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UE quer contribuir com Fundo Amazônia, diz comissário a VEJA

Para Virginijus Sinkevicius, chefe de Ambiente, Oceanos e Pesca da União Europeia, contribuição com fundo seria 'chamado para toda a comunidade global'

Por Caio Saad Atualizado em 4 Maio 2023, 09h58 - Publicado em 4 Maio 2023, 09h35

Em rápida viagem ao Brasil para encontros com o alto escalão do governo brasileiro, Virginijus Sinkevicius, comissário de Ambiente, Oceanos e Pesca da União Europeia, reforçou o interesse do bloco em se juntar ao Fundo Amazônia, depois de acenos feitos recentemente pela presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen.

Em entrevista a VEJA em um hotel no Rio de Janeiro, Sinkevicius disse que ainda há “processos internos”, mas uma contribuição com o fundo é um “chamado para toda a comunidade global vir e ajudar a solucionar essa questão”.

O senhor se encontrou com o vice-presidente Geraldo Alckmin e ministros como Marina Silva e Mauro Vieira. Como vê o interesse do governo brasileiro em avançar em questões ambientais? 

Eu consigo sentir uma mudança porque é minha segunda vez no Brasil. Estive aqui há exatamente um ano, durante o governo Bolsonaro. Então, é claro que consigo comparar, e posso dizer que é possível ver grandes mudanças, especialmente na abordagem do governo, principalmente depois de conversar com a ministra do Meio Ambiente, Marina Silva.

Ela realmente tem uma visão. Ela sabe o que ela quer e como alcançar isso. É claro que estou feliz em apoiar os planos, mas tudo vem da liderança do presidente Lula. Tive a chance de conversar também com o vice-presidente Geraldo Alckmin e com o ministro (das Relações Exteriores) Mauro Vieira. Para uma mudança completa para maior sustentabilidade, acredito que você precisa de uma abordagem conjunta de todo o governo. E esse governo tem isso. Mas só vamos poder julgar quando os resultados aparecerem. Ainda é o começo.

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Os encontros envolveram, como esperado, um novo acordo global de plásticos? Houve avanços? 

Para ser sincero, não acho que nossa posição e a do Brasil, e do governo brasileiro, seja muito diferente nessa questão. Todos querem lutar contra a poluição de plásticos, que é uma questão crescente. Tive a oportunidade hoje de visitar um dos projetos que estão sendo feitos, aqui em um quiosque na praia de Copacabana. Como parte das negociações globais, teremos um encontro no final de maio em Paris. O que é preciso agora é encontrar o equilíbrio certo. 

E qual seria esse equilíbrio? 

Acredito que faltam objetivos claros para reciclagem, porque só assim a reciclagem faz mais sentido, porque você cria uma mentalidade para empresas. Hoje, se sua empresa, por exemplo, usa muito plástico, é mais barato comprar materiais virgens do que matérias-primas secundárias.

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O governo brasileiro tem sido enfático na necessidade de investir na reindustrialização do país, mas com a economia verde em mente. Como esse processo está sendo feito na Europa?

Um dos problemas que precisamos adaptar é a necessidade de nos afastarmos de uma economia linear para uma economia circular. Precisamos encontrar uma maneira de fazer produtos diferentes garantindo que durem mais, para que possam ser consertados, para que possam ser reutilizados, para que possam ganhar novos propósitos no final do ciclo de vida. É extremamente importante que isso seja feito no estágio de design. E é isso que estamos fazendo em nosso plano de ação de economia circular. No fim do dia, é muito importante o que acontece com o produto depois. Se ele for para o lixão, é o pior cenário possível, porque é uma perda de oportunidades que coloca ainda mais pressão sobre o meio ambiente. 

É impossível falar de uma economia verde sem falar do desmatamento, dado os números no Brasil, apesar de ações recentes. Como a União Europeia vê esse cenário? 

