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Com apoio inédito da população, policiais vivem dias de glória

O sucesso da operação do Complexo do Alemão pode ter inaugurado um novo capítulo na história da polícia fluminense. Mas é só o começo

Por Manuela Franceschini
30 nov 2010, 18h34

“Parecia desfile de 7 de setembro! Mas essa virada é um processo. Um conjunto de ações culminou nisso. A população nos presenteou com esse apoio e agora precisamos manter. É só o começo”, diz o major Ronaldo Martins, da Polícia Militar

O que o estado obteve nas 13 favelas do Complexo do Alemão vai muito além das toneladas de drogas apreendidas, as prisões e as armas de guerra dos bandidos. Algo ainda mais extraordinário aconteceu nos últimos dias. A polícia carioca, maculada pela corrução, contaminada pelo envolvimento de alguns de seus homens com o crime, ganhou o apoio da população em uma operação heroica. Os policiais que até pouco tempo confundiam-se com os bandidos, hastearam bandeiras no alto do morro do Alemão, triunfantes, apoiados e respeitados, no papel de mocinhos que nunca lhes coube na prática.

O major Ronaldo Martins, da Polícia Militar do Rio de Janeiro, conta que em vinte anos de profissão nunca viveu algo parecido. Nas ruas, as crianças apertam as mãos daqueles de quem tinham medo. Rosas são entregues aos policiais. No domingo, dia da ocupação do complexo, muitos moradores aplaudiam. “Parecia desfile de 7 de setembro!”, compara. “Mas essa virada é um processo. Um conjunto de ações culminou nisso. A população nos presenteou com esse apoio e agora precisamos manter. É só o começo”, afirma.

O caminho é longo. Aqueles que foram enaltecidos com a operação são os mesmos classificados por 68% da população como uma polícia ‘muito corrupta’, e por 57% como ‘muito violenta’, em uma pesquisa realizada pelo Centro de Estudos de Segurança. Desta vez, no entanto, junto aos mais de 30 carros blindados do Exército e da Marinha, as polícias civil, militar e do BOPE tiveram a chance de começar a melhorar a imagem que a pesquisa denunciou. Os policiais fluminenses ocuparam o humilhante topo do ranking brasileiro de fatais do Brasil, no topo do ranking do suborno e de morte de civis.

O recado de que seria diferente veio primeiro por um discurso que não cometeu a crônica injustiça de tratar como bandidos todos os que vivem nas favelas. “Para quem vive nos morros, essa postura dos dirigentes das operações foi determinante. Eles disseram que a proposta era proteger o cidadão, que as vidas seriam respeitadas, que não haveria banho de sangue”, diz a antropóloga Alba Zaluar. Mas a mudança de imagem não acontece de forma homogênea. “Na favela, o policial tem uma imagem associada à violência contra os moradores. Isso não muda de uma hora para a outra”, avalia Alba.

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O policial militar M.S. está no complexo do Alemão desde terça-feira. E não se ilude com a mudança de imagem. A diferença que percebe é que “desta vez, as crianças não olham pra gente com tanto medo”. É cético e conhece as limitações do que escolheu para ganhar a vida: “As únicas pessoas que me chamam de herói são minhas filhas. Elas falam ‘pai, enfrentar o que você enfrenta, com esse salário, é um heroi'”. Outro policial é categórico: “As pessoas só gostam do policial quando precisam dele. Talvez essa operação melhore um pouco. Talvez.”

É realmente cedo para saber se a atuação da polícia no Alemão marca uma mudança duradoura. O que se pode afirmar é que a população quer uma polícia firme no combate ao crime, bem formada, bem treinada e honesta. São essas as características que fizeram do capitão Nascimento, de Tropa de Elite, um heroi. Na operação de retomada do território que abrigava o maior bunker do tráfico no Rio de Janeiro, as forças de segurança transmitiram a sensação de que a polícia pode, sim, atender a esse anseio. Em uma de suas célebres frases, o capitão Nascimento, da ficção, diz: “Quem quer ser policial no Rio de Janeiro tem que escolher: ou se omite, ou se corrompe ou vai pra guerra”. No último domingo, foram todos ao combate. Decidiu-se que seria uma luta entre mocinhos e bandidos. E que, desta vez – e talvez apenas esta, em muito tempo -, aqueles que devem nos defender não trocariam de lado. Por enquanto.

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