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Chefe de Polícia manda e delegado manterá presa mulher do traficante Nem

Danúbia voltou à Rocinha para visitar a filha de um ano e nove meses e foi apanhada de surpresa. Na véspera, advogado pesquisou sobre mandados de prisão contra ela

Por Leslie Leitão 25 nov 2011, 18h37

Por ordem da chefe de Polícia Civil do Rio, delegada Martha Rocha, a mulher do traficante Nem da Rocinha, Danúbia de Souza Rangel, ficará presa a partir desta sexta-feira. Danúbia foi encontrada por policiais do Batalhão de Operações Especiais da PM (Bope) por volta das 15h desta sexta-feira, em uma casa na Estrada da Gávea, onde tinha ido para visitar a filha, de um ano e nove meses. Contra ela, não havia ordem de prisão, mas a exigência da Chefia de Polícia levou o delegado da 15ª DP (Gávea), Carlos Augusto Nogueira Pinto, a autuá-la por associação para o tráfico, com base em outras investigações.

O desfecho da visita à Rocinha pegou Danúbia e seus advogados de surpresa. Apesar de já ter sido investigada em cinco inquéritos recentes, o único pedido de prisão contra ela foi revogado em 29 de julho deste ano. Na quinta-feira, um advogado de Danúbia esteve na Polinter, para verificar se havia alguma ordem de prisão emitida contra ela. Como não foi encontrado mandado, a mulher do traficante Nem contava que entraria e sairia da Rocinha sem problemas.

Danúbia estava em uma casa próxima a uma lanchonete. Da detenção, às 15h, até a chegada à delegacia na Estrada da Gávea, a cerca de dois quilômetros do local da prisão, passaram-se duas horas. Ela e a irmã, Telma de Souza Rangel, foram levadas para a 15ª DP para serem ouvidas e liberadas. Nas duas horas entre a chegada da “xerifa” da Rocinha – como era conhecida a mulher de Antônio Francisco Bonfim Lopes, o Nem – e a autuação em flagrante, por volta das 19h, quem falou grosso foi a mulher que ocupa a primeira cadeira da Polícia Civil no Rio. Por telefone, a chefe de polícia disse ao delegado para “dar um jeito”. Assim foi feito.

Martha Rocha viu na prisão de Danúbia uma oportunidade de recuperar terreno na história recente do combate ao crime na Rocinha. Até então, a instituição estava como patinho feio da operação. Na véspera da captura de Nem, três agentes da instituição foram presos em flagrante escoltando bandidos da Rocinha em fuga. A 15ª DP (Gávea), que investigava o traficante Nem, a Delegacia de Repressão a Armas e Explosivos (Drae) e a Coordenadoria de Recursos Especiais (Core), unidades de elite que atuaram na tomada do Alemão, ficaram de fora da ação na Rocinha. De todo o arsenal recolhido na favela, só quatro fuzis foram encontrados pela Polícia Civil.

A manutenção de Danúbia atrás das grades funciona, agora, como um troféu para Martha Rocha. Diferentemente de Nem, ela não está sendo mantida presa por qualquer um dos cinco processos que há contra ela na Justiça do Rio. Em vez disso, a forma de conseguir uma ordem de prisão foi incriminá-la por “associação para o tráfico” – um crime permanente. Ou seja: alguém que se beneficia do dinheiro obtido ilegalmente, como fazia Danúbia, está permanentemente em flagrante delito. Para o azar de Martha Rocha, esta é uma prisão mais facilmente revogável que as obtidas depois de uma longa fundamentação em inquérito e processo judicial. E os advogados certamente vão usar a favor da acusada o fato de ela já ter tido prisão revogada por esse motivo.

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A primeira opção para tentar segurar Danúbia na cadeia, por sugestão de Martha Rocha, foi um pedido ao plantão judiciário do Tribunal de Justiça. A ideia foi abortada depois que se descobriu que, quando o pedido de prisão contra ela foi revogado, a Justiça mandou a Polícia Civil devolver também tudo que havia sido apreendido na casa da ‘xerifa’. Para justificar o alto padrão de vida, Danúbia alegou ser dona de um salão de beleza. Os policiais tiveram, então, que levar de volta para a mulher de Nem os eletrodomésticos, TVs e roupas de grife que tinham apreendido como prova da lavagem de dinheiro.

Com a autuação de Danúbia, abre-se agora um novo inquérito – o sexto da carreira como mulher do traficante Nem. O delegado da Gávea considera que há provas contra ela por associação para o tráfico. “Ela recebe presentes, carro do Nem. Entendi por bem fazer o flagrante e não pedir a prisão (à Justiça). Associação não precisa ter mandado. Martha Rocha nem quis comparecer nem falaria isso por telefone”, despistou Carlos Augusto. Segundo o policial, Danúbia “mora numa casa que quem não trabalha não tem como manter”.

Depois da autuação de Danúbia, por volta das 20h, dois advogados deixaram a 15ª DP em direção ao Fórum do Rio. O objetivo é tentar, ainda no plantão judiciário, a revogação da prisão.

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