Eu apoio muito a iniciativa do presidente Lula desde o início, de investir seu tempo e energia para lutar contra o desmatamento na Amazônia. Há o Fundo Amazônia, e acho que é um passo importante porque é um chamado para toda a comunidade global vir e ajudar a solucionar essa questão. 

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A UE está, claro, considerando a quantia que vamos colocar na mesa para o Fundo Amazônia. O que é extremamente importante é que precisamos encontrar um equilíbrio, o governo brasileiro, em primeiro lugar, mas estamos prontos para contribuir e ajudar a encontrar o equilíbrio que acomode as necessidades das 20 milhões de pessoas que moram na região. 

Sobre o Fundo Amazônia, há uma estimativa de quando a UE vai entrar de fato? 

Precisamos passar por processos internos ainda, mas acho que a visita da presidente da Comissão Europeia (Ursula von der Leyen), em junho, será um reforço forte do ponto em que estamos.

No Brasil, a força do agronegócio é inegável, mas há certas preocupações sobre regulamentações europeias que impedem a compra de commodities ligadas ao desmatamento. Setores do agronegócio afirmam que a regulamentação pode afetar 40% das exportações para a Europa, e as regras não distinguem bem entre desmatamento legal e ilegal. Como o senhor vê isso? 

O jeito que nossa legislação é formada, claro, não é contra qualquer parte do mundo, qualquer país ou qualquer região. Na prática, é uma resposta muito simples para os europeus que dizem que não querem que seus padrões de consumo contribuam para o desmatamento global. 

É difícil para mim viajar o mundo falando sobre desmatamento, sobre a frustração, enquanto sei que algumas dessas commodities podem surgir no mercado europeu. Então, como sendo a causa do desmatamento, posso falar legitimamente sobre o desmatamento? Então tivemos que colocar na mesa uma legislação, que é o que fizemos. É uma declaração muito clara de que tomamos responsabilidade por nosso padrão de consumo. 

As regras da União Europeia têm provisões de ações para apoiar pequenos produtores. Como se dá essa cooperação? 

É importante que os pequenos produtores tenham apoio. Temos agora um período de um ano de transição, no qual investimos em capacitação, monitoramento, dados, para que esses pequenos produtores tenham facilidade para ajustar e continuar com acesso ao mercado europeu. Enquanto as commodities não vierem de terras desmatadas, não há problemas. Essa condicionalidade é muito rígida só para commodities que vieram de terras desmatadas.

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Em meio a diversas crises globais, acredita que há uma espécie de ‘fadiga climática’? 

Acho que alguns podem ter uma fatiga da guerra, porque a guerra está acontecendo na Europa há mais de um ano, outros podem estar cansados de falar sobre o clima, outros sobre falar da perda de biodiversidade. Mas esses assuntos não vão embora. Você pode ficar cansado, mas são problemas globais que vamos enfrentar por um bom tempo. Precisamos do apoio da população, do entendimento do que escopo dos desafios. Cansar de falar do tema não vai fazer ele desaparecer.

Historicamente, a Europa sempre subsidiou a agricultura local, enquanto criou barreiras para produtores estrangeiros. Em 2018, foram 38 bilhões de euros em pagamentos diretos a agricultores europeus. Como o Brasil pode entrar nesse cenário?

A Europa sempre foi um mercado aberto. Nunca tivemos um acordo de Livre Comércio, ou uma cordo comercial entre a Europa e o Brasil. Agora é o acordo com o Mercosul e acredito, completamente, que para nós é melhor ter esse acordo. Com a finalização, isso abre oportunidades gigantes para os negócios aqui no Brasil. 

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E como o acordo do Mercosul vai impactar a vida das pessoas na Europa e aqui? 

Na prática, é sobre acesso a um mercado grande, o que cria grandes oportunidades. Todo acordo tem que ser equilibrado. Se você perguntar do lado europeu, eles querem melhorar alguma parte, do lado do Mercosul, a mesma coisa. É normal. Se você olhar para o resultado geral, isso pode gerar oportunidades gigantes, pode construir uma ponte entre nós. Espero que os detalhes finais superem quaisquer discordâncias.

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