Pop de elevador do Tears for Fears põe tiozinhos para dançar
Em show nostálgico, os vocalistas Roland Orzabal e Curt Smith desfilaram hits de outros tempos para plateia madura
O compromisso com a perfeição técnica, tanto na performance vocal de Orzabal e Smith, quanto na sincronicidade entre as vozes e os instrumentos, resultou num show quase sem emoção que, em sua maior parte, acabou vindo do lado de fora do palco, a partir da empolgação do público em dar vazão à sua nostalgia musical.
A força do pop foi capaz de convencer uma plateia madura a sair de casa, cruzar a Marginal Pinheiros, em São Paulo, para relembrar os tempos de discoteca durante o show do Tears for Fears, na noite desta quinta, no Credicard Hall. Os jovens, no caso, foram à casa noturna para acompanhar os pais e ver ao vivo a performance de músicos que só conhecem a voz através das rádios.
Sem lançar um disco novo desde 2004, quando o álbum Everybody Loves a Happy Ending marcou a retomada da parceria desfeita desde 1990 entre Roland Orzabal e Curt Smith, a dupla apostou em sucessos de três décadas atrás. Acomodado em poltronas dispostas na área que, em outros shows da casa, seria destinada à pista, o público se levantou para cantar e dançar clássicos dos anos 80, como Everybody Wants to Rule The World, The Seeds of Love, Mad World, Woman in Chains e Advice for the Young at Heart.
A dupla também interpretou algumas canções do álbum mais recente. A clara influência dos Beatles, principalmente do disco Sargent Peppers Lonely Heart Clubs Band, nas composições satisfez ainda mais a busca do público por satisfazer sua nostalgia musical.
Nos vocais, o simpático e em ótima forma vocal Orzabal fez piada sobre a longevidade das mesmas músicas tocadas pela banda em sua última passagem pelo Brasil, há 15 anos. “Estamos muito felizes por estar de volta nessa magnífica cidade. Estive aqui há 100 anos e foi fantástico”, disse em português com sotaque espanhol, extraído de sua descendência latina. A faixa etária da plateia também foi alvo do bom humor do vocalista. “Não chore, por favor, você me faz lembrar do meu pai”, disse o músico quando provocou alguém da plateia.
Até mesmo Curt Smith parece ter se surpreendido com a perenidade do sucesso da banda, após mais de trinta anos desde seu auge. “O combinado era fazermos apenas este show, mas como os ingressos se esgotaram rapidamente, voltaremos na semana que vem”, comunicou o público. O Tears for Fears também passa pelo Rio de Janeiro, neste sábado, por Belo Horizonte, neste domingo e se apresenta em São Paulo novamente no dia 14.
Exceto as rápidas interações de Orzabal com a plateia, o show soou exatamente igual às gravações que nos acostumamos a ouvir nas rádios, dentro de elevadores ou nas salas de espera de consultórios, nas últimas três décadas. O compromisso com a perfeição técnica, tanto na performance vocal de Orzabal e Smith, quanto na sincronicidade entre as vozes e os instrumentos, resultou num show quase sem emoção que, em sua maior parte, acabou vindo do lado de fora do palco, a partir da empolgação do público em dar vazão à sua nostalgia musical.