Empreiteiro que denunciou cobrança de propina em Teresópolis pede proteção policial para a família
Dono da construtora RW, que prestou depoimento ao Ministério Público relatando irregularidades, afirma que sua segurança está em risco
“Eu fui de livre vontade ao Ministério Público Federal fazer este depoimento. Fui porque não recebi o pagamento pelos serviços prestados e por ter o pagamento da dívida da prefeitura com minha empresa condicionado ao pagamento de propina a agentes da prefeitura”, disse Oliveira
O dono da RW Construtora e Consultoria Ltda, José Ricardo de Oliveira, pediu nesta segunda-feira, durante depoimento à CPI da Assembleia Legislativa do Estado Rio de Janeiro (Alerj) que investiga desvio de recursos destinados à reconstrução de cidades da região serrana do Rio, proteção para ele e a família. “Esse depoimento (ao Ministério Público) não deveria ter vazado, pois está em jogo minha integridade e de minha família”, afirmou. Foi Oliveira quem trouxe à tona o esquema de corrupção na prefeitura de Teresópolis após as chuvas de janeiro que deixaram mais de 900 mortos.
Em troca de perdão judicial, o empresário contou ao Ministério Público que a tragédia fez com que a ‘taxa’ de propina paga aos secretários municipais subisse de 15% para 50%. Esse aumento foi decorrente da circulação de grande quantidade de dinheiro que chegaria à cidade e pela brecha de dispensa de licitação nas obras emergenciais.
Ele disse ter participado da reunião ocorrida na Secretaria de Planejamento de Teresópolis, logo após a enxurrada, quando milhares de corpos desaparecidos ainda eram procurados. Foi nesse momento que se estabeleceu a elevação da taxa da propina. Na CPI, o empresário afirmou ter dito na ocasião que não toparia esse aumento no valor. A empresa, então, deixou de receber do município e a divida alcançou, segundo o empresário, 1,5 milhão de reais.
Na Alerj, Oliveira confirmou o que já havia dito ao MP ao confirmar sua participação no esquema. “Eu fui de livre vontade ao Ministério Público Federal fazer este depoimento. Fui porque não recebi o pagamento pelos serviços prestados e por ter o pagamento da dívida da prefeitura com minha empresa condicionado ao pagamento de propina a agentes da prefeitura”, disse Oliveira. Ele contou ser necessário ter que pagar propina para poder receber pelos serviços prestados.
O gerente jurídico da Vital Engenharia, Cláudio Pontual, do grupo Queiroz Galvão, negou qualquer participação da empresa em esquemas de pagamento de propina. Ele também foi ouvido nesta segunda-feira durante a CPI.
Crea – Na sexta-feira da semana passada, o Conselho Regional de Engenharia, Arquitetura e Agronomia do Rio de Janeiro (Crea-RJ) alertou para a proximidade de uma possível nova catástrofe na região serrana. O presidente do Conselho, Agostinho Guerreiro, frisou que o período de seca está acabando e o tempo das chuvas recomeçará em outubro. Em relatório produzido pelo conselho, são pedidas três ações básicas e simples- quase rudimentares- para serem executadas em um curtíssimo prazo. São elas: a implantação de sirenes nas principais áreas atingidas pelas chuvas do início do ano, a implantação de um sistema de aviso prévio às prefeituras da região serrana e a construção de abrigos. O documento foi entregue na própria sexta ao Ministério Público.
LEIA TAMBÉM
A tragédia e a tragédia de Teresópolis