? Tudo meu é inspirado na Beyoncé, das roupas ao clipe, e até a carreira. Sempre fui doida por ela. Em 2009, fiz show nos Estados Unidos e mudei minha passagem de volta quando soube que ia ter show dela dois dias depois do meu retorno. Aí fui ver de patroa, sentei na segunda fileira, peguei até na mão dela. Estava gelada! Mas meu amigo que tinha ido comigo não conseguiu bater foto. Me deu uma raiva! Foi engraçado ver show lá fora, porque eles passam o tempo todo sentados. Eu subi na cadeira, muito favelada, achando que podia. Levei bronca na mesma hora.

Em Beijinho no Ombro, você fala de inimigas. Tem muitas? Não tenho inimigas. Mas também não tenho amigas. São poucas que posso considerar de verdade.

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Não é muito solitário passar a vida sem amigos? Hoje em dia, é muito difícil alguém ser amigo. Acho que só a minha mãe. E nem estou falando por ser famosa, não. Falo como Valesca dos Santos mesmo. Fico com a pulguinha atrás da orelha com todo mundo. Já quiseram me prejudicar muito. Não vou dar nomes para não levantar defunto, mas já aconteceu de eu gravar uma música e depois darem para outra cantora antes de eu lançar. Chorei muito. Imagina você estar fazendo compras de Natal, no centrão de Madureira, e seu empresário ligar com uma notícia dessas? Porque era uma música que eu apostava que seria um hit, tipo Beijinho no Ombro.

Mas só chorou ou foi tiro, porrada e bomba? Fui até a pessoa reclamar. Sabe o que ela me falou? Que tudo eu choro. Botei meu rabo entre as pernas e fui embora. O que é legal é que respirei, fui para minha casa e sofri um bom tempo, mas a pessoa hoje está vendo que cresci. E sem depender dela para nada.

No reality show A Fazenda você parecia bem frágil, ao contrário do que vemos nas suas performances. Até que ponto você é uma personagem? Estou no palco fazendo o que gosto, não me considero personagem, não. Eu sou sentimental mesmo, choro com facilidade.

Antes de Beijinho no Ombro, qual era seu grande sucesso? Ah, quase tudo que eu gravei foi bem. Antes era Agora, Eu Tô Solteira, aquela em que canto que vou ao baile procurar o meu negão. Também teve Late, Que Eu Tô Passando, e Boto Shortinho. Uma que fez sucesso quando eu estava na Fazenda, foi Hoje Eu Não Vou Dar, Vou Distribuir. E também Ai Negão, Tô Que Tô Pegando Fogo. Mas sucesso grande foi Mama. Isso aí é um hino assim, que eu cheguei na Europa e fiquei assustada que todo mundo sabia. Da classe C à classe A, todo mundo canta. Fiz show em Paris, Londres, Amsterdã, Zurique, em casas para mil pessoas, em média.

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Já conseguiu, com os trabalhos que fez desde que saiu da Fazenda, ganhar os 2 milhões do prêmio do programa? Ah, batalhando direitinho a gente consegue, né? Mas não estou rica, não. Ainda compro parcelado! Invisto o que consigo juntar em imóveis, mas só vou achar que cheguei lá quando tiver minha mansão. Moro num apartamento bom, na Barra, que comprei com o cachê da PLAYBOY. Tem dois quartos e um de empregada que transformei no meu closet. Porque meu sonho sempre foi ter closet.

O que gosta de comprar? Sapato. Sou louca, tenho mais de 200 pares. Não tenho nem onde guardar mais. Outro dia fiz uma loucura, incentivada pela Marcela, minha personal stylist: entrei na Chanel e comprei uma bolsa de 14.000 reais. Olha, eu nem gosto, sabe. Mas ela fala que é importante ter, então a gente vai para os eventos, faço foto com a bolsa, mas depois ela que carrega. Mas sapato, se deixar, quero um a cada dia.

O que a levou a contratar uma personal stylist? Acho que fui a primeira do funk a ter alguém me ajudando a me vestir. Agora um monte de gente tem. Fiquei em dúvida, porque ia ser caro, mas vale a pena porque antes eu gastava horrores nas lojas, chegava em casa e não conseguia combinar as coisas. Mas fez diferença quando eu soube que ela arrumaria minhas malas para as viagens. Odeio fazer isso.

O que acha quando a comparam com a Anitta? Não tem comparação. Ela é pop, eu sou funkeira. A gente não é amiga, mas conheço desde a época dela na Furacão 2000. Mas só de cumprimentar. Gosto das músicas dela, até quando ela fez show no Barra Music e foi aquele sucesso, eu dei parabéns. Ela tem o jeito dela, o mundo dela, mas somos totalmente diferentes.

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E do Naldo, o que acha? Ele foi meu professor de música. Tenho admiração enorme como artista, como pessoa. Acompanhei pouco, mas sempre frequentamos os mesmos estúdios, com os mesmos DJs. Meu empresário falou que eu gritava muito, o que era verdade. Nunca tinha sonhado na vida que seria cantora. Trabalhei em borracharia e, quando me chamaram para a Gaiola, era frentista de um posto na Abolição [bairro do subúrbio carioca].

