‘O Pequeno Príncipe’ muda e ganha um ar mais moderno
Animação quer conquistar a nova geração, fã de sagas como 'Harry Potter'
“Queríamos que O Pequeno Príncipe tivesse olhos grandes, como os personagens do mangá e – por que não? – vê-lo lutar ou fazer kung fu”
Olivier d’Agay, sobrinho do escritor Antoine de Saint-Exupéry
O Pequeno Príncipe foi repaginado. Uma animação criada para a TV promete dar um ar mais moderno ao pequeno e curioso personagem criado por Antoine de Saint-Exupéry em 1943. A intenção é fazer frente às superproduções atuais do cinema que conquistaram uma legião de fãs, como Harry Potter.
A adaptação chegará às telas francesas no final de dezembro e estreará em 80 países. Será uma produção de 18,6 milhões de euros, um dos orçamentos mais caros da história para uma animação televisiva. Sob o título La Planète du Temps (O Planeta do Tempo, em tradução livre), o primeiro capítulo da série apresenta um personagem totalmente novo, que pouco lembra o original.
A nova aventura não vai se limitar a atacar os adultos com perguntas, nem a viajar de planeta em planeta para manter conversas com os habitantes que ali encontra e muito menos a arrancar os baobás (árvores de troncos largos) que ameaçam seu mundo. O Pequeno Príncipe enfrentará monstros imaginários em múltiplas batalhas.
Será uma verdadeira revolução no personagem: desde seu look, mais próximo da adolescência do que da infância, até seu companheiro, a raposa que aparece no livro de Saint-Exupéry, mas que no desenho animado será seu “alter ego” cômico.
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Novas gerações de fãs – Os autores da mudança defendem-se com o argumento de que para que os valores universais do protagonista cheguem às novas gerações é necessário adaptá-lo aos tempos atuais. Caso contrário, ele ficará apagado diante dos novos heróis da literatura e condenado a ser uma obra cult mais conhecida pelos adultos do que pelas crianças.
Em 13 anos, Harry Potter vendeu o triplo de livros que O Pequeno Príncipe em 1945. Isso apesar de o livro de Saint-Exupéry ter sido um dos mais traduzidos de todos os tempos, com edições em 118 línguas. Olivier d’Agay, sobrinho do escritor e presidente da empresa que administra seu legado, justifica a iniciativa para “oferecer o personagem sonhador às crianças do século XXI” e comenta algumas das mudanças. “Queríamos que O Pequeno Príncipe tivesse olhos grandes, como os personagens do mangá e – por que não? – vê-lo lutar ou fazer kung fu”, conta.
Contra – Um critério “utilitarista” que não agrada a José Martínez Fructuoso, herdeiro da mulher do escritor, Consuelo Suncin. Em comunicado, o dono da metade dos direitos de sucessão de Saint-Exupéry advertiu que não permitirá “que se faça qualquer coisa” com sua obra maestral. Porém, apesar de ter direito a uma parte dos lucros, Fructuoso não tem voz nas decisões sobre o romance, após uma sentença proferida pela Justiça.
Embora ele não tenha sido o único a criticar as mudanças do personagem, nada parece deter os sobrinhos do escritor. Após o desenho animado, eles estão na expectativa de criar uma série de produtos temáticos destinados ao público infantil. Com isso, esperam explorar um mercado que gere um lucro significativo para Fundação Saint-Éxupery que promove a prática da leitura entre as crianças de todo o mundo.
Outros apostam em fins menos nobres. Segundo um especialista citado pelo jornal Le Figaro, em breve O Pequeno Príncipe ficará livre de direitos, por isso os herdeiros precisam criar uma saga que mantenha sua posse sobre o personagem.
(Com agência EFE)