Família de mulher morta no Alemão vai deixar o Rio
Viúvo de Arlinda Bezerra das Chagas decide abandonar a cidade, com medo da guerra do tráfico. Bandidos atacaram UPP na noite de domingo
Antes da ocupação de favelas do Rio pela polícia, uma triste repetição de despedidas marcava os bairros violentos da cidade. Eram as famílias expulsas do Rio com medo dos tiroteios, assaltos e assassinatos, geralmente traumatizadas pela perda de algum parente. Veio a “pacificação”, e a convicção de que houve uma redução da criminalidade deu alguma tranquilidade aos cariocas. Com a volta dos tiroteios, algumas fugas são inevitáveis. A família da aposentada Arlinda Bezerra das Chagas, de 72 anos, que morreu baleada na de domingo, no Complexo do Alemão, decidiu deixar a cidade, como medida extrema para se afastar da guerra do tráfico.
Segundo o viúvo de Dona Dalva, como Arlinda era conhecida, a família pretende retornar para o Rio Grande do Norte, de onde ele e a esposa saíram havia 52 anos para tentar uma vida melhor no Rio. Desde então, o casal que tem um filho e duas netas, mora no Alemão.
“A gente estava comemorando os 72 anos dela, completados na quarta-feira. Ela saiu de casa para deixar o sobrinho de 10 anos na casa da irmã, escutamos muitos tiros e descobrimos que ela morreu. Agora estou sem rumo. Se fosse tomar alguma providência, viraria bandido. Vou deixar com a justiça divina”, afirmou o viúvo, que pretende retornar para a cidade de Currais Novos (RN).
A nora de Dona Dalva, Maria Francisca de Assis, de 44 anos, foi a primeira a encontrá-la baleada. “Ouvi os gritos me chamando. Quando cheguei, ouvi o pedido: ‘Não me deixe morrer, por favor’. Ela estava perdendo muito sangue”, contou.
Ao lado da corpo os moradores encontraram duas cápsulas, que seriam de pistola 0.40, que serão entregues à Polícia Civil. O beco Vila Vítor, local do crime, permanecia com poças de sangue até as 11h desta segunda-feira. Moradores disseram que a perícia ainda não havia sido feita no local. O caso é investigado pela Divisão de Homicídios.
Em nota, a Coordenadora de Polícia Pacificadora da Polícia Militar (PM) informou que policiais realizavam patrulhamento por volta das 18h de domingo quando foram atacados por traficantes armados. Houve confronto. Arlinda foi baleada e socorrida pelo motorista de uma Kombi, que a levou para a Unidade de Pronto Atendimento (UPA) da região. O tiroteio prosseguiu, com bandidos disparando contra a UPP do local. Na noite de domingo, moradores realizaram um protesto à noite na parte baixa do complexo de favelas.
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(Com Estadão Conteúdo)