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Prisão do traficante Nem dá fôlego à propaganda da pacificação do governo Cabral

Captura do bandido mais procurado do Rio repete, um ano depois, o efeito midiático da tomada do Complexo do Alemão. Na Rocinha, no coração do bairro de São Conrado, operação será mais delicada

Por Da Redação
10 nov 2011, 17h58

No momento em que a política de segurança do governador Sérgio Cabral tropeçava em problemas de corrupção nas UPPs e de truculência do Exército no Complexo do Alemão, o êxito da polícia na prisão do traficante mais procurado do Rio dá novo fôlego ao governo. E renova o efeito midiático da “tomada do Alemão”, que, há um ano, criava uma onda de repercussão positiva para as ações da polícia no estado. Se no Alemão o sucesso da operação foram os carros blindados galgando posições no morro, na Rocinha a captura de Antônio Francisco Bonfim Lopes, 35 anos, o “Nem da Rocinha”, antes mesmo da subida das tropas, serve como clímax antecipado do plano do estado.

A prisão do bandido funciona, para Cabral e seu secretário de Segurança, José Mariano Beltrame, como um gol de bicicleta para um time que procura afirmação no campeonato. Nas outras ocupações de favelas para a criação de Unidades de Polícia Pacificadora (UPPs), a ação foi bem-sucedia, não houve vítimas inocentes, o território foi recuperado. Mas o bandido, o chefe de quadrilha, sempre escapou. No Alemão, aliás, a fuga em massa de centenas de criminosos entrou para a história como um marco da chegada das Forças Armadas e das polícias estaduais.

Nem não deu sorte. Cabral estava em um dia iluminado. Desta vez, como explicou o chefe do Estado Maior da Polícia Militar, coronel Pinheiro Neto – um ‘caveira’ formado nas fileiras do Batalhão de Operações Especiais (Bope) – o plano era evitar que os criminosos buscassem abrigo em favelas controladas pela mesma facção da Rocinha, os Amigos dos Amigos (ADA). Este era o plano, mas interceptar Nem, o alvo maior da ação, era algo incerto.

“Entre centenas de veículos, os policiais suspeitaram exatamente daquele carro, um Toyota Corolla preto, que descia pela Rua Marquês de São Vicente”, detalhou o oficial, fazendo referência ao momento da abordagem do carro em que estava o bandido, na Gávea.

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Nem, que considerava-se dono da Rocinha, sustentava-se por uma extensa e robusta rede de corrupção. Nunca se provou quem e quantos policiais integravam seu grupo de guarda-costas, mas as suspeitas pairavam até sobre policiais da tropa de elite da PM, o Bope, do qual saíram Pinheiro Neto e o ex-comandante-geral da corporação, coronel Mário Sérgio Duarte.

Ocupação – A “recuperação” da Rocinha, como chamou Pinheiro Neto na manhã desta sexta-feira, rejeitando o termo “invasão” – quem invadiu foi o bandido, disse – deve estar concluída até o próximo domingo, como avisou Sérgio Cabral. A julgar pelas últimas ocupações, e principalmente pela do Alemão, que mais se aproxima da Rocinha, pelo tamanho da favela, há etapas razoavelmente previsíveis para os próximos dias.

Como em novembro do ano passado, estão autorizadas as participações de militares das Forças Armadas, e mais uma vez a subida do morro deve contar com blindados da Marinha, os mesmos que puseram para correr o bando do Alemão. O desmonte da quadrilha é outra etapa necessária. Na Rocinha, diz a polícia, funciona até uma refinaria de cocaína, pois os bandidos comandados por Nem aprenderam que comprar a pasta-base da coca e processar, para obter o pó que alimenta os negócios dos “Amigos”, rende muito dinheiro.

Com a prisão de Nem e de dois de seus comparsas, detidos na tarde de quarta-feira, reduzem-se as chances de uma reação armada do tráfico, mas na Rocinha, o tiro tem repercussão para além do estampido nas ruelas da favela. O bairro de São Conrado tem um dos dois shoppings mais caros do Rio, condomínios de alto luxo, um hotel – que já foi invadido por comparsas de Nem, em fuga – e posição estratégica. Separado por túneis do bairro do Leblon e da Barra da Tijuca, é o caminho natural de grande parcela da classe média carioca nos dias úteis.

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Por isso o domingo, e por isso a expectativa de que, neste fim de semana, será preciso isolar São Conrado e a Rocinha do resto da cidade.

O secretário Beltrame afirmou, em entrevista à TV Globo, na tarde desta quinta-feira, que cada favela é uma favela, e que há características específicas em cada ocupação. Na Rocinha, se a tomada do território pode não ser tão complexa quanto no Alemão, a manutenção da ocupação e o controle sobre a tropa que lá ficará será um desafio. Passado o alvoroço da ocupação, o Alemão só foi lembrado quando havia alguma inauguração, uma agenda positiva do próprio estado, ou quando o barulho era grande. Em uma dessas ‘interferências’, traficantes abriram fogo contra os militares. Em outra, grupos certamente orientados por criminosos chamaram o Exército de “comando verde”, numa acusação sobre truculência e a substituição da crueldade do tráfico pela do estado.

Na Rocinha, os problemas da ocupação até a chegada da UPP tendem a repercutir mais e mais rápido. E não será preciso mais que um disparo para alvoroçar a população.

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