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Delegado acusado de torturar presos no PR é considerado foragido

Dez policiais e um guarda municipal acusados de envolvimento já se entregaram; vítimas entram em programa de proteção à testemunhas

Por Jean-Philip Struck e Leticia Cislinschi
19 jul 2013, 13h46

O delegado Silvan Rodney Pereira, que comandou as investigações da morte da adolescente Tayná Adriane da Silva, de 14 anos, passou a ser considerado foragido pela polícia do Paraná. Ex-chefe da delegacia de Alto Maracanã, em Colombo, na região metropolitana de Curitiba, ele teve a prisão preventiva decretada pela Justiça na quarta-feira, após a revelação de que quatro funcionários de um parque de diversões, que haviam sido presos por suspeita de matar e estuprar a adolescente, foram torturados em sua delegacia para que confessassem o crime.

Pereira é o único acusado de tortura que ainda não se entregou no prazo de 24 horas a partir da emissão do mandado de prisão, e por isso passou a ser considerado foragido. Outras treze pessoas, entre elas nove policiais civis, um policial militar, um guarda municipal, um auxiliar de carceragem e um preso de confiança já se encontram detidos por envolvimento com o caso.

A reportagem não conseguiu contato com a defesa do delegado.

Laudos – Segundo o promotor Leonir Batisti, coordenador do Grupo de Atuação Especial contra o Crime Organizado (Gaeco) paranaense, novos laudos realizados nos funcionários atestaram que eles sofreram tortura por meio de espancamentos e até violência sexual.

Além das prisões, a Justiça também expediu seis mandados de busca e apreensão, que foram cumpridos pelo Gaeco na quinta-feira. Equipes apreenderam matérias em três delegacias e nas casas de policiais envolvidos com as suspeitas e tortura.

Na tarde de quinta-feira, os quatro funcionários foram incluídos no Programa Federal de Proteção a Vítimas e Testemunhas Ameaçadas (Provita). Segundo a Secretaria de Justiça e Direitos Humanos do Paraná, eles foram levados para um local sigiloso, em outro estado.

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Apesar de terem sido incluídos no programa de proteção, os quatro funcionários ainda não foram descartados como possíveis suspeitos pela morte da adolescente, diz Batisti. Segundo o promotor, a inclusão dos quatro homens no programa foi feita para garantir a segurança deles.

O promotor Paulo Markowicz de Lima diz que, embora eles ainda estejam sendo alvos da investigação, a hipótese de que tenham participado no crime se mostra cada vez menos provável por causa das provas periciais e das falhas na investigação inicial.

Reação – A reviravolta no caso e a consequente prisão dos policiais acusados de tortura gerou reação por parte de sindicatos que representam policiais civis do Paraná, que acusaram o Gaeco de agir de maneira “arbitrária e sensacionalista”. O Sindicato dos Delegados de Polícia do Paraná classificou o caso como “insanidade” e disse que pode abrir precedente para que presos agredidos por outros detentos acusem policiais.

“As palavras dos suspeitos da morte da adolescente foram recebidas como verdade incontestável. Nossos policiais poderiam ser intimados para serem ouvidos, portanto a prisão é uma medida injusta, covarde, absurda e temerária (sic)”, disse o sindicato, em nota.

Já o Sindicato das Classes Policiais Civis do Paraná afirmou, também em nota, que os presos foram induzidos pelo Gaeco a reconhecer os policiais detidos como os autores da tortura. Disse ainda que um dos policiais reconhecidos pelos presos nem estava na delegacia de Alto Maracanã no período em que teria ocorrido a tortura.

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Crime – A adolescente Tayná havia desaparecido em Colombo em 25 de junho. No dia 27, a polícia prendeu os quatro funcionários do parque de diversões, instalado na região da casa da jovem havia vinte dias. No dia seguinte, o corpo de Tayná foi encontrado.

Inicialmente, a investigação da morte da adolescente foi tratada como um trabalho bem-sucedido da polícia: 48 horas após o sumiço dela, quatro suspeitos estavam presos e haviam confessado. O crime, aparentemente, havia sido elucidado. Por essa versão, os quatro homens havia notado Tayná, que morava na região e costumava passar em frente ao terreno onde o parque havia sido montado. Em um determinado dia, eles a teriam sequestrado, estuprado e depois enterrado seu corpo. A divulgação do suposto envolvimento causou revolta na população local que, em represália, incendiou o parque.

Reviravolta – O caso mudou de rumo poucos dias depois das prisões, quando uma perita afirmou que não havia indícios de estupro no corpo da menina. No dia 9 de julho, foi divulgado que o DNA do sêmen encontrado nas roupas da jovem não bateu com as amostras coletadas com os suspeitos. Na sequência, a seção local da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) denunciou que havia provas “inequívocas” de que os suspeitos tinham sido espancados, sufocados e eletrocutados para confessar o crime. O Ministério Público também viria a engrossar o coro de que as confissões haviam sido obtidas por meio de violência. Por fim, os quatro presos acabaram sendo soltos.

As denúncias levaram ao afastamento dos delegados do caso e de toda a equipe de policiais da delegacia de Colombo, que sofreu a intervenção da Secretaria de Segurança Pública do Paraná. A Corregedoria da Polícia Civil também pediu a prisão preventiva dos policiais envolvidos no caso de suspeita de tortura. A Justiça concordou com o pedido na terça-feira.

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