Exército vai apertar o cerco no Complexo do Alemão
Comandante militar do Leste avisa: "Às 22 horas tem que ter sono para todo mundo"
Se há insatisfação dos moradores do Complexo do Alemão com o rigor e as abordagens do Exército, o tumulto do último domingo e seus desdobramentos violentos serviram para aumentar esse tipo de tensão. Na tarde desta quarta-feira, o comandante militar do Leste, general Adriano Pereira Júnior, anunciou que cerca de 200 homens vão se juntar aos mais de 1.600 militares que já atuam na região. E uma prática será intensificada: as revistas detalhadas de quem entra e sai das favelas.
Segundo o oficial, as revistas, feitas com frequência nos primeiros dias de ocupação, em novembro do ano passado, têm objetivo de dificultar a o movimento de armas, drogas e dinheiro entre traficantes de fora e de dentro das favelas do Alemão e do Complexo da Penha. Os moradores, desde o início, se sentiram incomodados.
As revistas, assim como a presença da tropa, é um preço a se pagar. Durante décadas, foi o tráfico quem deu as ordens. Os traficantes, como se sabe, não saem por decreto. E restaurar a segurança no Alemão passa, necessariamente, pela eliminação das armas, principalmente as de grande porte. É provável que a venda de drogas, ainda que de forma discreta, seja mantida, como ocorre em áreas nobres do Rio, de São Paulo e de qualquer grande cidade brasileira. E o desejável é que qualquer bandido, grande ou pequeno, seja preso, julgado e condenado. Mas desde o início o compromisso da pacificação não é eliminar o tráfico, mas desarmar o bandido e acabar com as áreas controladas pelas quadrilhas.
A convivência entre jovens que estavam acostumados à permissividade total e quase dois mil homens do Exército não é e não será fácil. O comandante militar do Leste admitiu que traficantes ainda operam no Alemão. “Existe tráfico. Paz completa, não há. Há o medo da população de que os traficantes possam retornar”, disse.
O mesmo oficial, no entanto, dá também sua visão do que é manter o Alemão ocupado. “A lei é clara, 22 horas tem que ter sono para todo mundo, para nós e para quem mora lá”, avisou, num sinal de que as ordens para cortar o som e fechar o bar vão continuar.
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