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Steven Spielberg encanta, mas não empolga, em sua volta ao universo infantil com “O Bom Gigante Amigo”

“Quando você faz um filme histórico, como Lincoln e Ponte dos Espiões, não há muito espaço para a imaginação. Aqui, me senti livre”, disse o diretor

Por Mariane Morisawa, de Cannes
14 Maio 2016, 15h34

Steven Spielberg é responsável pela apresentação de milhões de crianças ao cinema, graças a filmes como E.T. – O Extraterrestre (1982). Depois disso, ele ganhou Oscar, fez dramas e filmes históricos. Agora, volta ao universo infantil com O Bom Gigante Amigo, exibido fora de competição no 69º Festival de Cannes. Por conta disso, a expectativa era alta em relação à produção, baseada na obra de Roald Dahl, com roteiro da mesma Melissa Mathison que escreveu E.T e cuja sessão de imprensa aconteceu na manhã deste sábado (14). O filme fala sobre a amizade entre uma órfã (Ruby Barnhill) e um gigante vegetariano (Mark Rylance). “Para mim não era uma volta ao passado, só uma revisita a algo que sempre gosto de fazer, que é contar histórias usando a imaginação”, disse Spielberg em entrevista coletiva após a exibição. “Quando você faz um filme histórico, como Lincoln e Ponte dos Espiões, não há muito espaço para a imaginação. Aqui, me senti livre. Fazer o filme me trouxe de volta sentimentos que tinha quando era um cineasta mais jovem.”

Sophie é uma menina de 10 anos que vive num orfanato em Londres. Ela costuma desrespeitar as regras e ficar acordada até tarde, lendo. Uma noite, olha pela janela e vê um gigante do lado de fora (interpretado com captura de movimentos por Mark Rylance, vencedor do Oscar de coadjuvante por Ponte dos Espiões). O homem de mais de 7 metros de altura e orelhas grandes a leva para a Terra dos Gigantes. A garota fica um pouco assustada, mas não intimidada. Logo dá a ele o nome de Bom Gigante Amigo, ou BGA, que difere de seus irmãos por ser menor e vegetariano. Os outros são brutos e comem crianças, enquanto BGA é uma alma sensível, que armazena sonhos para depois distribuir aos pequenos e inventa palavras.

O filme se insere numa onda de produções de ficção que usam muitos recursos de animação digital, especialmente com a performance de captura de movimentos, lado a lado com atores de carne e osso. E que diferença faz ter um ator como Mark Rylance, ganhador de três Tony e dois Olivier, num papel assim. A interpretação atravessa qualquer barreira tecnológica. Rylance falou um pouco sobre a experiência de usar a técnica, que envolve o uso de macacões cheios de pontos para leitura das câmeras e computadores. “Para mim não é muito diferente do ensaios no teatro. Você precisa usar sua imaginação. Não há câmeras nem a necessidade de usar marcações rígido.” O diretor foi só elogios para o ator, com quem vai trabalhar três vezes seguidas, já que eles rodam em breve Ready Player One. “Tenho sorte de conhecê-lo. E mais sorte ainda por termos nos tornado amigos. Conheci muita gente em 40 anos de carreira, mas não trouxe muitas pessoas para minha vida. Mark é um dos raros, e ter com ele amizade e relação profissional é um sonho.”

Spielberg também volta a colaborar com amigos de longa data, os produtores Kathleen Kennedy (hoje a todo-poderosa da Lucas Film) e Frank Marshall. Apesar de não ter trabalhado com Melissa Mathison durante esse tempo todo, eram amigos. Todos ficaram emocionados ao falar da roteirista, que morreu em novembro. “Tivemos uma parceria tão grande, ainda que sem muitos filmes entre E.T. e este. Foi uma reunião maravilhosa que ganhou um aspecto agridoce por causa da Melissa”, disse Spielberg.

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Claro que seria um pouco demais esperar outro E.T., que teve pré-estreia em Cannes em 1982, um evento que tanto o diretor quanto Kathleen Kennedy apontaram como um dos pontos altos de suas carreiras. Naquele mesmo ano, Dahl lançava O Bom Gigante Amigo. Spielberg costumava ler o livro para seus filhos, então seu interesse no projeto foi imediato. Os direitos foram comprados em 1993, mas só agora a tecnologia permitiu que fosse realizado. O visual é encantador e não busca o realismo como Mogli – O Menino Lobo, de Jon Favreau. Há sequências brilhantes, como o café da manhã com a Rainha (interpretada pela excelente Penelope Wilton, de Downton Abbey) e todas que contam com os gigantes juntos. Steven Spielberg, afinal, sabe fazer uma cena montanha-russa. Mas a verdade é que falta alguma coisa, sobram muitos minutos, e o resultado decepciona um pouco.

Talvez tenha a ver com o fiapo de trama. Aqui, o mais importante é a lição de amizade, aceitação e aprendizado entre uma menina pequena e um gigante. “Quanto mais o mundo piora, de mais mágica precisamos”, afirmou o cineasta. “Porque a magia nos dá esperança, e é a esperança que nos faz agir. Acho que os filmes têm o poder de dar esperança para lutar pelo próximo dia.” Steven Spielberg disse que a cada ano é um cineasta diferente, mas a verdade é que sempre foi um otimista. Como disse Kathleen Kennedy, o estranho é que essas histórias cheias de esperança não sejam mais tão vistas no cinema, dominado hoje por filmes sombrios. Dado o grau de influência do diretor, era de se esperar mais.

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