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‘Na contramão da farsa, tem gente que faz música direito’, diz Ed Motta

Ao site de VEJA, o cantor que inicia turnê hoje em São Paulo fala sobre os novos shows do disco 'AOR' e defende o alto padrão da qualidade musical

Por Sérgio Martins Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO 1 Maio 2014, 13h30

Em seu disco mais recente, AOR, lançado em 2013, Ed Motta defende o retorno do estilo de mesmo nome, sigla de Adult Oriented Rock, veia da música pop americana e sucesso nos anos 1970 e 1980, que prioriza a excelência técnica e a alta qualidade instrumental. Apagada nas últimas décadas, a vertente começa a ser vista novamente em artistas como o duo Daft Punk, principal vencedor do Grammy em 2014. “Os grandes hits do AOR realmente estão nas rádios adultas, mas o que seria o lado B do estilo anda bastante em voga mundo afora”, diz Motta em entrevista ao site de VEJA.

Tal pop sofisticado pode ser ouvido na turnê AOR, que começa nesta quinta-feira, no Sesc Pinheiros, em São Paulo, depois de uma temporada fora do Brasil, que passou pela Europa, Japão e Estados Unidos.

O senhor vem de uma turnê pela Europa. Como está sendo a recepção internacional de AOR? Surpreendente em todos os lugares que passo: Europa, Japão, México, voltei aos Estados Unidos depois de 10 anos sem me apresentar por lá. No Japão, no ano passado, a música 1978 ficou em primeiro lugar na rádio North Wave e logo começaram a tocar músicas do meu repertório anterior. Tem um livro/guia sobre AOR no Japão em que o disco recebeu destaque. AOR é o tipo de música, junto com jazz e bossa nova, por que os japoneses são obcecados. Na França, Alemanha e Inglaterra o disco também vai muito bem, este ano tenho mais três visitas marcadas para a Europa, onde lançaram uma versão em inglês do disco, assim como no Japão.

Agora vai começar uma turnê em São Paulo. Como o senhor montou o show? O show é um apanhado da minha carreia, mas toco todas as músicas do AOR ao vivo. Quando as coloco ao lado das minhas canções anteriores vejo que sempre tive uma relação grande com este universo, mesmo sem saber.

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Como é essa sua relação com o AOR? Quando esse tipo de música entrou na sua vida? Eu sempre gostei do estilo sem nunca ter tido contato com essa terminologia, que eu conhecia mais relacionada com o também chamado “arena rock”, de bandas como Journey, Foreigner, Loverboy, Styxx, entre outros. AOR Westcoast é um universo imenso de artistas, que variam do country rock até Michael Jackson e seu famoso Thriller gravado com a turma de Aor, o pessoal da banda Toto etc. Na série de TV para internet Yatch Rock, que retrata essa cena, é uma forma bem humorada de entender o universo, conhecido no Japão também como Mellow Groove, ou City Pop quando os artistas são japoneses.

Quais foram as suas influências dentro do estilo? Eu gosto de muita coisa de AOR, minha coleção cresceu nessa área consideravelmente nos últimos cinco anos. Artistas como Rupert Holmes, Eric Tagg, Pages, Jay Gruska, Andrew Gold, Valerie Carter, Bill Champlin, Roby Duke. Enfim, a lista é interminável. No Brasil considero Lincoln Olivetti o grande mago das produções com sotaque Aor/Soul, mesmo quem fazia outro tipo de música, no final de 1970, começo de 1980 se viu influenciado por isso. Outros grandes nomes do AOR no Brasil são Rita Lee, Guilherme Arantes e Roupa Nova.

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O AOR reinou nas paradas internacionais durante boa parte das décadas de 1970 e 1980. Hoje, ele está relegado às estações de flashback. O que você acha que mudou: o gosto do ouvinte, dos formadores de opinião ou a disposição das bandas em tocar bonito? Existe um culto ao AOR pelo mundo hoje, principalmente na Escandinávia e no Japão. Na França também, já que abriga os sites/blogs e rádios mais importantes do gênero. Estão surgindo novos artistas, mesmo que de outra forma. O Daft Punk, dupla eletrônica, é bastante influenciado pelo estilo. Eles até chamaram músicos dessa área para gravar. Tem um site AOR Disco onde DJs fazem remix de faixas mais raras e obscuras. Existe noite de Aor em algumas cidades inglesas, já que a coletânea mais importante do gênero foi feita por Mark Taylor, DJ inglês. Os grandes hits do Aor realmente estão nas rádios adultas, mas o que seria o lado B do estilo anda bastante em voga mundo afora.

Seu disco tem uma influência marcante de Steely Dan e Doobie Brothers. Como essas bandas inspiraram sua música? Steely Dan é minha religião. A influência deles aparece já faz tempo nos meus discos. No Brasil, quando você tem a ingenuidade nerd de comentar suas influências, você é considerado um copiador. Imagina Charles Mingus que falava de Duke Ellington a cada vírgula, e a música era uma sequência natural ao que foi proposto pelo Duke. Steely Dan gravou os discos mais perfeitos da música pop em todos em sentidos para mim, sonoramente, nos arranjos, a distribuição de vozes, a abertura dos acordes, etc.

O senhor sempre valorizou o talento dos músicos e a qualidade dos arranjos. Existe uma predileção maior pelo feio e pelo mal tocado em detrimento dos verdadeiros instrumentistas? É uma posição confortável não saber música, até porque tem o aval de todos, das gravadoras, dos investidores, da imprensa. Agora uma banda como o Snarky Puppy, ganhar Grammy, fazer sucesso mundial é motivo de festa pra mim. Ali são músicos de verdade, jovens, competentes, intelectualmente honestos com a música. No Brasil, o Lucas Arruda, que tem o disco lançado na França e Japão desde o ano passado, é a grande promessa da música. Música da forma que conheço e respeito. Na contramão da farsa, tem gente querendo fazer música direito, isso é esperançoso.

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