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Vice-presidente renuncia após 149 mortes no Egito

Governo declarou estado de emergência e decretou toque de recolher por causa de banho de sangue durante desocupação de acampamentos

Por Da Redação
14 ago 2013, 12h03

O vice-presidente interino do Egito, Mohamed El-Baradei, renunciou nesta quarta-feira em protesto ao banho de sangue que se sucedeu à ofensiva das forças de segurança para desocupar os acampamentos mantidos por apoiadores do presidente deposto Mohamed Mursi. A crise levou o governo do Egito a decretar estado de emergência e um toque de recolher no país.

Entenda o caso

  1. • Na onda das revoltas árabes, egípcios iniciaram, em janeiro de 2011, uma série de protestos exigindo a saída do ditador Hosni Mubarak, há trinta anos no poder. Ele renunciou no dia 11 de fevereiro.
  2. • Durante as manifestações, mais de 800 rebeldes morreram em confronto com as forças de segurança de Mubarak, que foi condenado à prisão perpétua acusado de ordenar os assassinatos.
  3. • Uma Junta Militar assumiu o poder logo após a queda do ditador e até a posse de Mohamed Mursi, eleito em junho de 2012.
  4. • Membro da organização radical islâmica Irmandade Muçulmana, Mursi ampliou os próprios poderes e acelerou a aprovação de uma Constituição de viés autoritário.
  5. • Opositores foram às ruas protestar contra o governo e pedir a renúncia de Mursi, que não conseguiu trazer estabilidade ao país nem resolver a grave crise econômica.
  6. • O Exército derrubou o presidente no dia 3 de julho, e anunciou a formação de um governo de transição.

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O Ministério da Saúde já confirmou 149 mortos e mais de 1 400 feridos nos confrontos entre partidários de Mursi e as forças de segurança, enquanto a Irmandade Muçulmana, aliada a Mursi, alega que centenas de pessoas foram mortas. Um cinegrafista do canal britânico Sky News foi morto a tiros no Cairo. Mick Deane, de 61 anos e pai de dois filhos, trabalhava há 15 anos para a emissora.

Em carta de renúncia enviada ao presidente interino Adly Mansour, El-Baradei disse que “os únicos que se beneficiarão do que ocorreu hoje são aqueles que pedem violência, terrorismo e os grupos mais extremos”. “Como você sabe, eu vi que existiam formas pacíficas de terminar com esse conflito na sociedade, existiam propostas e soluções aceitáveis para começos que levariam ao consenso nacional”, escreveu o vice. “Tornou-se difícil para mim continuar carregando a responsabilidade por decisões com as quais eu não concordo e por cujas consequências eu temo. Não posso suportar a responsabilidade de mais uma gota de sangue”.

O secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, condenou o massacre e pediu aos egípcios que concentrem seus esforços em “promover a reconciliação”. O porta-voz da Casa Branca, Josh Earnest, disse que o presidente dos EUA, Barack Obama, condena a ofensiva contra os acampamentos e se opõe ao estado de emergência.

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O estado de emergência, iniciado às 11h de Brasília desta quarta-feira, terá duração de um mês. Além disso, um toque de recolher entre 19h e 6h foi emitido no Cairo e em várias outras regiões do país. A medida determina horários para abertura e fechamento de estabelecimentos, limita a circulação de veículos e pessoas em alguns locais, dá ao Exército aval para retirar licenças de armas e explosivos, determina a vigilância de todas as comunicações e o monitoramento da imprensa.

As forças do Exército chegaram aos acampamentos munidas de armamentos e tratores. Logo, segundo correspondentes da rede americana CNN, o caos se seguiu: os apoiadores de Mursi se recusaram a sair e disseram que estavam dispostos a morrer.

A tropa de choque da polícia, com agentes usando máscaras de gás, aproximou-se agachada atrás de veículos blindados pelas ruas ao redor da mesquita Rabaa al-Adawiya, no nordeste do Cairo, onde milhares de apoiadores de Mursi mantinham uma vigília. “Eu, pessoalmente, nunca vi tanto derramamento de sangue”, afirmou o repórter da CNN Reza Sayah. Mais tarde, o governo do Egito anunciou que “usará todos os meios para repelir terroristas” e impedir ataques contra propriedades públicas e delegacias.

Em um necrotério perto de uma mesquita no Cairo, um repórter da agência de notícias Reuters contou 29 corpos, incluindo o de um menino de 12 anos. A maioria morreu de ferimentos de bala na cabeça. Uma enfermeira disse ter contado um total de sessenta corpos em um hospital. Já um jornalista da agência de notícias France-Presse contou 124 corpos em um dos necrotérios improvisados apenas na praça Rabaa al-Adawiya.

Egito – Os conflitos se espalharam para além da capital, chegando às cidades no delta do Nilo de Minya e Assiut e à cidade na costa setentrional de Alexandria. Dezessete pessoas foram mortas na província de Fayoum, ao sul do Cairo. Mais cinco morreram em Suez. Sete horas após a operação inicial, multidões de manifestantes ainda bloqueavam estradas, cantando e agitando bandeiras, enquanto as forças de segurança tentavam impedi-los.

O Ocidente, em especial os Estados Unidos, que concedem aos militares egípcios 1,3 bilhão de dólares por ano, tem se alarmado com a recente onda de violência. Na quarta-feira, a União Europeia exortou as forças de segurança a mostrarem a “máxima moderação” no país que tem um tratado de paz com Israel e controla a vital hidrovia do Canal de Suez.

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Irmandade Muçulmana – A ofensiva para acabar com os acampamentos deve frustrar as esperanças de trazer a Irmandade Muçulmana de volta ao palco político central e confirmou a impressão compartilhada por muitos egípcios de que os militares apertaram o controle. A operação também sugere que o Exército perdeu a paciência com os persistentes protestos que imobilizavam partes da capital e retardavam o processo político.

Tudo começou logo após o amanhecer, com helicópteros sobrevoando os acampamentos. Tiros foram disparados enquanto os manifestantes, entre eles mulheres e crianças, fugiam de Rabaa, e a fumaça subiu sobre o local. Veículos blindados avançaram ao lado de tratores que começaram a derrubar as tendas.

O governo emitiu um comunicado dizendo que as forças de segurança mostraram o “maior grau de autocontenção”, refletido em poucas baixas diante do número de pessoas “e do volume de armas e violência dirigidos contra as forças de segurança”.

O governo, que prevê novas eleições em cerca de seis meses para devolver o regime democrático ao Egito, instou os manifestantes a não resistir às autoridades, acrescentando que os líderes da Irmandade Muçulmana devem parar de incitar a violência.

(Com agências France-Presse e Reuters)

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