Matteo Messina Denaro, o “último poderoso chefão” da máfia siciliana, acusado de orquestrar alguns dos crimes mais hediondos do grupo Cosa Nostra, morreu neste domingo 24, após uma luta longa contra um câncer, segundo a agência de notícias italiana Ansa.
O prefeito da cidade de L’Aquila, no centro da Itália, Pierluigi Biondi, disse que Denaro morreu em um hospital local após um agravamento de sua doença. Segundo ele, isso finalmente “põe fim a uma história de violência e sangue”.
Foi “o epílogo de uma existência vivida sem remorsos nem arrependimentos, um capítulo doloroso da história recente da nossa nação”, afirmou Biondi.
Denaro, 61 anos, ficou escondido por exatos trinta anos antes de ser detido em uma clínica de saúde privada em Palermo, onde recebia tratamento para um tumor sob o nome falso de Andrea Bonafede.
Em 8 de agosto, ele foi transferido da prisão de segurança máxima de L’Aquila para o hospital da cidade de San Salvatore, a piora de sua saúde “não era compatível” com o duro regime carcerário, de acordo com seu advogado, Alessandro Cerella.
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A Ansa reportou que, desde a noite de sexta-feira 22, Denaro estava em “coma irreversível”. Nos últimos dias, sua filha, que ele conheceu pela primeira na prisão, em abril, esteve ao seu lado. O jornal italiano Corriere della Sera informou que ele será enterrado no túmulo da família na cidade de L’Aquila, ao lado de seu pai, Don Ciccio, que também foi chefe da Cosa Nostra.
Apelidado de “Diabolik” ou “U Siccu” (o magro), Denaro nasceu em Castelvetrano, na Sicília, em 1962. Lá, prosperou com a construção de um império multibilionário e ilícito nos setores de coleta de lixo, energia eólica e varejo.
Em 2002, foi condenado e sentenciado à revelia à prisão perpétua por ter matado pessoalmente ou ordenado o assassinato de várias dezenas de pessoas. O mafioso teria afirmado certa vez: “Enchi um cemitério sozinho”.
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Durante o período em que estava foragido, de 1993 a 2023, aparentemente manteve um estilo de vida luxuoso, graças à amizade com vários banqueiros, políticos e empresários, segundo promotores italianos. Ele era conhecido por suas coleções de ternos caros, relógios Rolex e óculos Ray-Ban.
A busca para localizar Denaro foi complicada, devido à ausência de fotografias recentes. Usando fotografias tiradas no final dos anos 1980 e início dos anos 1990, as autoridades italianas reconstruíram a sua aparência com ferramentas digitais, utilizando as mais recentes tecnologias, bem como informações fornecidas por delatores da máfia. Ao longo dos anos, dezenas de pessoas foram presas em seu lugar em casos de erro de identidade.
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Poucos dias antes da prisão derradeira, contudo, os policiais carabinieri receberam uma denúncia decisiva: no dia 16 de janeiro, por volta das 8h, o suspeito iria a uma clínica para receber seu tratamento de câncer.
Tal como outros chefes da máfia siciliana, Denaro se recusou a cooperar com as autoridades e a expor os crimes da Cosa Nostra. Segundo informantes e promotores, ele estava por trás de alguns dos assassinatos mais atrozes perpetrados pelo grupo, incluindo os bombardeios que mataram os magistrados antimáfia Giovanni Falcone e Paolo Borsellino.
Investigadores temem agora que ele tenha levado esses segredos para o túmulo.