Duque admite pagamentos da UTC, mas nega propina
Afilhado de Dirceu, ex-diretor de Serviços da Petrobras afirmou em depoimento ainda que não tem contas no exterior, ao contrário do que informaram delatores
Em depoimento à Polícia Federal, o ex-diretor de Serviços da Petrobras Renato Duque disse que não possui contas no exterior e negou que tenha recebido propina pela assinatura de contratos da estatal com empreiteiras. Indicado ao cargo pelo ex-ministro-chefe da Casa Civil José Dirceu, Duque admitiu à polícia que recebeu pagamentos do grupo UTC, comandado pelo empresário Ricardo Pessoa, mas disse que os desembolsos foram feitos como remuneração por serviços de consultoria.
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Por um dos contratos com a UTC, Duque disse ter recebido 1,6 milhão de reais. Ele não revelou o valor do outro. Pessoa, contudo, disse em depoimento à polícia que pagou cerca de 600.000 reais por esse segundo serviço – tendo pago 2,2 milhões de reais a Duque. Advogados do empresário dizem ter documentação para comprovar que existiu efetivamente a prestação dos serviços de consultoria. Mas a polícia suspeita que os contratos tenham sido fechados como tentativas de disfarçar o pagamento de propinas.
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Embora o ex-diretor da Petrobras tenha negado aos policiais possuir conta bancária no exterior, a Polícia Federal e o Ministério Público Federal possuem indícios de que Duque tenha escondido dinheiro fora do país. O juiz Sérgio Moro já mencionou que o ex-diretor possui “fortuna” no exterior, o que seria um risco à aplicação da lei. O comentário foi feito na decisão que converteu a prisão temporária de Duque em preventiva, na terça-feira. Em depoimento, os executivos Júlio Camargo e Augusto Mendonça chegaram a afirmar que Duque recebia dinheiro de propinas em uma conta no banco Cramer, na Suíça, registrada em nome de uma offshore. Se os investigadores encontrarem dinheiro no exterior e Duque for desmentido, a situação dele perante a Justiça deve se complicar ainda mais.
Considerado o principal operador do PT na estatal, Duque disse à PF que desconhecia a prática “de desviar 3%” do valor líquido dos contratos da Petrobras para políticos e partidos, como disse o ex-diretor de Abastecimento da Petrobras Paulo Roberto Costa em depoimento à Justiça. Duque reagiu às acusações de Costa e disse ter protocolado uma ação penal privada pelo crime de calúnia.
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Ao falar dos delatores da operação Lava Jato, Duque disse que o ex-gerente de Serviços da Petrobras Pedro Barusco era uma “pessoa de confiança” na estatal e que participou de jantares com o lobista Júlio Camargo, executivo da Toyo Setal. Assim como Júlio Camargo e o executivo Augusto Mendonça Neto, Barusco também tenta um acordo de delação premiada, pelo qual promete revelar crimes cometidos pela quadrilha de funcionários da estatal e políticos.
Os policiais questionaram Duque ainda sobre alegação do delator Augusto Mendonça Neto de que o ex-diretor exigiu o pagamento de propinas em contratos da Refinaria Getúlio Vargas (Repar), em Araucária (PR). Ele negou ter sido o beneficiário de 60 milhões de reais, como os delatores apontaram em depoimentos.
Em mais um sinal de que a polícia investiga a ligação do esquema com a construtora Delta, de Fernando Cavendish, Duque foi questionado sobre suas conexões com o empresário Adir Assad. Como VEJA revelou, Assad foi o responsável pela operação de empresas de fachada que permitiam desvios de verbas, recebidas pela construtora Delta, para o bolso de políticos. Duque também confirmou que conhecia o tesoureiro do PT, João Vaccari Neto.