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Marina Silva e aliados preparam criação de ‘pré-partido’

Grupo, batizado temporariamente de 'Movimento Verde de Cidadania' será teste e abrigo para ideias de marineiros até que legenda oficial possa sair do papel

Por Adriana Caitano
28 jun 2011, 07h28

Enquanto não anunciam a cada vez mais próxima saída em bando do Partido Verde (PV), a ex-senadora Marina Silva e seus aliados decidiram criar um grupo para servir de cobaia para um futuro partido. Batizado provisoriamente de “Movimento Verde de Cidadania”, ele terá os moldes de uma legenda política, mas só deverá ser oficializado como tal após as eleições municipais de 2012.

A proposta tem sido analisada há algumas semanas por Marina e os nomes mais ligados a ela, integrantes do grupo Transição Democrática que, desde março, tentam implantar mudanças na estrutura do PV. O movimento será organizado politicamente para abrigar as ideias que, por enquanto, estão sendo recusadas pelo presidente do partido, o deputado federal José Luiz Penna (RJ) – com quem os marineiros travam uma guerra interna. Ao que tudo indica, o anúncio oficial será no final da próxima semana, quando Marina Silva deverá dizer, enfim, se abandonará a legenda com a qual conquistou quase 20 milhões de votos na corrida à Presidência da República, em 2010.

Vice-presidente do PV e braço direito de Marina, o deputado federal Alfredo Sirkis (RJ) evitou apimentar ainda mais o clima de confronto. “Queremos fugir da dinâmica clássica dos partidos de esquerda, em que sempre há rachas. Tentamos apenas canalizar as nossas energias para um instrumento mais democrático e estimulante, construtivo de se trabalhar, sem divergências”, comenta. Assim que a estrutura do Movimento Verde de Cidadania estiver montada – com estatuto, diretoria eleita, ata de fundação e CNPJ -, ele será registrado como associação civil, uma entidade sem fins lucrativos.

Questionado sobre o motivo de o grupo não apostar em um novo partido de imediato, Sirkis diz prezar pela cautela. “Se a gente criasse uma legenda agora, apressadamente, correria risco de ter os mesmos problemas do PV atual”, pondera. “Primeiro queremos consolidar os canais democráticos na era das redes sociais e, quando o movimento crescer, passadas as eleições de 2012, aí sim, partir para a criação no cartório para concorrer na próxima disputa”.

Desânimo – Apesar de tentar negar que tenha batido o martelo sobre a saída do PV, o grupo de Marina duvida da possibilidade de uma reviravolta no clima de enterro que predomina no partido. A única manifestação recente dos aliados de Penna foi a entrevista da secretária de Assuntos Jurídicos do partido, Vera Motta, concedida ao jornal Folha de S. Paulo no dia 17, em que ela avisava que Marina “não faria falta” se deixasse a legenda, mensagem entendida pelos marineiros praticamente como uma expulsão. “Se ninguém a desautorizou é porque ela falava em nome do presidente”, conclui Sirkis à ocasião.

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No mesmo dia, Sirkis divulgou em seu blog um texto em clima de despedida e enviou para Penna uma lista de condições para que seu grupo permanecesse na legenda. Até agora, porém, não houve nenhum sinal de que os itens serão atendidos. Penna se recusa a atender a imprensa e não marcou qualquer reunião com o grupo de Marina para negociar as reivindicações.

Integrantes do próprio PV criam imagem indicando que Marina Silva e seus aliados no partido não são bem-vindos
Integrantes do próprio PV criam imagem indicando que Marina Silva e seus aliados no partido não são bem-vindos (VEJA)

Para completar, neste fim de semana começou a circular em grupos do PV na internet uma montagem com fotos de lápides nas quais estão escritos os nomes de Marina Silva e seus principais escudeiros: Sirkis, o empresário Guilherme Leal, o ex-coordenador da campanha presidencial João Paulo Capobianco, o ex-deputado federal Fernando Gabeira e o ex-presidente do PV de São Paulo Maurício Brusadin, citado com o apelido “Abuzadin”. “Eles estão agindo violentamente contra nós”, comenta o verde paulista. “É como se nós tivéssemos morrido para eles, isso tudo parece indicar alguma coisa negativa”, acrescenta Sirkis.

Outro sinal de que a debandada é inevitável é a preocupação de verdes que exercem algum mandato eletivo ou têm pretensões eleitorais para 2012 em ficarem sem partido. O próprio deputado Sirkis já está consultando advogados para saber as complicações jurídicas de quem se desfiliar. Os pré-candidatos, porém, devem permanecer filiados e só sairiam caso o Movimento Verde de Cidadania se tornasse uma legenda oficial.

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Indecisão – No segundo turno das eleições de 2010, quando o apoio do PV e de Marina era disputado por Dilma Rousseff (PT) e José Serra (PSDB), a ex-senadora resolveu ouvir o que ela chamava de “núcleos vivos da sociedade” para tomar sua decisão, que demorou mais que o necessário para sair. Agora ela resolveu repetir a dose de “diplomacia de Poliana”, como o ex-presidenciável Plínio de Arruda Sampaio (PSol) se referia à verde durante a disputa.

Depois de conversar com amigos e apoiadores, Marina resolveu sair de cena: para esfriar o debate, viaja nesta semana para a Alemanha, onde participará de um encontro de partidos verdes de todo o mundo. Lá, ouvirá a opinião de pessoas como Catherine Grèze, representante da federação dos partidos verdes da Europa, que incentivou a candidatura da ex-petista.

Na volta, na próxima quarta-feira, Marina marcará uma plenária nos moldes das eleições de 2010 para pedir a opinião de amigos, como a socióloga Neca Setúbal. “Quando você quer se casar, consulta pais e amigos para ver se está fazendo o certo. Quando pensa em desfazer o casamento, também”, defende Brusadin. “Uma liderança compartilhada pensa assim, tem que ver o que cada um está achando disso tudo. É o jeito da Marina de fazer política”.

Só depois de todas essas etapas, na quinta-feira, é que a verde anunciará sua decisão de permanecer no PV – apesar da crise e da campanha interna para sua saída – ou deixar o partido menos de dois anos após ter se filiado, quando retirou-se do PT após acirrados confrontos com a então ministra Dilma Rousseff.

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