Em meio à dor, família de Eduardo Campos mantém serenidade
Renata Campos e seus filhos, visivelmente abatidos, tentaram conter as lágrimas e dar forças à mãe do ex-governador, Ana Arraes, que estava inconsolável
Neste domingo, na missa de corpo presente em homenagem ao candidato do PSB à presidência da República, Eduardo Campos, bandeiras do Náutico, time de coração do político morto na quarta-feira, se misturavam com flâmulas de Pernambuco. Caravanas vindas do interior do estado lotaram a Praça da República, no centro do Recife. Mas, em meio a uma multidão de pessoas, oito familiares encarnavam a dor da cerimônia. A viúva Renata Campos, apontada por políticos e familiares como a “fortaleza” da família, zelava pelo conforto de cada um dos cinco filhos. Ao lado, a viúva de Miguel Arraes, Magdalena, com semblante sereno, contrastava com o inconformismo e desolação da mãe de Campos, Ana Arraes, amparada por todos os netos.
Ainda incrédula em relação à morte precoce do filho, a ministra do Tribunal de Contas da União (TCU) mal conseguia se aproximar do caixão de Eduardo. Renata, que desde a quarta-feira se recolheu na casa da família, na zona norte do Recife, tinha a fisionomia sofrida, mas não caiu em prantos. Consolava a sogra e o choroso ex-presidente Lula. Em meio à celebração, brincou por mais de uma vez com filho José, de 9 anos, que, em um evento acompanhado há dois anos pelo site de VEJA nas eleições municipais do Recife, queria panfletar em favor do candidato apoiado pelo pai e saber das pesquisas boca de urna que mediam o desempenho do PSB. Neste domingo, José afundava a cabeça no colo da mãe, sem lágrimas.
Pouco antes de uma hora da tarde, a Polícia Militar já contabilizava que 130.000 pessoas tinham passado pelo velório e missa campal de Eduardo Campos. Em uma hora e 40 minutos de celebração, aliados do candidato morto enxugavam lágrimas. Os deputados Beto Albuquerque (PSB-RS), Márcio França (PSB-SP) e o prefeito do Recife, Geraldo Julio, alçado ao cargo pelo apoio do padrinho político, se mostravam inconsoláveis. No espaço reservado à família, de onde os principais políticos mantinham uma distância respeitosa, a vice de Eduardo Campos, Marina Silva, acompanhava a missa de olhos fechados, como em prece. Não chorou, mas carregava o semblante desgastado. Evangélica, pouco participou das leituras e orações conduzidas pelo arcebispo de Olinda e Recife, dom Fernando Saburido. Mas cantava a plenos pulmões os cânticos religiosos e a música Como Zaqueu – José entoava cotidianamente para o pai.
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No sermão do arcebispo, uma tentativa de conforto não apenas para os familiares de Eduardo Campos, mas também para os daqueles que o acompanhavam. “Este é o quinto dia triste de uma dolorosa tragédia que vitimou sete irmãos nossos. É como se estivéssemos diante do mesmo calvário que a própria Virgem Maria viveu”, discursou. Apertados em um canto, a presidente Dilma Rousseff, o ex-presidente Lula, o ex-governador de São Paulo, José Serra, e o candidato tucano à presidência, Aécio Neves, assistiam à celebração calados. Poucas palavras foram trocadas entre Dilma e seu padrinho político. Ao final da missa, a presidente afagou a ministra Ana Arraes em palavras de consolo. Lula abraçava os familiares um a um e chorou nos braços de Renata Campos e de Rodrigo Molina, que escapou do acidente por ter levado a esposa de Eduardo e o filho caçula, Miguel, em um voo comercial do Rio de Janeiro para o Recife.
Alheio à movimentação à sua volta, o filho mais velho do casal Eduardo Campos e Renata, João, de 20 anos, acariciava o caixão do pai morto. Em momentos da missa, sacava um bilhete do bolso, o lia com saudosismo e guardava novamente. “É como se estivéssemos diante de outro calvário”, continuava dom Fernando Saburido na celebração. Ele recordava os 49 anos recém-completados do candidato e o vídeo feito pelos filhos para homenagear o pai. Antes do final da celebração, discretamente, os principais políticos deixaram o palco da missa campal. A família de Eduardo Campos permaneceu ao lado do corpo, em silêncio.
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