Em que momento percebeu que havia emplacado como cantora? Cresci falando que seria advogada ou aeromoça. Parei de estudar no primeiro ano do segundo grau porque fui morar com uns colegas e trabalhar. A Gaiola foi uma coisa que me apareceu. O nome vem do filme A Gaiola das Loucas. Eu trabalhava como frentista e o [Leandro] Pardal, meu empresário, apareceu lá com uma conversa que ia montar um grupo. Disse que era tipo lambaeróbica, mas com funk. Meu filho, o Pablo, tinha nascido poucos meses antes, eu tinha 22 anos, ganhava bem com as gorjetas e não podia trocar aquele dinheiro certo pelo duvidoso. Mas resolvi tentar conciliar, porque o grupo era só no fim de semana. Trabalhava domingo sim, domingo não, de 6h às 14h no posto. E todo sábado. Mas aí a coisa começou a crescer e, três meses depois, já saí do posto.

Antes suas músicas eram mais explícitas. Agora, nem palavrão você fala, como em Beijinho no Ombro. Minhas músicas sempre tiveram uma versão para o rádio e uma mais com cara de proibidão. Por mais que as pessoas me conheçam como desbocada, sou capaz de fazer um show sem falar um palavrão. Porque eu sei levar um palco. Posso bater no peito que isso sei fazer.

Sua infância foi difícil? Foi. Conheci meu pai só quando eu tinha 12 anos, mas não consegui sentir amor por ele. Era tarde demais. Meu padrasto, o Luisinho, foi quem me criou, e é ele que considero pai mesmo. Minha mãe tinha 18 anos quando engravidou de mim, trabalhou como faxineira, foi cobradora de ônibus, montava arranjo de flores em loja… Ela nunca deixou faltar comida, mas luxo não tinha. Minhas duas irmãs e meu irmão são filhos de outro padrasto. Até dois anos atrás, minha mãe ainda fazia faxina. Eu que mandei ela parar.

Seu filho, Pablo, teve uma infância com mais fartura que a sua. Como faz para que ele entenda que a vida é dura, que não foi fácil para você? Sempre dosei muito, desde novinho. Uma vez fui em Madureira com ele, que tinha uns 3 anos de idade. Ele queria um patinete, fez um escândalo por causa daquilo. Gritava tanto que parecia que eu estava matando. Eu dizia que não tinha como dar aquilo para ele. Mas quando tive condições, comprei. Uns três anos mais tarde. Ele está com 13 anos e eu, com o coração sangrando, às vezes sou dura com ele. Não ganhei meu dinheiro na zona, não. E mesmo que tivesse, aí é que devia dar mais valor ainda. Admiro as que ganham, porque tem que ter disposição.

Em que foi dura com ele? Em 2012 ele me pediu um cordão igual a um do Neymar, só que de ouro. Mas ele repetiu na escola e não dei. Ficou guardado até o fim de 2013, quando ele passou. Paguei mais de 5.000 reais. Parcelei em quatro vezes. Ano passado, ele veio bem até os últimos semestres, daí as notas baixaram. Fui ver, descobri que ele estava namorando. Tirei telefone, internet e passeios. Obriguei a ir de casa para a escola e da escola para casa. Falei que se repetisse de novo, não ia ganhar nem roupa nova para passar o Natal.

Dizem que menino é muito ciumento com a mãe. É o caso do seu? Não. Ele adora isso de a mãe ser famosa. Toda hora vem com CD de amiguinho dele para eu autografar. Quando saiu minha PLAYBOY, fiz questão que fosse ele a primeira pessoa a ver: “Olha filho, mamãe!”

Quanto tempo dura seu show? Aqui no Rio, mais ou menos meia hora. Faço em média três por noite. Mas, em viagem, procuro não marcar mais de um porque gosto de receber os fãs depois do show. Faço questão de dar atenção, tirar foto com eles. Às vezes passo mais tempo fazendo isso do que no palco. O que mais me pedem é pra tirar foto dando beijo na minha bunda.

Seus namorados não ficam com ciúme? Não tenho. Não quero ninguém para controlar minha vida, me cobrar satisfação. Não tenho tempo para crise de ciúme. O que não quer dizer que não tenha meus parceiros. Usar e mandar embora é tão bom. Quando tenho vontade, pego de novo. Tenho que trabalhar, não quero nada de romance. Se eu pudesse, faria sexo todo dia. Mas umas duas vezes por semana já considero de bom tamanho.

Você já deve ter feito shows em locais improvisados. Já ouviu falar em Tucuruí? É no interior do interior do interior do Pará. Fui com as meninas da Gaiola. Pegamos avião para Belém, voo direto, uma maravilha. Aí veio um micro-ônibus e falaram que íamos levar sete horas. Estrada era barro puro. Não tinha barraca, não tinha banheiro. Precisei fazer xixi no mato! No fim das contas, foram mais de doze horas de viagem. Quando cheguei, eu não era ninguém. Só queria uma cama para me esticar. Nem banho devo ter tomado, de tão exausta. Mas a casa de show era linda, impecável.

Você acha que canta bem? Eu não canto, eu encanto. Mas, sério, procura as músicas do começo e compara com agora. Na primeira vez, levei muita latada, porque eu gritava muito, ninguém estava entendendo nada. Eu doida para sair do palco, e meu empresário não deixava. Já saí do palco chorando! Mas foi algo que eu tinha que passar, acho. Porque foi tudo um aprendizado.

Das coisas que falam de você, o que a deixou abalada? Falarem que sou vagabunda, dentre outras palavras desse tipo. Estou fazendo um trabalho no palco. Posso falar que, para chegar lá, não sentei no colo de ninguém.

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