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Um mês após massacre que causou queda de Lugo investigações quase não avançam

Por Da Redação
15 jul 2012, 16h45

Julia R. Arévalo.

Assunção, 15 jul (EFE).- Um mês depois da tragédia em Curuguaty, que desencadeou o processo que levou à saída de Fernando Lugo da presidência, quase não se veem avanços na investigação do episódio que manchou de sangue a luta pela terra no Paraguai.

‘Tudo caminha para o ‘opá ri’ (‘nada’, em guarani), para a falta de interesse em investigar profundamente o que ocorreu lá e os que estiveram por trás do massacre’, disse à Agência Efe o dirigente da Liga Nacional de Carperos (camponeses sem terra) José Rodríguez.

‘Não acho que o governo tenha muito interesse em tratar’ do ocorrido, observou por sua vez o analista Alfredo Boccia.

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Seis policiais e 11 camponeses morreram em 15 de junho no confronto armado durante um despejo de camponeses sem terra que ocupavam uma fazenda do político e empresário Blas N. Riquelme, cuja propriedade o Estado disputa.

Uma semana depois, Lugo perdeu o cargo de presidente por ‘mau desempenho’ de suas funções, em um ‘julgamento político’ parlamentar no qual as mortes de Curuguaty e as ocupações de terras por parte dos camponeses foram parte essencial da acusação.

O ex-bispo que se tornou presidente em 2008 levantando a bandeira da luta dos ‘sem terra’ e outros oprimidos do Paraguai foi substituído no poder pelo liberal Federico Franco.

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‘Continuamos sem saber praticamente nada de Curuguaty’, contou à Efe Boccia, e lembrou que Franco desprezou ‘em seguida’ o que foi ‘a última tentativa de Lugo dar credibilidade à investigação’, convocando uma comissão de autoridades com apoio da OEA.

O ex-mandatário denunciou nesta semana que Curuguaty foi uma ‘conspiração para desestabilizar’ seu Executivo e Rodríguez insistiu hoje que houve intervenção de ‘infiltrados’ e de ‘franco-atiradores’ que atuaram para desencadear um tiroteio e ‘utilizar o episódio para atacar politicamente Lugo’.

‘Os camponeses viram seu líder cair e os policiais viram seu líder cair, e essa situação foi provocada’, continuou o líder sem terra, que reivindicou a libertação dos 12 camponeses detidos e a indenização também dos familiares das vítimas camponesas que, para o ativista, caíram na mesma ‘emboscada’ que os agentes policiais.

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O promotor que atua no caso, Khalil Amir Rachid, descartou nesta semana a atuação de franco-atiradores e disse que as armas usadas no tiroteio foram escopetas de caça.

Rachid pediu ao juiz, sem sucesso, a libertação de dois dos detidos por falta de provas.

Para Boccia, ’17 mortos não podem ser fruto de uma mera casualidade’, mas não existe ‘o menor sinal de que se trata de um complô da direita ou de uma elevação do nível de enfrentamento armado da esquerda’.

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No entanto, destacou: ‘se patirmos da hipótese de que o conflito de Curuguaty foi planejado, estamos diante de uma hipótese monstruosa que merece ser investigada muito seriamente porque terminou com a derrocada de um governo’.

O caso da fazenda de Curuguaty é típico do conflito pela terra no Paraguai, onde um terço das terras produtivas foi tomado de forma irregular durante a ditadura de Alfredo Stroessner (1954-89) e nos 15 anos posteriores, segundo um relatório de 2008 da Comissão da Verdade e Justiça (CVJ).

Até agora há questões sem respostas sobre quem são os verdadeiros proprietários de áreas como os quase 1.800 hectares de Curuguaty que os ‘carperos’ (sem terra) ocuparam, reivindicando serem do Estado e exigindo seu direito a recebê-las, segundo o previsto na reforma agrária.

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‘Campos Morombí’, uma das fazendas de Riquelme, possui 50 mil hectares na região e, em 2005, anexou os 1.800 hectares através de um processo de usucapião.

As terras haviam sido doadas em 1967 ao Estado e Riquelme ‘pretende se apropriar de forma ilegal’ delas com um processo no qual ‘foram vistas várias irregularidades e mentiras’, segundo a CJV.

Franco prometeu encerrar a reforma agrária e para isso tramita um cadastro rural antes de completar seu mandato, em agosto de 2013.

Para as vítimas de Curuguaty, até agora o que chegou foram cobertores e alimentos e a simpatia da primeira-dama, Emilia Alfaro, além de um confuso anúncio de entrega de terras que Franco prometeu realizar amanhã, após concluir as negociações com os camponeses e a família Riquelme.

Apesar de num primeiro momento parecer que Franco havia convencido Riquelme a ‘doar’ as terras, a família o desmentiu e o presidente observou que uma doação ‘seria injusta’ pois o empresário fez um ‘árduo trabalho’ na região.

Para Boccia, Franco só está pondo ‘panos quentes’ sobre a ferida aberta em Curuguaty, pois ele ‘representa exatamente o contrário do que o movimento camponês reivindica: é liberal, venera a propriedade privada e é próximo aos grupos latifundiárias’. EFE

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