Pesquisadores desvendam ação de fungo responsável por ameaçar de extinção diversas espécies de anfíbios
O fungo provoca a morte dos leucócitos, células de defesa do organismo
Há mais de 40 anos, um fungo vem devastando diversas espécies de sapos em todo o mundo. Só no fim da década de 1990, pesquisadores descobriram que se tratava do Batrachochytrium dendrobatidis, causador de uma infecção denominada quitridiomicose, reconhecida como a principal responsável pelo declínio global de anfíbios.
CONHEÇA A PESQUISA
Título original: The Invasive Chytrid Fungus of Amphibians Paralyzes Lymphocyte Responses
Onde foi divulgada: periódico Science
Quem fez: J. Scott Fites, Jeremy P. Ramsey, Whitney M. Holden, Sarah P. Collier, Danica M. Sutherland, Laura K. Reinert, A. Sophia Gayek, Terence S. Dermody, Thomas M. Aune, Kyra Oswald-Richter e Louise A. Rollins-Smith
Instituição: Universidade Vanderbilt, nos EUA
Resultado: Os pesquisadores descobriram que o fungo Batrachochytrium dendrobatidis, atualmente reconhecido como o principal contribuinte para o declínio global de anfíbios, provoca o “suicídio” dos leucócitos, células de defesa do organismo.
Após mais de dez anos de estudo, uma equipe de cientistas americanos conseguiu pistas sobre o mecanismo de ação deste fungo. O mistério era ainda maior levando em consideração que os anfíbios possuem um sistema imunológico quase tão complexo quanto o dos seres humanos, e por isso deveriam ser capazes de reconhecer o fungo e se defender dele.
Em pesquisas anteriores, os estudiosos demonstraram que a pele de sapos produz uma primeira camada de defesa. Quando o invasor ultrapassa essa barreira e atinge outros tecidos subcutâneos, uma resposta do sistema imunológico deve ser ativada para expulsá-lo. Ao entrar na pele, o B. dendrobatidis danifica uma camada fundamental para que os anfíbios se mantenham hidratados.
Agora, os pesquisadores observaram que o fungo não afeta as células envolvidas na primeira etapa da resposta imunológica dos anfíbios, mas inibe diversas células do seu organismo. A pesquisa foi publicada na última quinta-feira, na revista Science.
Leucócitos – Entre as células afetadas estão os leucócitos, que compõem o mecanismo de defesa do corpo. Na presença do fungo, os leucócitos são levados a cometer apoptose, um tipo de suicídio celular. A apoptose é um processo natural que descarta células velhas ou danificadas, à medida que novas são produzidas. O fungo, porém, modifica esse ciclo e elimina os leucócitos, impedindo que o organismo do anfíbio combata o invasor.
O fator tóxico do fungo, responsável por seu efeito devastador, ainda não foi identificado. Até o momento, os cientistas descobriram que provavelmente não se trata de uma proteína. Isso porque, durante os testes, o fungo se mostrou resistente ao calor e à protease, uma enzima que quebra proteínas. A principal suspeita é que esse fator esteja na parede celular do fungo, uma estrutura que confere proteção e rigidez à célula: quando estava em forma de esporo, um fungo ainda imaturo, que não apresenta parede celular, o B. dendrobatidis não provocou o mesmo efeito.
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