Mais um capítulo da tragédia
Em 2008, as chuvas que desabaram sobre Santa Catarina deixaram 51.297 desalojados e 27.410 desabrigados. Três anos depois, a catástrofe se repete
A principal diferença entre as enchentes de 2008 e a deste ano é que naquela época houve 4.000 deslizamentos de terra, o que causou a morte de 97% das vítimas
Em 26 de novembro de 2008, uma quarta-feira, o presidente Lula assinou uma medida provisória que liberou 1,6 bilhão de reais para remediar catástrofes naturais em estados do Sul e do Sudeste, agredidos pelas chuvas, e do Nordeste, atingidos pela seca. O dinheiro foi liberado poucos dias depois de uma das maiores tragédias da história do Brasil, quando as tempestades que desabaram sobre Santa Catarina deixaram 137 mortos, 51.297 desalojados e 27.410 desabrigados. A recuperação foi lenta. Um ano depois, 2.400 famílias permaneciam desabrigadas no estado e 3.600 continuavam desalojadas. Dois anos depois, 120 famílias ainda viviam em abrigos da prefeitura, à espera da casa própria.
Do total liberado pela União para a assistência às áreas atingidas, Santa Catarina ficou com 1.1 bilhão de reais ─ 129 milhões vieram do Ministério dos Transportes), 100 milhões da Defesa, 100 milhões da Saúde, 350 milhões dos Portos e 85,1 milhões da Integração Nacional. Outros 360 milhões de reais foram repassados pelo Ministério da Fazenda por meio de títulos públicos que cobriram despesas do governo estadual com a catástrofe.
Nesta sexta feira, aconteceu novamente: as chuvas deixaram três mortos e 65.701 moradores em 85 municípios abandonaram suas casas. Mais de 800 000 pessoas foram afetadas e 34 cidades decretaram estado de emergência.
“Cerca de 30% da população brasileira vive em áreas de risco”, observa Márcio Luiz Alves, major da Defesa Civil de Santa Catarina. “Aqui no estado não é diferente. Apesar disso, desde 2008, fizemos um trabalho grande para a retirada da população desses locais e para a contenção das encostas”.
Alves explica que a principal diferença entre as enchentes de 2008 e a deste ano é que naquela época houve 4.000 deslizamentos de terra, o que causou a morte de 97% das vítimas. Hoje, o maior problema são as enchentes, consideradas menos fatais. “O alerta de alagamentos também foi dado em 2008, mas não é possível prever deslizamentos”, avisa Alves. Até agora, foram 137 deslizamentos.
Há três anos, as chuvas em Santa Catarina deixaram 63 municípios em estado de emergência e 14 em estado de calamidade pública. Brusque, Ituporanga, José Boiteux, Navegantes, Pouso Redondo, Rio dos Cedros, São João Batista e Tijucas decretaram estado de emergência tanto em 2008, quanto em 2011.
Blumenau, uma das cidades mais afetadas, criou um novo sistema de mapeamento de áreas de risco, com uma classificação baseada em cores: vermelho (proibido construções), amarela (área de alerta permanente) e verde (liberado para construções). A Defesa Civil do município tinha seis funcionários em 2008. Hoje, tem com 48. Apesar das melhorias, o município registrou, até a noite desta sexta-feira, 280.000 áreas afetadas pelos alagamentos e 15.000 desalojados.