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Ao Senado, Pagot nega irregularidades nos Transportes

Governo temia que ele se comportasse como um homem-bomba, mas depoimento de cinco horas transcorreu sem sobressaltos para o PT

Por Gabriel Castro
12 jul 2011, 15h01

Ao menos em uma das atribuições dadas pelo governo federal, Luiz Antonio Pagot mostrou-se eficiente: falar sem dizer nada. Foi o que fez durante as cinco horas de depoimento à Comissão de Serviços de Infraestrutura e de Meio Ambiente do Senado, em Brasília. No centro de um escândalo de corrupção mostrado por VEJA, o diretor afastado do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit) negou todas as acusações e, ao contrário do que ameaçara nos últimos dias, poupou o PT.

Entre os oposicionistas, o clima foi de desolação. Autor do requerimento de convite a Pagot, o senador Aloysio Nunes Ferreira (PSDB-SP) lamentou ao final do depoimento: “Tudo indica que o senhor será uma vítima imolada no altar da deusa das boas aparências. Pelo andar da carruagem, pelas práticas correntes neste governo, tudo continuará como dantes no quartel de Abrantes.”

Ao que parece, o governo teve sucesso na negociação com Pagot e conseguiu desencorajá-lo a fazer qualquer denúncia. Em jogo pode ter entrado o próprio cargo de diretor do Dnit. Assim que VEJA publicou a denúncia de irregularidades no Ministério dos Transportes, a presidente Dilma Rousseff decidiu afastar Pagot do posto. Ele se rebelou e saiu de férias, impedindo o afastamento. Porta-vozes do Planalto deixaram claro que ele seria demitido assim que terminassem as férias emergenciais. O que se viu nesta terça-feira é que já não há tanta certeza de que isso vai se concretizar.

Explicou Pagot: “Eu disse ao ministro Alfredo Nascimento: do meu cargo eu não posso ser afastado. Ou eu sou demitido ou eu continuo no cargo e vou assumir as responsabilidades que já tenho e vou continuar respondendo pelo Dnit.”

Ao longo da sessão, ele admitiu que a decisão final caberá a Dilma. “Se serei exonerado ao completar esse período de férias ou vou continuar como diretor, é uma questão que depende da presidente. Tenho consciência tanto das minhas virtudes quanto das minhas falhas.” Por fim, ele deu mostras de seu poder de barganha:.”Vim da iniciativa privada e estou doido para voltar à iniciativa privada.”

Negativas – Pagot iniciou sua fala com uma explanação calma e técnica sobre as atribuições do Dnit. Aproveitou para dividir a responsabilidade de seu cargo, alegando que as principais decisões do órgão são tomadas por um colegiado. Lembrou que as obras do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) 2 também são distribuídas por um comitê interministerial.

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A partir daí, seu esforço foi todo para negar qualquer irregularidades. Sustentou que as obras sob suspeita já estão sendo investigadas pelos órgãos de controle. Segundo ele, os termos aditivos em obras se devem à variação do preço de itens como o aço e o cimento – o que, segundo ele, é interpretado erroneamente como superfaturamento. O senador Alvaro Dias (PSDB-PR) rebateu a tese de Pagot: “É subestimar a inteligência das pessoas afirmar que não há superfaturamento nas obras do Ministério dos Transportes.”

Apesar das evidências do aparelhamento do Ministério dos Transportes pelo PR, Pagot sustentou que nem 1% dos funcionários, coordenadores e superintentendes do Dnit foram empregados por indicação política. O senador Pedro Taques (PDT-MT) reagiu com ironia à afirmação do depoente: “Isso se equipara com o que ocorre na Itália, com a máfia.”

Sermão – O senador Aloysio Nunes (PSDB-SP) quis saber sobre o sermão passado pela presidente Dilma Rousseff nos dirigentes dos Transportes em 24 de junho, noticiado por VEJA. Pagot explicou: “Foi uma reunião semelhante a todas as reuniões que nós temos no comitê gestor do PAC. São reuniões de intenso debate. Mas são reuniões respeitosas. As frases estão carregadas de conceitos que não foram emitidos e de palavras que são colocadas na boca da presidente, que não são exatamente aquelas palavras.”

Ele afirmou que cada crítica da presidente na reunião foi respondida pelos integrantes do ministério. “A presidente tem um estilo de cobrar de maneira veemente o que quer ver realizado. Nunca participei de uma reunião em que ela não cobrasse de forma enérgica e veemente.”

O diretor do Dnit foi questionado pelo senador Agripino Maia (DEM-RN) sobre a informação publicada na edição desta semana de VEJA, de que ele recebia envelopes de dinheiro em um hotel em Brasília. Pagot confirmou que mora no Meliá Trip Convention desde 2009, mas disse que apenas amigos o visitam em casa. “Não recebo lobistas, diretores de empresas ou proprietários de empresas.”

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Em uma demonstração de que poupará o PT, apesar das ameaças feita na semana passada, Pagot desmentiu as informações de que o ministro Paulo Bernardo teria feito lobby para beneficiar empresas em obras públicas. “Ele nunca me exigiu, nunca pediu nada. Nem obra. A própia obra de Maringá, que é a cidade dele, quem vinha falar comigo era o prefeito Sílvio Barros”, afirmou. “Tenho o maior respeito pelo ministro Paulo Bernardo como tenho pela ministra Gleisi. São ministros extremamente exigentes. Eram extremamente exigentes na execução orçamentária. Periodicamente nos encontrávamos.”

O diretor afastado do Dnit comentou ainda a denúncia publicada na edição desta terça-feira do jornal Folha de S.Paulo, de que uma empreiteira do Paraná que doou dinheiro para o PR multiplicou seus contratos com o Dnit. “Conheço os diretores de todas as grandes companhias do Brasil. Das 300 e tantas diretorias que operam no Dnit, eu conheço praticamente todas as diretorias.”

Temor – Outro depoimento de Pagot está previsto para quarta-feira na Câmara dos Deputados. O diretor deve prestar os esclarecimentos mesmo estando de férias – ele pediu férias assim que soube que seria afastado. Segundo a Presidência, ele será demitido assim que suas férias terminarem.

Desde a revelação das irregularidades envolvendo o Dnit, o diretor afastado tem se portado de maneira preocupante para o governo. Ele teria dito a representantes do PR que só “recebia ordens” quando estava à frente do cargo – e que petistas teriam determinado o superfaturamentos de obras sob responsabilidade do Ministério dos Transportes. Ele citou o nome do ex-ministro do Planejamento e atual ministro das Comunicações, Paulo Bernardo, como um dos negociadores do esquema.

As insinuações de Pagot assustaram os petistas, que admitem ter falhado no momento em que a presidente da Comissão de Serviços e Infraestrutura, Lucia Vânia (PSDB-GO), conseguiu marcar o depoimento dois dias antes do inicialmente previsto, na quinta-feira. A maior preocupação do PT é que as especulações de que Pagot será um “homem-bomba” se concretizem, a exemplo de Roberto Jefferson no caso do mensalão, em 2005. Os governistas tentaram adiar o depoimento, mas desistiram da estratégia.

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