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Uma nova guerra mundial

As nações esperam por um conflito que já começou há décadas

Por Murillo de Aragão Atualizado em 17 jan 2020, 09h55 - Publicado em 17 jan 2020, 06h00

Com o fim da Guerra Fria, que durou 44 anos (1947-1991), o mundo respirou aliviado, acreditando que um novo conflito global de grandes proporções era uma hipótese finalmente afastada. Os acontecimentos verificados desde 1991 até os dias de hoje mostram que a realidade é igualmente perigosa.

A sensação de alívio com o término da Guerra Fria remete, de certa forma, ao sentimento expresso pelo primeiro-ministro inglês Neville Chamberlain quando disse, em setembro de 1938, que voltava da Alemanha com um acordo assinado que “garantia a paz”. Um ano depois, Hitler invadiu a Polônia, dando início à II Guerra. Tratava-se de uma ilusão. Tal qual a nossa quanto ao fim da Guerra Fria.

Existem dois equívocos na percepção sobre conflitos mundiais. O primeiro é que eles serão reproduções atualizadas das duas Grandes Guerras. Não serão. Os combates hoje não envolvem invasões de grandes extensões de terra, com fronts e deslocamento de milhões de soldados de um lado para outro. Também não há motivação ideológica, na maioria das grandes potências, para fazer milhões de pessoas engajar-se espontaneamente. A preferência é por guerras de videogame, com drones, mísseis, hackers, intensa atividade nas redes sociais, propaganda e mobilização da sociedade civil.

Como não tivemos o começo de uma III Guerra nos moldes do início das duas outras, em 1914 e em 1939, muitos acreditam que o conflito mundial não existe nem começou. Esse é o segundo equívoco. O mundo já está em guerra, e não é de agora. São dezenas de conflitos globalizados — de baixa ou média intensidade — em fronts não lineares, em especial nos campos tecnológico e econômico.

“A atual III Guerra está sendo disputada em vários rounds e em múltiplas arenas”

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No entanto, os conflitos atuais dialogam com o passado. A divisão imposta ao Oriente Médio pelas potências ocidentais após o fim do Império Otomano gera tensões até hoje. A derrocada do império russo e a ascensão e queda da União Soviética também têm repercussões. Como sempre, guerras têm motivações ideológicas, estratégicas e religiosas. O que surge como uma novidade nos tempos correntes é a intensidade de conflitos entre nações e redes não nacionais, como as organizações terroristas, além do uso intenso da internet.

O atentado de 11 de setembro de 2001, nos Estados Unidos, pode ter sido o marco inicial da “mundialização” do conflito ora em curso. As raízes do embate de hoje podiam ser vistas décadas antes do atentado às Torres Gêmeas, com a chegada do terrorismo à Europa, nos anos 70, a derrubada do xá do Irã, o cerco à embaixada americana em Teerã, o aumento da tensão entre árabes e judeus e a Guerra do Golfo, em 1991. O 11 de Setembro teve efeito globalizante ao deflagrar as invasões do Afeganistão (2001) e do Iraque (2003) e ao afetar o transporte aéreo de todo o mundo.

A atual guerra mundial está sendo disputada em vários rounds, em múltiplas arenas, e poderá ser longa como a Guerra dos Cem Anos, travada entre ingle­ses e franceses de 1337 a 1453. O Brasil, como potência regional, deve aproveitar o distanciamento geográfico e político para proteger nossos interesses. Paradoxalmente, nossas oportunidades são imensas.

Publicado em VEJA de 22 de janeiro de 2020, edição nº 2670

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