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Após cercar Kiev, Putin incentiva militares ucranianos a tomarem o poder

Em telefonema com Xi Jinping, presidente russo havia demonstrado interesse em negociações, mas voltou a criticar o governo da Ucrânia

Por Caio Saad Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 25 fev 2022, 16h08 - Publicado em 25 fev 2022, 10h28
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  • Em mensagem em vídeo publicada nesta sexta-feira, o presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, voltou a pedir conversas diretas com o presidente russo, Vladimir Putin, em meio aos avanços de tropas de Moscou em direção a Kiev. O presidente russo, por sua vez, demonstrou estar disposto, mas poucas horas depois voltou a afirmar que combate “terroristas e neonazistas” no país vizinho e disse para soldados ucranianos tomarem o poder, deixando “mais fácil para chegarmos a um acordo”.

    Em falas feitas durante uma reunião do Conselho de Segurança russo, Putin classificou autoridades do governo de Zelensky como “gangue de viciados em drogas e neonazistas”.

    Pouco antes, em vídeo gravado em russo, Zelensky disse que “gostaria de falar novamente ao presidente da Federação Russa”.

    “Há confrontos em toda a Ucrânia agora. Vamos nos sentar em uma mesa de negociação para acabar com as mortes”, disse.

    Durante a fala, o líder ucraniano afirmou que seu país pode adotar um “status neutro”, o que, na prática, encerraria a intenção do país de entrar na Otan, principal aliança militar ocidental, e parte das queixas de Moscou.

    “Não temos medo de falar sobre nada. Sobre garantias de segurança para nosso país. Não temos medo de falar sobre o status neutro, e não estamos na Otan no momento”, declarou, antes de ressaltar que a condição poderia tornar seu país vulnerável a possíveis ataques futuros.

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    Em resposta, o porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov, afirmou Moscou está pronta para enviar representantes a Minsk, capital de Belarus, para conversas com representantes de Kiev.

    “Após a proposta de Zelensky de discutir o status da Ucrânia, o presidente Vladimir Putin pode enviar representantes do Ministério da Defesa, do Ministério das Relações Exteriores e de seu governo a negociações com a delegação ucraniana”, afirmou.

    Antes dos ataques verbais ao governo ucraniano, mais cedo nesta sexta-feira, em telefonema com o presidente chinês, Xi Jinping, Putin já havia afirmado que a Rússia estaria “disposta a conduzir negociações de alto nível” com a Ucrânia, segundo a emissora estatal chinesa CCTV.

    + Como a economia mundial sente os efeitos do ataque de Putin à Ucrânia

    De acordo com Putin, no entanto, os Estados Unidos e o Ocidente “há tempos ignoram as razoáveis preocupações da Rússia com segurança e renegam repetidamente seus compromissos. Além disso, os “contínuos avanços de mobilizações militares ao leste” são preocupantes para Moscou.

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    Para Xi, de acordo com a CCTV, a China apoia a Rússia e Ucrânia na resolução da disputa através de negociações, e está “disposta a trabalhar com todas as partes na comunidade internacional pra advogar por um conceito de segurança comum, abrangente, cooperativo e sustentável”.

    Apesar do pedido a Putin, Zelensky voltou a retomar também o tema de sanções internacionais contra a Rússia, dizendo ser necessário intensificá-las.

    “A Europa tem força o suficiente para cessar esta agressão. O que esperamos de países europeus – a abolição de vistos para russos, a desconexão do sistema financeiro global, completo isolamento da Rússia, retirada de seus embaixadores, embargo sobre petróleo, fechamento do espaço aéreo. Tudo isso precisa estar na mesa hoje”.

    Em um apelo direto a cidadãos da Europa, Zelensky pediu a ocupação de praças e manifestações pelo fim da guerra em diversos países.

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    “Quando bombas caem em Kiev, isto está acontecendo na Europa, não só na Ucrânia. Quando mísseis matam nosso povo, está matando todos nós, todos os europeus”, declarou. “Esta não é só uma invasão da Rússia à Ucrânia. Este é o começo da guerra na Europa”.

    Durante a madrugada desta quinta-feira, forças russas invadiram a Ucrânia por terra, mar e ar concretizando os temores do Ocidente com o maior ataque de um Estado contra outro na Europa desde a II Guerra Mundial. Mísseis russos foram lançados contra cidades ucranianas e Kiev relatou tropas entrando em suas fronteiras nas regiões de Chernihiv, Kharkiv e Luhansk, e chegando via mar nas cidades portuárias de Odessa e Mariupol, ao sul do país.

    Em resposta à invasão, União Europeia e Estados Unidos anunciaram a intensificação de sanções sobre Moscou. Em discurso, o presidente americano, Joe Biden, alertou que há possibilidade de medidas financeiras diretas contra Putin, alertando que “não é um blefe”.

    Segundo Biden, as sanções já em vigor irão limitar a capacidade da Rússia de negociar em dólares, euros, libras e ienes, além de cessar a capacidade de Moscou de financiar seu Exército. Ao todo, as sanções americanas sobre bancos russos atingem cerca de 1 trilhão de dólares em bens.

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    Na terça-feira, o governo americano já havia anunciado uma rodada de sanções, entre elas sanções a oligarcas, o que já havia sido levantado como possibilidade em dezembro do ano passado. A medida, no entanto, foi alvo de deboches do embaixador russo nos Estados Unidos, Anatoly Antonov, que disse que “sanções não irão resolver nada no que diz respeito à Rússia”.

    “É difícil imaginar que alguém em Washington esteja contando que a Rússia irá revisar o curso de suas políticas externas sob a ameaça de restrições”, declarou. “Não me lembro de um único dia quando nosso país viveu sem qualquer restrições do mundo Ocidental (…) Não há dúvidas de que as sanções impostas contra nós irão prejudicar o sistema financeiro global e os mercados energéticos. Os Estados Unidos não ficarão de fora”.

    Apesar de represálias, incluindo na forma de sanções econômicas, o governo russo já vinha aproveitando o momento para colocar ainda mais  pressão sobre a Ucrânia e o presidente Volodymyr Zelensky, afirmando que a melhor solução para acabar com a crise seria o país desistir de entrar na Otan, principal aliança militar ocidental e grande ponto de atrito entre a Rússia e o Ocidente. 

    Na segunda-feira, Moscou reconheceu a independência das regiões separatistas de Donetsk e Luhansk, que formam Donbas. Poucas horas depois, Putin anunciou a publicação de um decreto ordenando que o Ministério da Defesa envie tropas para “funções de manutenção da paz” para as repúblicas autoproclamadas. 

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    Segundo Putin, uma eventual adesão do país vizinho à Otan é uma ameaça não apenas à Rússia, “mas também a todos os países do mundo”. De acordo com ele, uma Ucrânia próxima ao Ocidente pode ocasionar uma guerra para recuperar a Crimeia – território anexado pelo governo russo em 2014 –, levando a um conflito armado. 

    A aliança, por sua vez, afirma que “a relação com a Ucrânia será decidida pelos trinta aliados e pela própria Ucrânia, mais ninguém” e acusa a Rússia de enviar tanques, artilharia e soldados à fronteira para preparar um ataque.

    Em fala na terça-feira, Putin também fez menção aos Acordos de Minsk, negociados em 2015, sob mediação da Alemanha e França, para um cessar-fogo nas duas regiões, que teriam em troca autonomia administrativa. Segundo ele, não há mais nada para ser cumprido e culpa o governo da Ucrânia pelo fracasso do acordo. 

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