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Bahia: greve da PM deixa rastro de medo e prejuízo

Comerciantes amargam queda de 80% no movimento; segunda-feira teve confrontos, ônibus queimado e escolas fechadas. Às vésperas do carnaval, embaixada americana recomenda adiamento de viagens

Por Cida Alves, de Salvador
6 fev 2012, 20h10

Os baianos viram sua rotina ser drasticamente alterada desde a terça-feira passada, quando foi decretada greve parcial dos policiais militares. Dos 32 000 agentes que atuam no estado, cerca de 10 000 cruzaram os braços. O Exército teve de assumir parte do controle da cidade e blindados tomaram as ruas de Salvador. Uma semana depois do início da greve, o saldo é de medo e prejuízo. Às vésperas do carnaval, foram registrados 96 homicídios na Bahia, além de tentativas de saques a lojas e ataques a veículos. O comércio amarga prejuízo, escolas fecharam as portas no primeiro dia do ano letivo e órgãos públicos também tiveram o funcionamento afetado. Até os sites do governo do estado ficaram fora do ar.

A greve virou alvo de preocupação da Embaixada dos Estados Unidos no Brasil. Em um comunicado, o órgão pediu que os cidadãos americanos no local fiquem atentos. A embaixada também recomendou que turistas considerem adiar viagens “não essenciais” para a região até que a situação seja normalizada. A nota pede que os cidadãos de país se registrem no Programa Inteligente de Registro de Viajantes (STEP), “para receber informações atualizadas sobre segurança”.

O clima foi de muita tensão nesta segunda-feira. Cerca de 350 pessoas, entre policiais e familiares, permaneceram amotinados no interior da Assembleia Legislativa. Cerca de 1 000 homens do Exército, da Força Nacional de Segurança e da Tropa de Choque da Polícia Militar cercam o prédio em Salvador, onde os PMs acampam com suas famílias desde terça-feira. Grevistas e agentes de segurança chegaram a entrar em confronto quando parentes tentavam levar alimentos para os amotinados. Um soldado que atuava no reforço da segurança se feriu acidentalmente. O Exército nega a intenção de invadir o prédio. À noite, uma família deixou o prédio da Assembleia.

Durante a manhã, perto do aeroporto Luiz Eduardo Magalhães, em Salvador, um grupo parou um micro-ônibus escolar, retirou as crianças e ateou fogo ao veículo. Ninguém ficou ferido. Segundo informações da Polícia Rodoviária Estadual, não houve participação de grevistas no ato. No entanto, a greve pode ter estimulado o vandalismo.

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Apesar da insegurança, o Comandante Geral da Polícia Militar da Bahia, coronel Alfredo Castro, garantiu que o carnaval acontecerá normalmente. “Nós vamos pular o carnaval com segurança e, com certeza, com a segurança da Polícia Militar”, disse.

Comércio – De acordo com o vice-presidente da Câmara dos Dirigentes Lojistas (CDL) do estado, Geraldo Cordeiro, o movimento do comércio recuou bruscamente: “A queda no movimento é de, no mínimo, 80%”. O quadro é ainda pior para as lojas de rua, que estão sem horário de fechamento certo e sofrendo com vandalismo e boatos de arrastão. Para Cordeiro, esse fechamento no comércio foi motivado, principalmente, pelo clima de insegurança na cidade.

Em Salvador, os bairros de Boca do Rio, Pernambués e Liberdade são os mais atingidos. Além da capital, a cidade de Vitória da Conquista, no sul do estado, teve o comércio muito atingido. Segundo informações da CDL, o comércio chegou a abrir nesta segunda-feira, mas logo depois fechou. Nos shopping centers, o horário de funcionamento também segue alterado, fechando mais cedo mesmo sem registro de atos de vandalismo.

O comerciante Gustavo Monteiro, um dos sócios da livraria Monteiro, com duas lojas no bairro de Nazaré, passou o dia em estado de alerta. “O comércio está assustado e muitos lojistas já estão prontos para fechar”. O dia, de acordo com ele, foi de pouco movimento numa época em que normalmente as lojas estão cheias.

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Transporte – O transporte público foi outro serviço afetado pela crise. Apesar da frota estar circulando regularmente, o número de passageiros caiu entre 10% e 15%, segundo informações do Sindicato dos Rodoviários da Bahia. Nessa segunda-feira, houve casos de ônibus que foram invadidos e usados para bloquear vias. Só na empresa União Transporte, três veículos foram tomados. “Os motoristas ligaram e disseram que foi ato de policiais, que estavam com revólver na mão. Eles não ofenderam ninguém, mas ameaçaram e depois atravessaram o veiculo na pista”, disse o responsável pelo setor de tráfego da empresa, Reinaldo Barbosa.

Taxistas também ficaram com medo. Segundo o Sindicato dos Motoristas Autônomos Taxistas de Salvador, muitos motoristas estão com receio de sair às ruas e estão evitando trabalhar à noite. É o caso do taxista José Gedear de Santos, há vinte anos na profissão. Segundo ele, o número de passageiros caiu desde o início da greve. “Está todo mundo com medo. A cidade está quase toda fechada, as ruas estão desertas, parece até feriado”, afirma. “Não tem condições de ficar rodando por aí à noite, ao deus-dará. A gente corre o risco de ser assaltado, ter o carro roubado, mas o pior de tudo é o medo de perder a vida. Prefiro não pegar corrida, mas continuar vivo”.

Educação – As escolas também ficaram vazias nessa segunda-feira. Mesmo com a recomendação de que funcionassem normalmente, a decisão do Sindicato dos Estabelecimentos de Ensino do Estado da Bahia foi de manter as escolas fechadas. Segundo o presidente do órgão, Natálio Dantas, a medida nas escolas privadas deve permanecer “até que a greve termine ou que se tenha condição de segurança em cada escola”. Nos estabelecimentos públicos, as escolas chegaram a abrir, mas, em boa parte, não houve número de alunos suficiente para as atividades.

(com reportagem de Carolina Almeida e Marina Pinhoni)

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