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Cannes tem abertura morna com filme com Catherine Deneuve

'La Tête Haute', de Emmanuelle Bercot, muitas vezes abusa da psicologia barata e cai em armadilhas bobas, criando eventos inverossímeis

Por Mariane Morisawa, de Cannes
13 Maio 2015, 21h11
Cena do filme 'La Tête Haute'
Cena do filme ‘La Tête Haute’ (VEJA)

A impressão que se tinha antes das primeiras exibições de La Tête Haute (A cabeça erguida, em tradução direta), de Emmanuelle Bercot, para a imprensa, na quarta-feira, era de que se tratava de um filme com pouco estofo para abrir o 68º Festival de Cannes. Tudo bem que nos últimos dois anos o evento não deu muita sorte, com o desastroso Grace: A Princesa de Mônaco, de Olivier Dahan, que nem vai ser lançado nos cinemas americanos, e O Grande Gatsby, de Baz Luhrmann. Mas, sem dúvida, eram produções que provocavam interesse.

Apesar da presença da estrela-mor do cinema francês, Catherine Deneuve, em boa atuação, o longa de Bercot, exibido fora de competição, confirmou as suspeitas. A única explicação para sua seleção em janela tão nobre é, provavelmente, a vontade de dar uma forcinha ao cinema do continente europeu, combalido após anos de crise econômica.

La Tête Haute conta a história de Malony (Enzo Trouillet quando criança e Rod Paradot na fase adolescente), que o público vê pela primeira vez quando sua irresponsável mãe (Sara Forestier) o abandona em plena reunião com a juíza da vara da infância Florence (Catherine Deneuve). A partir daí, o garoto entra e sai daquela sala muitas vezes, passa por diversos conselheiros, até parar em Yann (Benoît Magimel). Florence e Yann fazem de tudo para ajudar Malony, dado a repentes de raiva e agressividade. Mas as mudanças não são tão fáceis de operar numa criança que foi mal cuidada.

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Claro que a situação na França é bem diferente da do Brasil, por exemplo, então às vezes fica difícil engolir certas dificuldades dos personagens. Bercot, que também é co-roteirista com Marcia Romano, consegue escapar de alguns clichês na composição das personalidades, ajudada por interpretações fortes de Deneuve, Magimel e Paradot, descoberto num curso de carpintaria. Mas muitas vezes abusa da psicologia barata. O roteiro cai em armadilhas bobas, criando eventos cada vez mais inverossímeis na vida do garoto. Em dado momento, parece que uma virada para o bem se dá depois de ele ser submetido a uma simples massagem – uma atividade obrigatória no centro de detenção para jovens onde se encontra. Também falta a Bercot um pulso mais forte como cineasta para fazer algo realmente importante e marcante, como os irmãos Dardenne, provavelmente seu modelo na hora de fazer uma análise sobre a realidade de seu país.

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‘Il Racconto dei Racconti’, de Matteo Garrone

Depois de estourar com Gomorrah e Reality, o diretor italiano volta-se para os contos de fadas, adaptando histórias de Giambattista Basile (1566-1632), que reuniu algumas das primeiras versões de Rapunzel e Cinderela. No elenco, Salma Hayek, Vincent Cassel e John C. Reilly. É o primeiro filme do cineasta falado inglês.

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The Lobster
The Lobster (VEJA)

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‘Irrational Man’, de Woody Allen

Emma Stone faz seu segundo trabalho em sequência com o veterano diretor nova-iorquino, com quem já rodou Magia ao Luar (2014). Ela é a estudante por quem um professor de filosofia em crise existencial (Joaquin Phoenix) se apaixona, encontrando propósito na vida. O longa-metragem foi rodado na pitoresca Newport, no Estado de Rhode Island. 

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‘Mia Madre’, de Nanni Moretti

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O italiano Nanni Moretti gosta de usar elementos autobiográficos. Em Mia Madre, usa a experiência de perder sua mãe durante as filmagens de Habemus Papam (2011) como a inspiração para a cineasta Margherita (Margherita Buy), que tenta levar adiante seu longa de fundo político enquanto cuida da mãe e lida com um astro complicado (vivido por John Turturro).  

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‘Carol’, de Todd Haynes

Baseado em um romance de Patricia Highsmith, mostra a história da jovem Therese (Rooney Mara) que se apaixona por Carol, uma mulher casada e mais velha (Cate Blanchett), na Nova York dos anos 1950. Kyle Chandler (Bloodline) interpreta o marido de Carol. Entre Eu Não Estou Lá (2007) e Carol, Todd Haynes fez a minissérie Mildred Pierce

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Sicario
Sicario (VEJA)

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‘Youth’, de Paolo Sorrentino

Em seu segundo filme falado em inglês – o primeiro foi Aqui É o Meu Lugar, com Sean Penn –, o italiano Paolo Sorrentino mostra dois velhos amigos, o compositor e maestro Fred (Michael Caine) e o cineasta Mick (Harvey Keitel), em férias num hotel nos Alpes. Paul Dano, Jane Fonda e Rachel Weisz também estão no elenco. 

Love
Love (VEJA)

Macbeth
Macbeth (VEJA)

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Conto de fadas gótico – Enquanto isso, Il Racconto dei Racconti (Conto dos contos, em tradução direta), do italiano Matteo Garrone, exibido para a imprensa na noite da terça-feira, dentro da competição pela Palma de Ouro, mergulha no universo aparentemente pouco realista dos contos de fada. Ele baseou-se nas histórias coletadas por Giambattista Basile (1570-1632), depois recontadas pelos irmãos Grimm e Charles Perrault.

Mas, claro, não se trata de uma versão doce e delicada como nos filmes dos estúdios Disney. Garrone segue o espírito das histórias originais de Basile, recriando um universo gótico cheio de violência, sexo e sangue. Ainda assim, dentro desse mundo de fantasia o diretor procurou ser realista, buscando locações que por vezes parecem cenários e construindo monstros com o mínimo de efeitos visuais. Garrone, que faz seu primeiro filme em inglês, inspirou-se em pinturas de Francisco Goya e em filmes de Mario Bava, Federico Fellini e Mario Monicelli.

Il Racconto dei Racconti selecionou três histórias das cerca de cinquenta escritas por Basile, que vão se intercalando. Na primeira, a protagonista é a rainha (Salma Hayek), casada com o rei de Longtrellis (John C. Reilly), capaz de qualquer sacrifício para ter um filho. Na segunda, o rei de Highhills (Toby Jones), um homem infantil, superprotetor da filha Violet (Bebe Cave), cria uma pulga de estimação e depois acaba decepcionando a garota. Na terceira, o rei de Strongcliff (Vincent Cassel), um devorador de mulheres, fica obcecado por duas irmãs trancadas num quarto (Shirley Henderson e Hayley Carmichael).

Apesar de sua natureza episódica, Garrone conseguiu fazer um filme coeso, focado em mulheres. Elas não são as típicas personagens de contos de fadas, princesas indefesas ou rainhas amargas incapazes de amar. Em todos os casos, são autoras de seus próprios destinos, para o bem e para o mal. E relacionam-se com alguns dos dilemas das mulheres de hoje, da obsessão pela juventude à noção de que sem um filho uma mulher não é nada. Um jeito interessante de começar um Festival de Cannes que, ao que parece, vai ser bastante feminino – e, por consequência, feminista.

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