Juan David Leal.
Cidade do México, 20 dez (EFE).- O conflito causado pelo crime organizado no México apresentou em 2011 uma aparente estabilização no número de mortos, mas viu o surgimento de novos cartéis, cruéis massacres, a descoberta de enormes covas repleta de cadáveres, além da entrada em cena de algumas vítimas civis da violência.
O ano foi marcado também por várias prisões de criminosos, homicídios de prefeitos, jornalistas e ativistas, e o constante vaivém da onda de violência, que se expandiu mais em algumas regiões do que em outras, e inclusive diminuiu em alguns pontos críticos, como Ciudad Juárez.
A descoberta, no dia 8 de janeiro, dos corpos decapitados de 15 homens em Acapulco marcou o aumento considerável dos homicídios em massa com 20 ou mais vítimas no país.
A luta contra o narcotráfico no México deixou mais de 40 mil mortos desde dezembro de 2006, quando o presidente Felipe Calderón assumiu o poder. No entanto, a divulgação de casos de violência ligados ao crime organizado é esporádica e inconsistente.
Por outro lado, os cálculos independentes de alguns jornais apontam que a violência se estabilizará neste ano.
Segundo o jornal ‘Reforma’, de janeiro a setembro de 2011 foram registradas 10.022 (1.113 por mês) mortes violentas, enquanto de janeiro a novembro do ano passado houve 12.456 (1.132 por mês), de acordo com números oficiais.
Nos anos anteriores, a violência no México teve um aumento notável e constante ano após ano, até fechar 2010 com 15.273 mortes.
O empenho das forças de segurança parece estar dando resultado em localidades como Tijuana, onde raramente ocorrem crimes de relevância, ou na conflituosa Ciudad Juárez, onde em agosto Calderón afirmou que a violência reduziu significativamente.
O Governo registrou alguns casos bem-sucedidos com a captura de grandes narcotraficantes como o líder máximo do cartel da Família, Jesús Méndez; Óscar Osvaldo García Montoya, do Mano con Ojos, e Jesús Enrique Rejón Aguilar, terceiro na hierarquia de comando e fundador dos Zetas.
Também foram presos Noel Salgueiro Nevarez, responsável do cartel de Sinaloa no estado de Chihuahua, e Carlos Oliva Castillo, novo número três dos Zetas.
No entanto, a violência dos criminosos contou com novos métodos em termos de crueldade, e o país se comoveu com a descoberta nos estados de Durango e Tamaulipas de 236 e 193 corpos, respectivamente, enterrados em dezenas de covas comuns.
Nas valas de Tamaulipas, estavam os corpos de dezenas de civis que foram interceptados em ônibus públicos, torturados e assassinados indiscriminadamente pelos Zetas.
Outros crimes crueis foram o incêndio de um cassino em Monterrey, no dia 25 de agosto, também cometido pelos Zetas, no qual morreram 52 civis; a descoberta de 35 corpos em plena rua em Veracruz, em 20 de setembro, e o surgimento de mais 26 corpos em uma rua de Guadalajara, no dia 24 de novembro.
No plano internacional, o assassinato em fevereiro de um agente do Serviço de Imigração e Alfândega dos Estados Unidos (ICE) causou assombro no país vizinho, mas ao mesmo tempo serviu para revelar a operação ‘Rápido e Furioso’, através da qual autoridades americanas permitiram a entrada ilegal de armas no México.
O objetivo dessa fracassada operação, na qual se perdeu o rastro de cerca de 2 mil armas, era estabelecer uma ligação entre os testas de ferro que compram armamentos nos EUA e os criminosos dos cartéis mexicanos.
No meio das denúncias de violações dos direitos humanos no México, ecoou a voz de Javier Sicilia, um poeta mexicano cujo filho foi assassinado em março junto com outras seis pessoas e que popularizou a frase ‘Estamos fartos!’.
Sicilia colocou as vítimas da violência no centro da agenda pública e se tornou rapidamente um influente líder civil, que presidiu grandes manifestações de protesto pelo país e participou duas vezes de debates na televisão aberta com o presidente Calderón. EFE
jd/mj-rsd