Cee Lo Green decepciona em show no Sónar, já Mogwai e Justice arrebatam plateia
Segundo dia de festival teve mais público, mas a estrutura do festival se mostrou eficiente para não tornar a experiência desconfortável
O segundo dia do festival Sónar, que aconteceu no complexo Anhembi, em São Paulo, foi marcado por um grande contraste entre as apresentações principais. O cantor americano de soul Cee Lo Green era também uma das atrações mais esperadas, mas seu show deixou a desejar. Já a banda escocesa de pós-rock instrumental Mogwai, que tocou na mesma hora de Cee Lo, fez um show de arrepiar a espinha. Em comparação com o primeiro dia, a organização mostrou que aprendeu com os erros, já que algumas melhorias eram perceptíveis. No geral, o festival ganhou pontos em em organização, escolha do line-up e do lugar, que poderia receber mais eventos como esse. O único defeito grave foram os atrasos, que aconteceram nos dois dias e iam de 30 minutos a 1h30 (no caso do palco SónarVillage, no sábado), e atrapalhavam quem já havia se programado.
Público – Embora também não tivesse ingressos esgotados no segundo dia, o festival estava mais cheio do que na sexta-feira — a organização não divulgou números. A procura se refletiu nos cambistas que estavam pelas redondezas. Se, no primeiro dia, era possível encontrar ingressos pela metade do preço (230 reais), no sábado, o máximo era 150, preço que caiu somente ao longo do festival. A maior quantidade de público também se refletiu nas filas para caixas, bares e banheiros, mas nada que atrapalhasse o evento, já que o tempo máximo de espera era de 15 minutos. O aumento no público também provou que a estrutura montada pelos organizadores era eficiente — ao invés de concentrar todo o público somente em um lugar, colocar boas atrações em palcos diferentes também ajudou a dispersar o público.
Cee Lo Green – O cantor americano Cee Lo Green subiu ao palco Club às 22h20 como a primeira grande atração do segundo dia de Sónar, mas não atingiu as expectativas. Em companhia de três backing vocals, o cantor começou sua apresentação com a música Bright Lights Bigger City e, a partir de então, se esforçou para manter o público animado e sofreu com os problemas de som no microfone, que impediam que algumas de suas palavras fossem ouvidas. Próximo à metade do show, depois de cantar Satisfied e o cover da música Let’s Dance, de David Bowie, Green convidou três rappers para se juntar a ele. A apresentação esfriou e o soul man ficou de coadjuvante no palco. Como era de se esperar, o ponto alto do show – que, por sinal, recuperou um pouco o ânimo dos espectadores – foi alcançado com seus dois maiores hits: Crazy, da dupla Gnarls Barkley, da qual ele fazia parte, e Fuck You.
Mogwai – Quase na mesma hora que Cee Lo Green, o quinteto escocês Mogwai subiu ao palco SónarHall, e fez um show emocionante do começo ao fim. Com três guitarras, baixo e bateria, o grupo cria músicas com várias camadas de som que chegam a arrepiar a espinha. Apesar do volume alto e das distorções e efeitos, o som do grupo consegue provocar certa tranquilidade em alguns pontos do show. Estourando o horário previsto para a apresentação, o grupo levou bronca da produção do palco, mas decidiu “quebrar as regras”, como foi definido por um dos integrantes, e tocar mais um “bis”.
Alva Noto e Ryuichi Sakamoto – Antes do Mogwai, o palco Hall teve uma das atrações mais aclamadas do festival, da dupla Alva Noto e Ryuichi Sakamoto — o primeiro, um alemão responsável por projeções visuais, e o segundo, o pianista japonês que já ganhou um Oscar (pela trilha sonora de O Último Imperador, em 1987). A dupla, que já lançou quatro álbuns, sendo O mais recente Summvs, do ano passado, fez uma apresentação inteligente, experimental e minimalista, de “dar um nó” na cabeça de quem assistia.
Palco – Nas apresentações, o palco Hall era uma atração à parte. Montado no Auditório Economista Celso Furtado, que fica dentro do palácio das convenções do Anhembi, que tem estrutura belíssima e imponente, o palco tinha o melhor som do festival, graças à ótima acústica do auditório. Deveria haver mais apresentações no local, que comporta 2.500 pessoas.
Justice – De volta ao Brasil para apresentar seu novo álbum, Audio, Video, Disco, a dupla francesa Justice mostrou um show bem diferente do que havia apresentado por aqui em 2008, logo que estourou com Cross (2007). Cheio de efeitos visuais — além da tradicional cruz iluminada no centro do palco, uma tela de LED com projeções e holofotes que acompanhavam o ritmo da música. Para aproveitar os dois trabalhos lançados, o duo chegou a uma fórmula inteligente: usa as faixas do disco novo, como Civilization, como base para tocar as “antigas”, como D.A.N.C.E. e DVNO. como se fossem samples. O modelo se provou um sucesso com a plateia cheia do palco Club — aliás, a mais cheia do festival.
James Blake – Depois de apresentar DJ set no primeiro dia, o britânico James Blake voltou ao festival para se apresentar ao vivo na noite deste sábado. Ao contrário de sua primeira aparição, que reuniu uma plateia ainda rarefeita, o show no palco Hall estava cheio. No entanto, o público se debandou para outros palcos aos poucos, provando que o som de Blake é mesmo um caso de ódio ou amor. Nos vocais, teclados e sintetizador, Blake criou um clima intimista misturando música eletrônica com outros estilos, como o R&B e o soul. O músico apresentou músicas como Limit to Your Love e The Wilhelm Scream, a faixa mais bonita ao vivo.