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Abel Ferrara surpreende com sobriedade de ‘Pasolini’

Willem Dafoe é candidato sério ao prêmio de melhor ator por sua interpretação do cineasta italiano

Por Mariane Morisawa, de Veneza
4 set 2014, 15h52

Sempre trabalhando na fronteira do que é considerado de bom gosto, o americano Abel Ferrara gosta de correr riscos. Ninguém melhor do que ele para fazer um filme sobre outro cineasta que não temia a ousadia: o italiano Pier Paolo Pasolini. O longa-metragem Pasolini, que participa da competição do 71º Festival de Veneza, foi exibido para jornalistas na manhã desta quinta-feira.

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Nascido em Bolonha em 1922 e assassinado em Óstia, perto de Roma, em 1975, Pasolini dirigiu filmes de vanguarda como Mamma Roma, O Evangelho Segundo São Matheus e Salò, ou os 120 Dias de Sodoma. Também era poeta, ensaísta, roteirista, filósofo, dramaturgo e colunista. Comunista e católico, criticava o consumismo exacerbado e a influência perversa da televisão, o que de certa forma antecipou as questões enfrentadas pela Itália (e o mundo) nas últimas duas décadas.

Os filmes de Ferrara costumam ser caóticos, mas, para seus parâmetros, pode-se dizer que Pasolini é quase clássico, quase sóbrio. Não há dúvidas de que respeita seu personagem principal, interpretado por Willem Dafoe. “Se estivesse vivo hoje, creio que continuaria o mesmo. Ele estava sob constante pressão e ainda assim reinventou o cinema”, disse Ferrara em coletiva de imprensa no início da tarde. Claro que também não se trata de uma biografia tatibitate sobre o diretor italiano, mas um retrato impressionista de seu último dia, alternando fato e ficção – o diretor filma três cenas de Porno-Teo-Kolossal, que seria o projeto seguinte de Pasolini, com um dos colaboradores mais frequentes do diretor, Ninetto Davoli. Adriana Asti, atriz de Desajuste Social, dirigido por Pasolini em 1961, interpreta aqui sua mãe.

https://youtube.com/watch?v=iOVDmHmisQw

Dafoe, excelente, capta o espírito do cineasta, que tinha suas doses de autoridade e sensibilidade. “Eu mergulhei em tudo o que era Pasolini para habitar seus pensamentos e atitudes”, disse o ator na coletiva de imprensa. “Mas não me separo do filme, não é que interpreto um personagem, queria estar em diálogo com o que ele pensava e fazia.” Ele pode levar a Coppa Volpi de interpretação masculina. Outros atores sofrem um pouco com o misto de italiano e inglês falado no filme.

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Ferrara deixa claro que Pasolini era controverso por suas posições políticas e que muita gente o odiava. Mas não entra na teoria da conspiração em relação a seu assassinato, mostrado como um encontro com um garoto de programa que deu errado e terminou com o diretor atropelado várias vezes por seu próprio carro. Pasolini é um filme bastante bom, só faz falta a contundência habitual de Ferrara.

Red Amnesia – Na noite da quarta-feira, surgiu um candidato sério a prêmios: o chinês Chuangru Zhe (“O intruso”, na tradução literal), ou Red Amnesia em inglês (“Amnésia vermelha”), de Wang Xiaoshuai. Ele é, no mínimo, o favorito à Coppa Volpi de melhor atriz para Lü Zhong, mas pode levar algum outro troféu importante.

O mais curioso é que, até seu terço final, Red Amnesia parece um filme decente, mas sem nada de especial. A personagem principal é Deng, que ficou viúva e sozinha há pouco tempo. Aos 70 anos, ela não para um minuto: visita a mãe no asilo, cozinha para o filho mais novo, Bing (Qin Hao), cozinha para o mais velho, Jun (Feng Yuanzheng), cuida do filho de Jun, seu neto, e irrita a nora, Lu (Amanda Qin). Jun está bem de vida e vive em um apartamento moderno. Deng tem problemas com Bing, por ele ser gay. De repente, ela começa a receber ligações anônimas. Será tudo obra de um fantasma? Mas as chamadas se tornam mais frequentes e culminam com um tijolo quebrando a janela da sala do minúsculo apartamento. Os filhos, que achavam ser tudo uma maluquice da cabeça de Deng, preocupam-se. Logo, o espectador fica sabendo que um rapaz (Shi Liu) está seguindo a velhinha.

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Red Amnesia começa como um drama familiar, apontando sutilmente as diferenças geracionais, acrescenta mistérios e elementos sobrenaturais e por fim surpreende novamente ao incorporar o passado cruel da China comunista. Sem dúvida, é um dos filmes mais sólidos da competição.

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