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Planalto e Congresso: uma relação em crise

Parlamentares, alegando cansaço por causa da falta de diálogo com governo, começam a agir com as armas que têm: impedindo votações na Câmara

Por Adriana Caitano
11 ago 2011, 18h06

Nos últimos dias, enquanto Dilma Rousseff enfrenta problemas em boa parte de seus ministérios e tenta evitar os efeitos da crise econômica no Brasil, uma antiga pedra no sapato da presidente provocou ainda mais calos em seus pés: o Congresso Nacional. Irritados com a faxina no Ministério dos Transportes, da cota do PR, com a operação Voucher, da Polícia Federal (PF), que fez uma devassa no Ministério do Turismo, comandado pelo PMDB, com a demora para a aprovação de emendas parlamentares e com a falta de diálogo com o Planalto, deputados da base resolveram obstruir as votações no plenário da Câmara até a próxima terça-feira. A insatisfação com o governo uniu os partidos aliados, o que deu esperanças à oposição de que poderá ser possível coletar assinaturas para criar uma CPI que investigue os escândalos de corrupção.

Oficialmente, governistas evitam falar em crise política, mas não negam que a relação do Planalto com a Câmara está em uma má fase. Na quarta-feira, o líder do governo na Câmara, Cândido Vaccarezza (PT-SP), admitiu haver uma “insatisfação generalizada” entre os aliados. Um dia depois voltou atrás. “Nunca um presidente teve uma base tão leal e com unidade como a Dilma”, disse. Os peemedebistas não disfarçam. “Não adianta querer tampar o sol com a peneira. É fato que existem insatisfeitos”, comenta o presidente do PMDB, senador Valdir Raupp (RO). O líder do partido no Senado, Renan Calheiros (AL), é mais direto: “As insatisfações políticas existem, muito pelo desejo frustrado da base de participar do governo. Estamos trabalhando para diluir esses desalinhos pontuais e unificar a base, porque não é possível conciliar uma crise econômica com uma política”.

O líder do PR na Câmara, deputado Lincoln Portela (MG), reforça que a base governista tende a ser mais fiel que nos últimos anos, mas a falta de diálogo com o Planalto tem minado essa dedicação. O parlamentar diz ter procurado representantes de Dilma diversas vezes para alertá-los de que a falta de tato na conversa com os deputados poderia ter consequências ruins. Diz não ter sido ouvido. “Chega uma hora que a base só pode falar por libras, a linguagem de sinais. E o sinal foi a obstrução”, destaca.

Portela compara a relação Câmara-Planalto com um casamento em que a mulher dá carinho ao marido e ele não a trata bem. “O que levou a base a agir assim foi o próprio governo, que nunca soube conversar de forma polida e atenciosa com os parlamentares”, afirma.

Os governistas reconhecem que a ex-senadora e atual ministra das Relações Institucionais Ideli Salvatti tem se esforçado para melhorar o clima na relação com o Congresso. No entanto, os recados que chegam do Planalto não agradam. “O governo nos coloca como chantagistas, dizendo que só votamos em troca de emendas parlamentares e cargos. Na verdade, não queremos nada além do cumprimento da lei orçamentária para cumprirmos os tratos legítimos feitos com os municípios e estados”, completa o líder do PR.

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Brecha – Quem pretende tirar proveito do momento crítico é a oposição. Nesta quinta-feira, líderes dos principais partidos oposicionistas divulgaram um requerimento para criar a Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) da Corrupção para investigar os ministérios envolvidos em escândalos. Para viabilizar a comissão, são necessárias 171 assinaturas da Câmara e 27 do Senado. “Claro que é difícil conseguirmos, mas estamos vendo que há insatisfação na base e temos a expectativa de que novas circunstância possam fazer muitos apoiarem a CPMI”, acredita o líder do PSDB no Senado, Alvaro Dias.

O senador tucano ressalta que o recado dado pela presidente na reunião do Conselho Político de terça-feira, quando ela pediu a união da base, é um sintoma de que as coisas não andam bem. “A Ideli está sempre tentando apagar a fogueira, fazendo todo um esforço para manter o bom relacionamento com o Congresso. Mas esse mesmo esforço indica que há uma turbulência. Senão nem precisariam pedir nada”, defende.

Tiro no pé – O consenso entre governistas insatisfeitosé que Dilma ainda não achou o tom certo de sua gestão. Desde que foi anunciada como candidata à sucessão de Lula, ela enfrentou desconfianças sobre sua capacidade de agir por conta própria. No início do ano, diante da primeira crise de seu mandato, envolvendo o ex-ministro da Casa Civil Antonio Palocci, a presidente demonstrou insegurança, evitou comentar o caso e deixou Lula dominar a cena, provando que as críticas não estavam tão erradas.

Após a queda de Palocci, Dilma tentou resolver o problema. Remanejou ministros, quebrou o silêncio e tentou mostrar que estava no comando. Com isso, a imagem de autoritária e intransigente que tinha quando ministra foi reforçada. E, a cada bronca dada a ministros ou frase atravessada solta em reuniões, Dilma perde um ponto com seus aliados. Eles têm concluído que, no afã de dizer que consegue governar sozinha, a presidente acabou se tornando vítima de si mesma.

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