Miguel F. Rovira.
Bangcoc, 13 nov (EFE).- A libertação da ativista birmanesa Aung San Suu Kyi, líder do movimento democrático de Mianmar, completa um ano neste domingo, marcado por sutis mas consideráveis mudanças no regime autoritário do país.
Um dos sinais mais claros de transformações neste país do Sudeste Asiático é o fato de que as fotografias da Nobel de Paz e chefe da Liga Nacional pela Democracia (LND) agora são vendidas abertamente nas ruas, o que há pouco tempo era punido com prisão.
Desde que Suu Kyi apareceu no muro de sua casa para uma multidão, minutos após os militares lhe comunicarem o final de uma prisão domiciliar de sete anos e meio, o novo governo de Thein Sein vem dando surpresas para a população.
Conhecida como ‘A Dama’, Suu Kyi tem suas fotos exibidas em capas de revistas, livros e símbolos do partido que lidera. ‘Ela é um símbolo para nosso futuro porque pode mostrar ao Governo o caminho correto que devem tomar’, diz à Agência Efe Hta Aung, um vendedor de livros que diz que gostaria de ver a líder política dirigindo o país.
Em sete meses à frente do Executivo, Thein Sein, um ex-general que fez parte da cúpula da dissolvida Junta Militar que regeu Mianmar durante duas décadas, suavizou algumas restrições às liberdades básicas e iniciou o diálogo com o movimento opositor liderado por Suu Kyi.
Thein Sein convidou a ativista em agosto para um diálogo. Dessa vez ela aceitou, diferente da recusa em negociar com seu antecessor e chefe da Junta, Than Shwe, no palácio presidencial na capital, Nay Pyi Daw. Para Suu Kyi, o desejo do atual presidente de estabelecer reformas é sincero.
Na semana passada, o governo emendou a lei de partidos políticos, que abre caminho à legalização da LND. O partido de Suu Kyi, que se mostrou satisfeito com as emendas, planeja manter uma reunião na próxima sexta-feira para decidir sua inscrição como partido para as eleições de 2012.
Uma das três cláusulas eliminadas desta lei proibia que qualquer pessoa condenada na Justiça participasse de um partido político, o que é o caso da Suu Kyi e de outros milhares de ativistas da oposição do regime militar.
A LND, que ganhou as eleições de 1990, se negou a expulsar Suu Kyi do partido e boicotou as eleições de novembro de 2011, qualificadas como uma farsa por diversos governos do ocidente. O pleito legislativo foi vencido pelo partido governista liderado por Thein Sein, que desempenhava o cargo de primeiro-ministro da Junta.
Agora a censura é menor, os sindicatos trabalhistas são legalizados e cerca de 200 presos políticos – dos 2 mil existentes – foram postos em liberdade graças a uma anistia que será aplicada ao longo dos próximos meses.
Apesar das reformas que permitiram o debate público sobre determinados assuntos políticos, Mianmar está ainda longe de ter o que se entende no Ocidente por um sistema democrático, segundo os ativistas da oposição.
‘Em Mianmar, não se registrou nenhum avanço democrático em várias décadas e, por enquanto, qualquer gesto neste sentido parece um grande progresso. O melhor que o governo fez foi libertar centenas de presos políticos, mas isso não muda o fato de que pelo menos 1,8 mil continuam presos’, diz o dissidente Naing Ko, exilado na Tailândia e membro da organização Campanha por Mianmar.
Os céticos, dentre eles os milhares de exilados que o governo convidou a retornar ao país, acreditam que as autoridades não pretendem instalar uma democracia real, mas fazer propaganda à comunidade internacional de que o país está se transformando apenas para conseguir a suspensão das sanções econômicas que impedem seu desenvolvimento.
Essas aparentes mudanças já estão dando seus resultados, que se refletem nas visitas oficiais de representantes dos Estados Unidos, União Europeia, Austrália, Japão e outros países, que se demonstram predispostos a melhorar suas relações com Mianmar, isolado durante décadas, tendo a China como sua maior aliada. EFE